O Governatorato anuncia o lançamento de uma série de iniciativas e estratégias de economia de energia para proteger o meio ambiente no âmbito da Laudato si’ e da Laudate Deum. Entre os objetivos: uso responsável de recursos, projetos de eficiência energética e de reflorestamento e eliminação de resíduos. Também estão no plano mudanças na frota de carros do Estado para reduzir as emissões de CO2 por meio de uma parceria com o Grupo Volkswagen
O Estado da Cidade do Vaticano está comprometido há muitos anos com a promoção do desenvolvimento sustentável por meio de políticas ecológicas para proteger o meio ambiente e fornecer estratégias de economia de energia. Aplicando os princípios da Carta Encíclica Laudato si’ e da Exortação Apostólica Laudate Deum, está entre os primeiros Estados do mundo a buscar projetos de sustentabilidade, procurando soluções inovadoras que ajudarão a mudar a forma de trabalhar, cuidando da proteção da “Casa Comum”, adotando projetos que, também por meio do uso de tecnologias confiáveis e ecologicamente corretas, reduzirão concretamente o impacto da atividade humana sobre o meio ambiente. A ratificação da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática e os Acordos de Paris são a ponte entre as políticas ambientais e as indicações e recomendações do Santo Padre. O Governatorato está comprometido em alcançar a neutralidade climática por meio do uso responsável dos recursos naturais, da implementação de projetos de eficiência energética e da atualização de nossos ativos tecnológicos, da mobilidade sustentável, da diversificação e da aquisição de produtos energéticos mais limpos ou alternativos para o transporte, do descarte de resíduos e do desenvolvimento de futuros projetos concretos de reflorestamento.
Veículos elétricos na frota de carros do Vaticano
Para alcançar a neutralidade, serão necessários investimentos em instalações tecnológicas que utilizem energias renováveis, compensando as emissões produzidas em uma área e reduzindo-as em outra, mas, acima de tudo, promovendo a mobilidade elétrica e híbrida. Por esse motivo, o Governatorato lançou um programa de desenvolvimento de mobilidade sustentável chamado “Conversão Ecológica 2030”, também projetado para reduzir o impacto de CO2 de sua frota de veículos. Para isso, pretende: substituir gradualmente os carros de propriedade do Estado por veículos elétricos, a fim de tornar sua frota de carros neutra em carbono até 2030; implementar sua própria rede de recarga no território do Estado e em áreas extraterritoriais e estender o uso a seus funcionários; garantir que suas necessidades de energia venham exclusivamente de fontes renováveis.
Um parceiro estratégico para a mobilidade sustentável
O Grupo Volkswagen – que tem como objetivo se tornar uma empresa com emissões zero de carbono até 2050 e reduzir a pegada de carbono de seus veículos em 30% até 2030 – é o primeiro parceiro estratégico para o projeto de renovação da frota de carros do Estado com veículos das marcas Volkswagen e Škoda por meio da fórmula de aluguel de médio e longo prazo. Esta quarta-feira, 15 de novembro, um acordo de parceria foi assinado com o Grupo Volkswagen, como parte do programa de desenvolvimento da mobilidade sustentável, que é uma das medidas que o Governatorato tomou para reduzir concretamente o impacto da atividade humana no meio ambiente.
No mesmo século em que Nossa Senhora do Bom Sucesso profetizara: “Quase não haverá almas virgens no mundo”, o Brasil viu algumas mulheres resistirem até o derramamento do próprio sangue para conservar intacta a sua virgindade. Conheça-as.
No mesmo século em que Nossa Senhora do Bom Sucesso profetizara: “Quase não haverá almas virgens no mundo”, o Brasil viu algumas mulheres resistirem até o derramamento do próprio sangue para conservar intacta a sua pureza e virgindade.
Quatro delas foram beatificadas pela Igreja em tempos recentes (2007 e 2022), confirmando a imemorial teologia católica do martírio, segundo a qual é melhor perder tudo, inclusive a própria vida, que ofender a Deus com um único pecado mortal.
Para que a vida dessas virgens e mártires possa inspirar a nossa infância e juventude, repassemos rapidamente as suas biografias.
Beata Albertina Berkenbrock († 1931)
A “Maria Goretti do Brasil” nasceu a 11 de abril de 1919, na zona rural de Imaruí, Santa Catarina, numa família de origem alemã, simples e profundamente cristã. Desde muito cedo, todos notavam sua particular bondade e mansidão, advinda da boa educação religiosa que recebera dos pais. A pequena Albertina ajudava-os no trabalho dos campos e especialmente em casa, sempre com docilidade, obediência e prontidão. Também chamava a atenção sua paciência: até quando os irmãos batiam nela, a menina sofria em silêncio, unindo-se aos sofrimentos de Jesus, a quem amava de todo o coração.
Graças a iniciativa do Papa São Pio X, Albertina pôde receber a Sagrada Comunhão desde a mais tenra idade — mais especificamente, aos 9 anos. Era notável sua piedade e recolhimento quando recebia Jesus sacramentado, e foi esse, sem dúvida, o grande segredo de sua força no fatídico evento que culminou em sua morte, a 15 de junho de 1931.
Nesse dia, Albertina estava apascentando os animais da família, quando o pai lhe disse para sair à procura de um boi que havia se distanciado do terreno. A menina obedeceu e, no campo vizinho, encontrou Idanlício Cipriano Martins, a quem perguntou se vira o animal passar por ali. (Idanlício atendia pelo nome de Manuel, ou Maneco, tinha 33 anos e vivia com a esposa perto da casa dos Berkenbrock. Embora já tivesse matado uma pessoa, era considerado por todos um homem honesto e trabalhador. Seus filhos, aliás, brincavam com Albertina, e a menina ia às vezes levar comida à casa dele.)
Nesta oportunidade, porém, para disfarçar o projeto mau que já trazia no coração, Maneco se ofereceu para ajudar a menina, levou-a até um bosque próximo e convidou-a para se deitar com ele. A menina disse que não e, por isso, Maneco puxou-a pelos cabelos e jogou-a no chão. Como continuasse a resistir, ele pegou então um canivete e cortou-lhe o pescoço. A menina morreu imediatamente.
Enquanto o corpo da menina era velado, Maneco procurou ficar perto da casa, para demonstrar sua “inocência”. Mas, toda vez que se aproximava do cadáver de Albertina, a grande ferida no pescoço dela começava a sangrar de novo. Depois que foi descoberto e preso, o assassino revelou aos companheiros de prisão: Albertina não consentiu em deitar-se com ele dizendo que isso era “pecado”.
A menina foi beatificada em 20 de outubro de 2007, pelo Papa Bento XVI.
Beata Benigna Cardoso da Silva († 1941)
Enquanto Albertina recebia no Sul a Primeira Comunhão, nascia em Santana do Cariri (Ceará), Benigna Cardoso da Silva, a 15 de outubro de 1928.
A Bem-aventurada Benigna Cardoso da Silva, martirizada aos 13.
Mais nova de quatro irmãos, Benigna ficou órfã muito cedo, perdendo o pai antes mesmo de nascer e a mãe com apenas um ano de idade. Ela e os irmãos foram adotados, então, pelas senhoras Rosa e Honorina Sisnando Leite, proprietárias do sítio em que viviam, e por elas foram cuidadosamente bem educados, frequentando tanto a escola quanto a igreja. Benigna cresceu como aluna devota e fiel, participando com assiduidade da Santa Missa e das atividades da paróquia Sant’Ana. Também fazia trabalhos domésticos, auxiliando as duas senhoras idosas que a haviam adotado.
Aos doze anos, foi abordada por um rapaz prepotente, que começou a importuná-la. Benigna, que não tinha interesse em começar um relacionamento em tão tenra idade, rejeitou-o. Procurou a orientação de seu pároco, e este a aconselhou a resistir.
Todavia, o jovem continuou a pressioná-la cada vez mais, chegando mesmo a ficar violento. Depois de várias tentativas infrutíferas, na tarde de 24 de outubro de 1941, quando soube que Benigna ia tirar água de um poço, decidiu ocultar-se em meio à vegetação e esperar por ela. Surpreendeu-a, então, e tentou agarrá-la à força, mas Benigna mostrou uma resistência notável. Tomado pela fúria, enfim, o jovem pegou um facão que trazia consigo e desferiu-lhe quatro golpes: o primeiro cortou três dedos da mão direita da menina, que tinha feito um gesto automático de defesa; o segundo atingiu-lhe a testa; o terceiro, os rins; e o quarto e fatal, no pescoço, praticamente cortou a sua garganta. Quando se deu conta do que havia feito, o assassino fugiu.
O corpo da pequena Benigna, de treze anos, foi encontrado pelo irmão, que tinha saído à sua procura. Alguns dias mais tarde, seu assassino foi apanhado e preso. Cinquenta anos depois, o homem regressou ao local do crime, que tinha se tornado um centro de peregrinação, e expressou publicamente o seu arrependimento.
Benigna Cardoso da Silva foi beatificada no mesmo dia em que morreu, em 2022.
Bem-aventurada Isabel Cristina († 1982)
Isabel Cristina Mrad Campos nasceu a 29 de julho de 1962, em Barbacena, Minas Gerais, no seio de uma família de condição econômica modesta.
Frequentou desde muito cedo sua igreja paroquial, fazendo parte do grupo de jovens da Sociedade de São Vicente de Paulo. Também ia sempre ao Mosteiro da Visitação, rezava em família e confessava-se regularmente.
Seu sonho era ser médica pediatra. Por isso, assim que concluiu o antigo “colegial” (atual ensino médio), mudou-se para Juiz de Fora, a fim de fazer um curso pré-vestibular para medicina. Aí passou a viver, com o irmão, numa casa comprada pela família.
Aconteceu porém que, para mobiliar a casa, a família tinha contratado uma empresa, e esta enviou à sua residência um homem chamado Maurílio Almeida Oliveira. No primeiro dia em que fora montar os móveis, a jovem Isabel Cristina, já perturbada com a sua atitude invasiva, permaneceu em oração o tempo todo — como ela mesma contou aos amigos e familiares.
Dois dias depois, porém, em 1.º de setembro de 1982, o montador de móveis, sabendo que ela estava sozinha, voltou já disposto a violentá-la. Chegou ao apartamento por volta das 15h, conseguiu que ela abrisse a porta, ligou a TV no volume máximo e, por fim, atacou-a.
De acordo com a investigação, o assassino bateu na cabeça de Isabel, amarrou-lhe as mãos, pôs-lhe uma mordaça, arrancou-lhe as roupas íntimas, arranhou-lhe os membros inferiores e, depois, esfaqueou-o treze vezes nas costas e no abdômen, desferindo ainda mais duas facadas na região da pelve. A autópsia revelou que, apesar da ferocidade do ataque, a jovem tinha conseguido preservar intacta a sua virgindade — uma consequência da virtude da castidade, que ela já trazia como hábito em sua vida.
A Igreja beatificou Isabel Cristina no dia 10 de dezembro de 2022.
Beata Lindalva Justo de Oliveira († 1993)
Nascida na região rural de Assú (Rio Grande do Norte), em 20 de outubro de 1953, Lindalva era a sexta de treze irmãos. No seio da família aprendeu as primeiras orações e rudimentos da fé. Seu pai lia a Bíblia com frequência para todos os filhos e levava-os à Santa Missa. Com a mãe, aprendeu a cuidar dos mais pobres e ajudá-los em suas necessidades — ofício que viria a se tornar a sua vocação pelo resto da vida.
Já na idade adulta, mudou-se para Natal, época em que passou a frequentar a casa das Filhas da Caridade e o asilo de idosos em que elas trabalhavam. Depois de assistir amorosamente o pai, vítima de um câncer, nos últimos meses de sua vida, Lindalva começou a refletir mais seriamente sobre a vocação e o sentido da própria vida. Aos 33 anos, então, pediu a admissão ao postulantado das Filhas da Caridade, e efetivamente o começou a 11 de fevereiro de 1988, na casa provincial de Recife.
Durante esse período, edificou bastante todas as suas companheiras, refulgindo por sua especial alegria e prontidão no cuidado para com os pobres. Comprometeu-se a servir os mais necessitados de uma favela, chegando inclusive a transportar tijolos para a construção de casas no bairro — tudo isso acompanhado de uma intensa vida de oração.
Em 1991, já como noviça, Lindalva foi transferida para Salvador, Bahia, a fim de prestar seus serviços num asilo de idosos. Era notável a cordialidade com que a irmã tratava todas as pessoas, realizando os trabalhos mais humildes e fomentando nos idosos de que cuidava a oração e recepção contínua dos sacramentos.
Todavia, em janeiro de 1993, chegou ao asilo um homem chamado Augusto da Silva Peixoto, o qual, embora não tivesse direito a entrar devido à sua idade (46 anos), obtivera uma recomendação para ser acolhido. A Irmã Lindalva procurou tratá-lo com a mesma cortesia que dispensava aos outros hóspedes, mas este senhor, de caráter difícil, apaixonou-se pela jovem religiosa.
Começou para ela, então, um período muito difícil de provações. Compreendendo as intenções de Augusto, primeiro Lindalva tentou fazê-lo compreender que era totalmente consagrada a Deus. Mesmo com medo do homem, não queria deixar o asilo, pois amava as obras de caridade que fazia. “Prefiro que meu sangue seja derramado do que afastar-me daqui”, confessou a uma das irmãs.
Ante o comportamento de Augusto, Lindalva advertiu o diretor de serviço social do asilo, o qual chamou a atenção do senhor — e este prometeu corrigir-se. Mas, nos dias anteriores à Semana Santa, cresceram nele a raiva e o ódio, bem como o desejo de vingar-se.
Na Sexta-feira Santa, então, dia 9 de abril, com uma peixeira que havia comprado dias antes, Augusto dirigiu-se até o pavilhão onde Irmã Lindalva servia aos idosos o café da manhã e esfaqueou-a pelas costas, acima da clavícula. A faca atravessou-lhe a jugular e penetrou profundamente em seu pulmão. Tomado por um frenesi diabólico, então, o homem continuou a feri-la em vários lugares. (Os médicos legistas identificaram nada menos que 44 perfurações em todo o seu corpo.) As pessoas que estavam ao redor tentaram intervir, mas o assassino ameaçou matar quem quer que se aproximasse. No tribunal, Augusto declarou que tinha assassinado a religiosa precisamente por causa da rejeição que sofrera.
Já no dia seguinte, Sábado Santo, ao celebrar as exéquias de Lindalva, o Cardeal Lucas Moreira Neves, então arcebispo de Salvador, não pôde deixar de relacionar o martírio da religiosa com a Paixão de Cristo.
No dia 2 de dezembro de 2007, o Papa Bento XVI beatificou-a, e a data de sua comemoração — ainda não inscrita no calendário litúrgico do Brasil — ficou sendo 7 de janeiro, aniversário de seu batismo.
* * *
A história dessas mulheres, que tiveram seu sangue derramado em nosso solo por amor a Cristo, devem lembrar-nos o tesouro que são a pureza e a fidelidade aos mandamentos de Deus.
Sim, porque, ao contrário do que nos poderia fazer crer uma perspectiva naturalista dessas biografias, não foi a mera brutalidade que elas sofreram a razão de seu martírio e beatificação por parte da Igreja. (Se assim fosse, todas as vítimas de crimes bárbaros deveriam ser alçadas à posição de heroínas.)
Não, o que faz brilharem essas mulheres é a sua fé sobrenatural e grande amor a Deus. Num raciocínio puramente natural, bastaria colocar na balança, de um lado, a sua vida biológica, e, de outro, a sua integridade física. — E é óbvio que a primeira é mais importante que a segunda! Mas não foi isso o que pensaram essas nobres cidadãs do Céu! Sua motivação foi sobrenatural: a vida da graça é mais importante que a do corpo; portanto, é melhor perder esta que aquela.
Quando tantos, dentro da própria Igreja, advogam a mutilação da doutrina moral católica, relativizam o pecado e falam dos mandamentos e da santidade como “ideais” praticamente impossíveis de ser seguidos, que as vidas (e mortes) da Beata Albertina, Beata Benigna, Beata Isabel Cristina e Beata Lindalva sirvam-nos de modelo e incentivo para a virtude. E que, do Céu, elas também roguem por nós junto a Deus.
O que quer dizer a expressão “temor de Deus”, tão repetida pelas Escrituras e pelos santos da Igreja? Por acaso devemos “sentir medo” de Deus? Não seria isso contrário ao mandamento do amor, que é o maior de todos os preceitos?
As Escrituras dizem que “o temor de Deus é o princípio da sabedoria” (Sl 110, 10) e a Igreja, por sua vez, enumera este como um dos sete dons do Espírito Santo.
A alguns ouvidos, porém, a expressão “temor de Deus” pode soar estranha. O que ela realmente significa? Por acaso devemos “sentir medo” de Deus? Não seria isso contrário ao mandamento do amor, que é o maior de todos os preceitos?
A resposta precisa a esses questionamentos todos podemos encontrar, como de costume, na obra de Santo Tomás de Aquino. Antes de apreciarmos o que o Aquinate diz a respeito desse assunto, no entanto, permita-nos compartilhar com vocês, leitores, a grande alegria de pertencer a esse edifício maravilhoso que é a Igreja de Cristo. Não é confortante descobrir que as dúvidas que encontramos em nossa caminhada na Fé já foram respondidas pelos místicos e doutores da Igreja, e que nós não precisamos “construir” nem “inventar” coisas novas? Que Deus não só inspirou os autores da Bíblia, mas também os seus intérpretes, para que pudéssemos chegar todos ao conhecimento da Verdade?
Como é bom viver na segurança da doutrina católica de dois mil anos!
Mas retomemos o fio da meada.
Em primeiro lugar, o testemunho das Escrituras é muito claro: Deus deve sim ser temido. Para confirmá-lo, Santo Tomás cita pelo menos dois versículos bíblicos: “Quem não te temerá, ó Rei das nações?” (Jr 10, 7) e “Se eu sou o Senhor, onde está o temor que me é devido?” (Ml 1, 6).
É óbvio que não vale, para contradizer essas passagens, dizer que elas “estão no Antigo Testamento”, como se as palavras que Deus inspirou aos patriarcas e profetas valessem menos que as do Novo; ou como se o Deus de Abraão, Isaac e Jacó fosse diferente do Deus que se fez carne e veio fazer morada no meio dos homens — Jesus Cristo. O que precisamos fazer, como bons católicos, é ler em sintonia tanto as páginas do Velho quanto as do Novo Testamento. Se algo parece entrar em contradição — coisa que acontece não poucas vezes a quem tem o hábito de ler e meditar as Escrituras —, “mãos às obras” dos bons teólogos, que são os santos. Eles podem nos ajudar a compreender o que diz a Palavra de Deus.
Perguntemos, pois, de modo diferente: como deve Deus ser temido?
A resposta do Doutor Angélico é de uma clareza cristalina. O temor é algo colocado nos seres humanos para que eles fujam do mal. Ora, Deus é o sumo Bem, não devendo ser temido, portanto, como se fosse um assaltante ou uma pessoa má, mas só enquanto “podemos ser ameaçados de um mal, quer proveniente dele, quer relativamente a ele” [1]: quer um castigo nesta vida, portanto, quer a separação de Deus, que acontece quando caímos na desgraça do pecado mortal.
A melhor analogia para entendermos em que consiste o temor de Deus é considerar a obediência que devemos aos nossos pais, especialmente se ainda moramos na mesma casa que eles. Podemos temer uma punição que venha de suas mãos, caso façamos algo de errado (temor servil); ou mesmo temer que sejamos separados deles, já que os amamos e queremos bem (temor filial). Aquele primeiro temor, explica o pe. Royo Marín, “ainda que imperfeito, é bom em sua substância, já que nos faz evitar o pecado e se ordena a Deus como fim” [2]. Todos os cristãos, porém, precisamos sair desse estágio para vivermos plenamente nossa vocação de filhos de Deus, que cumprem os Mandamentos não simplesmente por temerem o chicote, mas principal e predominantemente por amarem a Deus.
É nesse sentido que São João afirma que “o perfeito amor lança fora o temor, pois o temor implica castigo, e aquele que teme não chegou à perfeição do amor” (1 Jo 4, 18); e que Santa Teresinha do Menino Jesus, já ao final de sua vida, confessa: “Não posso temer a um Deus que se fez tão pequenino por mim… Amo-o!… Pois ele é só Amor e Misericórdia!” [3].
O temor filial, no entanto, é um dom do Espírito Santo e integra o organismo espiritual que nos faz amigos de Deus. Por isso, os santos — todos eles, sem exceção — temeram ao Pai do Céu. Evidentemente, não com o temor de Adão e Eva, que se esconderam da face divina por verem nEle um inimigo ou um adversário (cf. Gn 3, 8). O sadio temor de Deus é o que tinha a Virgem Maria, que proclamou em seu Magnificat: “Sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem (timentibus eum)” (Lc 1, 50).
Santo temor de Deus é o que tinha São João Maria Vianney, quando rezava:
“Eu Vos amo, Senhor, e a única graça que Vos peço é a de amar-Vos eternamente.
Eu Vos amo, meu Deus, e desejo o céu para ter a felicidade de Vos amar perfeitamente.
Eu Vos amo, meu Deus infinitamente bom, e temo o inferno porque lá não haverá nunca a consolação de Vos amar.” [4]
Não me move, meu Deus, para querer-te
O céu que me hás um dia prometido;
E nem me move o inferno tão temido
Para deixar por isso de ofender-te.
Tu me moves, Senhor, move-me o ver-te
Cravado nessa cruz e escarnecido
Move-me no teu corpo tão ferido
Ver o suor de agonia que ele verte.
Moves-me ao teu amor de tal maneira,
Que a não haver o céu ainda te amara,
E a não haver o inferno te temera.
Nada me tens que dar porque te queira;
Que se o que ouso esperar não esperara,
O mesmo que te quero te quisera.
Essas orações, feitas por pessoas de grande caridade, mostram como o temor filial, ao contrário do servil, anda sempre de mãos dadas com o amor. Quem ama, afinal, está unido à pessoa amada — já que a união é o ato próprio do amor — e a coisa que mais teme é ver-se separado do objeto amado. Por isso, São Domingos Sávio, desafiando o mundo, assumia o compromisso de “antes morrer do que pecar“, tão grande era o seu amor a Deus e o medo de perder a sua amizade pelo pecado.
Quanto a nós, procuremos trilhar o mesmo caminho de amor que seguiram os santos, determinando-nos a perder tudo para não ofendermos a Deus, que é o único verdadeiro Bem de nossas almas. Até que, no Céu, não nos reste senão o temor reverencial de criaturas, uma vez que estaremos permanentemente unidos a Deus, e desta vez para sempre, sem possibilidade nenhuma de separação.
“Tenho marcas na alma, registradas com calma, por tuas mãos de mulher” (Pe. Fábio de Melo)
Comunicamos que após uma longa e pungente batalha contra o câncer, Dona Maria do Céu Rodrigues, mãe do Padre Kleber, entregou sua alma docemente nas mãos de Deus. Nas próximas horas divulgaremos maiores informações sobre o velório e o sepultamento que serão realizados na cidade de Remígio-PB.
Que as almas dos fiéis defuntos, pela misericórdia de Deus, descansem em paz.
R.I.P.
O hiper-realismo da tecnologia de vídeo levou à irrealidade e à neutralização do campo visual. Tudo é “projetado” para ser consumido. Os ícones sagrados não são projetados e não podem ser consumidos. São escritos para a nossa purificação, iluminação e união com Deus.
Vivemos num mundo saturado de imagens superficiais, inundado com “ruído visual”. O problema dessa situação é que a oração, o dever básico do cristão, requer certa tranquilidade e indiferença interior, uma espécie de vazio expectante que busca ser preenchido. Se não encontrarmos maneiras de nos centrarmos em Deus, iremos nos distrair com milhões de coisas vãs e perderemos a conexão vital com a fonte do nosso ser e da nossa salvação.
Sem dúvida, é a graça que faz com que nos voltemos para Deus. Porém, isso é ao mesmo tempo uma função de nosso livre-arbítrio, a aplicação voluntária das potências da nossa alma aos atos de fé, esperança e caridade. E, como somos seres físicos, precisamos de auxílios físicos, não somente ideias rarefeitas e boas intenções.
[É aí que] entra em cena o ícone. Embora em geral as pessoas pensem no ícone como algo específico do cristianismo oriental, trata-se de uma herança comum do primeiro milênio da fé, e que continua fazendo parte da tradição ocidental ou latina, ainda que em formas modificadas. Todos os cristãos podem se beneficiar com a veneração dos ícones, pois eles apresentam aos olhos do nosso corpo e da nossa mente Cristo nosso Deus, sua Santa Mãe e as multidões de santos e anjos que habitam a Jerusalém celeste. Como explica Linette Martin:
O ícone nos direciona para algo que está além dele; nós reconhecemos isso, e espera-se que respondamos. A resposta pode ser fé, ou descrença, ou louvor, ou admiração, ou oração, ou encorajamento, ou temor do Juízo Final, ou questões sobre a doutrina cristã. O ícone insiste que respondamos tanto com a mente quanto com as emoções. Os ícones não se dirigem apenas ao instinto; são a arte do homem que pensa. É isso o que diferencia o ícone — no que diz respeito à sua motivação e ao seu efeito — de outras imagens religiosas, e é por isso que algumas pessoas não gostam de ícones: preferem que a arte cristã seja decorativa e pouco exigente. A Igreja Ortodoxa ensina que um ícone é uma porta bidirecional de comunicação que não só nos mostra uma pessoa ou um evento, mas torna-o presente. Quando estamos diante de um ícone, estamos em contato com aquela pessoa e participamos daquele evento. O evento histórico do Natal torna-se presente para nós aqui e agora, quando olhamos para um ícone da Natividade. O que chamamos de ‘nosso mundo’ e de ‘mundo espiritual’ abrem-se um para o outro [i].
Pantocrator do Monte Sinai.
Há muito a ser dito sobre os ícones, e por essa razão eu retornarei ao assunto mais de uma vez para explorar suas várias facetas. Hoje, quero simplesmente me concentrar no mais antigo ícone que existe do Cristo Pantocrator (“Juiz de todos”) [imagem ao lado].
Datando do século VI, esse impressionante ícone é um dos poucos existentes até hoje que precedem o concílio ecumênico que proclamou definitivamente a legitimidade e, de fato, a necessidade dos ícones (o Segundo Concílio de Niceia, realizado no ano 787). Ele só foi preservado da destruição iconoclasta graças a sua remota localização no mosteiro de Santa Catarina, no Monte Sinai — o qual possui milhares de ícones antigos (muitos deles, como este, pintados com cera colorida).
A face de um homem é o centro visual de seu corpo, não seu tórax, abdômen ou membros. Portanto, a face do Deus-homem domina esse painel, realçada por uma auréola. Michel Quenot diz o seguinte em The Icon: Window of the Kingdom [“O Ícone: Janela para o Reino”, sem edição no Brasil]:
Os antigos gregos chamavam um escravo de aprosopos, isto é, aquele que não tem rosto. Portanto, ao assumir os traços de um rosto humano, Deus restaurou para nós um rosto à sua imagem, já que estávamos acorrentados como escravos sem rosto (aprosopos) por causa do pecado.
Exagerando o fato bem conhecido de que nenhum rosto humano é plenamente simétrico, o ícone nos apresenta a verdade plena de Cristo em sua justiça e em sua misericórdia. No lado onde Cristo segura o Evangelho, seus traços são duros e severos, representando o Juiz que tudo vê e pune os perversos. A expressão no lado que mostra a mão a abençoar é calma e serena, representando o Cristo em seu papel de salvador misericordioso. A evidente tridimensionalidade do Evangelho representa a humanidade do Senhor e sua entrada no espaço e no tempo, enquanto a bidimensionalidade do lado que abençoa representa sua divindade, que está fora do espaço e do tempo.
Mais uma vez, Linette Martin nos ajuda a entender por que o iconógrafo adota essa abordagem surpreendente:
Medo e amor parecem extremidades opostas de uma linha, mas na oração essa linha se transforma num círculo […]. Amar o que é maior do que nós deveria ser uma experiência amedrontadora, se tivéssemos um senso de proporções adequado. Houve quem zombasse dos artistas medievais do Ocidente por retratar a Deus como um velho homem de barba, mas acaso somos melhores [que eles], imaginando o Criador do universo como um papai benévolo inteiramente ao nosso dispor? Os profetas, Apóstolos e iconógrafos iriam chorar e gemer ante uma tal presunção. Ocupados como estamos em ser “amiguinhos” de Deus, podemos esquecer quem Ele é — e isso seria perigoso […]. Basta um olhar em direção ao Cristo Pantocrator para cairmos de joelhos em adoração, uma palavra que transmite a ideia de um amor temeroso. Os maiores ícones de Cristo reúnem duas qualidades aparentemente opostas: a justiça e a misericórdia. Eles nunca são duramente formidáveis, mas tampouco são sempre sentimentais [ii].
Em vez de afastar-se de nós numa perspectiva “naturalista”, o livro dos Evangelhos se projeta para frente, como se estivesse se precipitando em nossa direção. Essa perspectiva “inversa” cruza o vão entre o espectador e a imagem, fazendo com que sejamos tomados por seu significado e “forçados” a nos envolver. Cristo está entrando no mundo, não se afastando dele; vem ao mundo para ensinar, abençoar, ordenar, salvar e julgar. Nossa resposta deve ser o silêncio do ouvinte para acolher sua bênção, obedecer a suas ordens, implorar sua misericórdia e adorar a sua santa Presença.
Como os ícones são um testemunho da realidade da Encarnação, é muito conveniente e vantajoso para a oração ter um ícone de madeira maciça, um objeto real e permanente que possamos segurar, perante o qual possamos nos curvar e beijar, em vez de impressões em papel ou imagens numa tela (como esta) [iii].
O mundo moderno, com suas imagens tremeluzentes — TV, filmes, comerciais, programas de computador —, compete com o dos ícones sagrados por nossa atenção. [Mas] a atenção que você tem a dar é limitada; a quem você a dará? Em que você está se concentrando?
O hiper-realismo da tecnologia de vídeo levou à irrealidade e à neutralização do campo visual. Tudo é “projetado” para ser consumido. Os ícones sagrados não são projetados e não podem ser consumidos. São escritos para a nossa purificação, iluminação e união com Deus. São riquezas inesgotáveis que não podemos “possuir”. Eles escancaram uma janela para uma realidade celestial que é maior do que o nosso mundo. São capazes de restaurar nossa humanidade, que sempre corremos o risco de perder, como os escravos sem rosto. Além dessa função curativa, os ícones sagrados, juntos com a divina liturgia e os santos sacramentos, nos divinizam.
Se quisermos que os nossos olhos e ouvidos se habituem à luz e à voz de Deus, precisamos “jejuar” do alimento espiritual de má qualidade (como os filmes e a música pop) e deleitar os nossos sentidos com imagens e sons verdadeiramente nutritivos e agradáveis à alma — objetos que sejam mais adequados à dignidade e superioridade de nossa alma imortal e de nosso destino eterno.
O 4º Encontro Nacional de Coordenadores e Assessores (Arqui)Diocesanos da Pastoral da Comunicação reuniu mais de 150 pessoas, de forma virtual, na quinta-feira, 09 de novembro. A atividade promovida pela Pastoral da Comunicação (Pascom) Brasil foi conduzida pela coordenação nacional, com a presença dos coordenadores dos Grupos de Trabalho (GTs) e subgrupos. Participaram representantes de 115 dioceses, arquidioceses e prelazias de 17 regionais da Igreja no país.
A Comissão Episcopal para a Comunicação Social (CEPAC) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por meio dos assessores, e do bispo da diocese de Guarapuava (PR), dom Amilton Manoel da Silva, também acompanhou o encontro. Após a acolhida inicial, aconteceu a “Pausa Espiritual”, momento de oração com o tema do Dia Mundial das Comunicações Sociais 2023: “Falar com o coração”.
O processo sinodal que convida a exercer o ministério da escuta permeou o 4º Encontro Nacional. Logo depois do momento de oração, os pasconeiros de todo o Brasil puderam partilhar sobre a realidade eclesial da comunicação e a experiência pastoral seja na nucleação, formação, organização e rearticulação da Pastoral da Comunicação.
“Ousadia evangélica de comunicar”
Dom Amilton, que na CEPAC tem a função de acompanhar a Pascom, recordou a importância da missão da Pastoral da Comunicação em todos os rincões do Brasi. Segundo ele, foi a pastoral que mais cresceu durante a pandemia e, neste pós, num momento de ressignificação, é como que uma estrutura que abraça a evangelização nos regionais e nas dioceses.
“Estamos nesse momento de encantamento e reencantamento pela ação da comunicação na vida da Igreja. Não se faz evangelização sem a comunicação. Não acontece uma ‘Igreja em saída’ sem cuidar da comunicação. Parabéns por essa ousadia de levar adiante a comunicação”, salientou.
O bispo recordou um desafio lançado pelo núncio apostólico no Brasil, Dom Giambattista Diquattro: a Pascom é chamada a ajudar a superar as fake news e as polarizações. “A missão do comunicador nasce do amor pela Igreja e pelo Cristo. Deus abençoe vocês!”, concluiu.
Confira a íntegra da mensagem de dom Amilton:
Tecer laços e construir comunidades
Na sequência, o coordenador-geral, Marcus Tullius apresentou as ações realizadas pela Pascom Brasil, sobretudo no âmbito das parcerias com os demais organismos da Igreja, dentre eles a equipe do Ano Vocacional do Brasil, a Jornada Mundial dos Pobres, o setor de Campanhas e algumas comissões da própria CNBB. A partir disso, Tullius apresentou o objetivo-geral da Pastoral da Comunicação para 2024:
“a partir de Jesus Cristo, tecer laços e construir comunidades, por meio da comunicação, em espírito sinodal, anunciando a alegria do Evangelho nas comunidades eclesiais missionárias”.
Foram apresentadas as ações de cada um dos GTs: Espiritualidade, Formação, Articulação e Produção. Marcus pontuou o objetivo de cada um dos colegiados, que têm a função de fortalecer a ação da Pascom Brasil.
Data e local do 8º Encontro Nacional da Pascom
Durante o 4º Encontro Nacional de Coordenadores e Assessores (Arqui)Diocesanos de Comunicação também foram apresentadas as datas importantes para a Pascom em 2024. Entre os meses de janeiro e maio, o desenvolvimento da campanha de comunicação, subsídios e ações que envolvem o 58º Dia Mundial das Comunicações Sociais, marcado para 12 de maio, quando a Igreja celebra a Ascensão do Senhor. Em julho, de 12 a 14, o Santuário Nacional de Aparecida irá acolher o 8º Encontro Nacional da Pascom, com a temática: “Pastoral da Comunicação em uma mudança de época: desafios e perspectivas”.
Marcus ainda detalhou ações que serão realizadas no contexto da formação e da produção, com a retomada dos encontros virtuais do projeto “Conexão Pascom”, de março a novembro. Também foi apresentada a proposta da organização de um banco de dados das escolas de comunicadores diocesanas e de facilitadores para alargar o intercâmbio cultural e eclesial.
A conclusão foi feita num momento de espiritualidade conduzido pela assessora da CEPAC, Osnilda Lima. Ela recordou a importância da oração pela paz em todo o mundo e, como pede o Papa Francisco, a favor dele. O próximo Encontro Nacional de Coordenadores e Assessores (Arqui)Diocesanos de Comunicação tem previsão de acontecer em outubro de 2024.
Na manhã desta segunda-feira (13), Francisco recebeu as Irmãs Educadoras de Notre Dame no Vaticano. O Papa destacou o exemplo de fidelidade deixado pela fundadora do instituto e encorajou as religiosas “a continuar a ser testemunhas corajosas da solidariedade evangélica, em um momento em que muitos experimentam fragmentação e desunião”.
As Irmãs Educadoras de Notre Dame (School Sisters of Notre Dame) estão reunidas em Roma por ocasião do 25º Capítulo Geral. Nesta segunda-feira, 13 de novembro, as religiosas foram recebidas no Vaticano pelo Papa Francisco.
Ao saudá-las, o Pontífice recordou o legado da fundadora da Congregação, a Bem-aventurada Teresa de Jesus Gerhardinger, cujo aniversário de beatificação será celebrado em 17 de novembro, o último dia do Capítulo.
Educação, serviço e espiritualidade
O Papa disse que a “vida da Bem-aventurada Teresa foi um testemunho de fé transformadora, de coragem para criar novos caminhos e dedicação à educação dos jovens. Sua pedagogia foi pensada para ser integral: junto com a instrução intelectual, ela também incluía o cuidado com o espírito e a formação de pessoas compassivas, responsáveis e centradas em Cristo, ou seja, a formação do coração, para ter compaixão”.
“Inspiradas na Beata Teresa de Jesus Gerhardinger”, sublinhou Francisco, “vocês continuaram por esses três caminhos de educação, serviço e espiritualidade”. Outro aspecto que, segundo o Pontífice, é muito importante na vida consagrada é o da pobreza:
“Sem a verdadeira pobreza, não há vida religiosa. A pobreza é a âncora da vida consagrada. E não é apenas uma virtude, não: é a guardiã. Não se esqueçam disso. Esse firme fundamento permitiu que as Irmãs Educadoras de Notre Dame saíssem pelo mundo e testemunhassem o Evangelho, tornando Cristo visível por meio da presença de vocês, cheias de fé, esperança e caridade.”
O importante testemunho das mulheres consagradas
O Santo Padre ressaltou que “como mulheres que professam os conselhos evangélicos, as irmãs são pioneiras em abraçar a dimensão profética da vida consagrada, que “constitui um memorial vivo do modo de Jesus existir e agir como o Verbo Encarnado diante do Pai e diante de seus irmãos e irmãs” (Exortação Apostólica Vita consecrata, 22). E vossa dedicação é um sinal não apenas do dom que fizeram de si mesmas ao Senhor, mas também de vossa prontidão para servir, e servir Nele, a todos os nossos irmãos e irmãs.
“Ao refletirem agora sobre novos caminhos para a sua Congregação” exortou o Papa, permaneçam sempre enraizadas no sólido alicerce estabelecido pela fundadora, eu vos encorajo a continuar a ser testemunhas corajosas da solidariedade evangélica, em um momento em que muitos experimentam fragmentação e desunião”.
Escuta: uma virtude que deve ser cultivada
Francisco fez questão de enfatizar outro ponto, segundo ele, muito importante, a escuta: “Gostamos de falar o tempo todo, com todo mundo. E não apenas as mulheres, mas todo mundo. Porém é muito difícil aprender a ouvir. O Senhor fala conosco através dos outros também. Ouvir os outros, e não enquanto o outro está falando, pensar: “O que vou responder?”. Não, não. Ouvir, chegar ao coração e depois, se sentir vontade de responder, respondo. Mas a escuta é precisamente uma virtude que devemos cultivar em nossas comunidades, na vida consagrada. Ouvir o Senhor, mas ouvir nossos irmãos e irmãs. Isso é muito importante”.
Ao concluir, o Papa expressou sua alegria por receber as religiosas, e desejou às irmãs um bom êxito na conclusão do Capítulo Geral:
“Que o Espírito Santo lhes conceda seus dons em abundância, de modo que as deliberações e decisões do Capítulo possam dar muitos frutos na vida de vossa comunidade. E darão frutos se vocês souberem ouvir. Que a Virgem Maria, Mãe da Igreja, vos proteja, vos ajude e vos conduza no caminho”.
É comum ouvir, de católicos ditos “não praticantes”, que não vão à igreja “porque está cheia de hipócritas”. Mas o que realmente se esconde por trás dessa desculpa?
Foi há já algum tempo que uma pessoa, algo impertinente, disparou contra mim, à queima-roupa, a razão da sua não prática religiosa:
— Eu não vou à Missa porque está cheia de hipócritas!
Apesar de não ser um argumento propriamente original — na realidade, nem sequer é um argumento — o tópico deu-me que pensar, sobretudo porque é esgrimido, com frequência, pelos fervorosos “católicos não praticantes” que, como é sabido, abundam. São, em geral, fiéis descomprometidos, ou seja, pessoas batizadas que dispensam a prática religiosa coletiva, com a desculpa de que nem todos os praticantes são cristãos exemplares.
Alguns praticantes são, no sumário entendimento dos que não o são, pessoas duplas, porque aparentam uma fé que, na realidade, não vivem, enquanto outros há, como os ditos não praticantes, que mesmo não cumprindo esses preceitos cultuais, são mais coerentes com a doutrina cristã. A objeção faz algum sentido, na medida em que a vida cristã não se reduz, com efeito, a uns quantos exercícios piedosos.
Mas o cristianismo é doutrina e vida: é fé em ação, esperança viva e caridade operativa. Portanto, a prática comunitária é essencial à vida cristã e a praxe litúrgica, embora não seja suficiente, é-lhe necessária. Assim sendo, mesmo que os praticantes não vivam cabalmente todas as virtudes cristãs, pelo menos não descuram a comunhão eclesial, nem a prática sacramental e a vida de oração. Deste modo, cumprem uma das mais importantes exigências do seu compromisso batismal, ao contrário dos não praticantes, não obstante a sua autoproclamada superioridade moral.
Os fiéis que não frequentam a igreja, à conta dos fariseus que por lá há, deveriam também abster-se de frequentar qualquer local público, porque provavelmente está mais pejado de hipócritas do que o espaço eclesial. Estes novos puritanos deveriam também abster-se de ir aos hospitais que, por regra, estão cheios de doentes, e às escolas, onde pululam os ignorantes. É de supor que o único local digno da sua excelsa presença seja tão só o Céu, onde não consta qualquer duplicidade, pecado, fraqueza, doença, ignorância ou erro. Mas também não, ao que parece, nenhum católico não praticante…
Segundo a antropologia cristã, todos os homens, sem exceção, são bons, mas nem todos praticam essa bondade. Um mentiroso não é uma pessoa que não acredita na verdade, mas que não é sincero, ou seja, não pratica a veracidade. Os ladrões são, em princípio, defensores da propriedade privada, mas não a respeitam em relação aos bens alheios. Um corrupto não o é porque descrê da honestidade, mas porque não a pratica. Aliás, as prisões estão repletas de boa gente, cidadãos que crêem nos mais altos e nobres valores éticos, mas que não os praticam.
Mas, não são farisaicos os cristãos que são assíduos nas rezas e nas celebrações litúrgicas, mas depois não dão, na sua vida pessoal, familiar e social, um bom testemunho da sua fé? Talvez. Só Deus sabe! Mas, mesmo que o sejam, convenhamos que são uns ótimos hipócritas. Os hipócritas são bons quando sabem que o são e procuram emendar-se, e são maus quando pensam que não o são, justificam-se a si próprios, julgam e condenam os outros. Os crentes que participam assiduamente na eucaristia dominical, sempre que o fazem recebem inúmeras graças e reconhecem, publicamente, a sua condição de pecadores, de que se penitenciam, com propósito de emenda. Mesmo que não logrem de imediato a total conversão, esse seu bom desejo e a participação sincera na celebração eucarística é já um grande passo no caminho da perfeição.
Foi por isso que, com alguma ironia e um sorriso de verdadeira amizade, não pude deixar de responder àquele simpático “católico não praticante”:
— Não se preocupe por a Missa estar cheia de hipócritas: há sempre lugar para mais um!
Antes de rezar o Angelus neste 32º Domingo do Tempo Comum, o Papa Francisco refletiu sobre a parábola das dez virgens. Em sua alocução destacou a importância da vida interior que “não pode ser improvisada, não é uma questão de um momento; deve ser preparada dedicando um pouco de tempo todos os dias.”
“Viver é isso: uma grande preparação para o dia das núpcias, quando seremos chamados a sair para encontrar Aquele que nos ama acima de tudo, Jesus!”
O exemplo da sabedoria e da imprudência, presente na parábola das dez virgens, chamadas a sair ao encontro do noivo, foi o tema da reflexão do Papa, no Angelus deste 32º Domingo do Tempo Comum. Ao dirigir-se aos milhares de fiéis e turistas reunidos na Praça São Pedro, em um domingo frio de outono, Francisco iniciou dizendo que este “evangelho nos apresenta uma parábola que diz respeito ao significado da vida de cada um”.
O Papa sublinha que, no texto presente no livro de São Mateus, cinco virgens são sábias e cinco imprudentes, e convida os fiéis a refletirem sobre estas duas características:
“Todas aquelas damas de honra estão lá para receber o noivo, ou seja, elas querem encontrá-lo, assim como nós também desejamos a realização de uma vida feliz: a diferença entre sabedoria e imprudência não está, portanto, apenas na boa vontade, tampouco na pontualidade com que chegam ao encontro: todos estão lá com suas lâmpadas, esperando. A diferença entre as sábias e as imprudentes é outra: a preparação.”
Francisco destaca que as sábias juntamente com as suas lâmpadas, levaram também óleo, e as imprudentes, por outro lado, não o fizeram: “Aqui está a diferença: o óleo. E qual é a característica do óleo? O fato de não poder ser visto: está dentro das lâmpadas, não é visível, mas sem ele as lâmpadas não iluminam”.
O cuidado com a vida interior
“Se olharmos para nós mesmos, perceberemos que nossa vida corre o mesmo risco: hoje estamos muito atentos às aparências, o importante é cuidar bem da nossa imagem e causar uma boa impressão diante dos outros. Mas Jesus diz que a sabedoria da vida está em outro aspecto: no cuidado com o que não podemos ver, mas que é mais importante, porque está dentro de nós. É o cuidado com a vida interior.”
Segundo o Papa, essa atenção implica em “saber como parar e ouvir o próprio coração, vigiar os pensamentos e os sentimentos”. Significa saber abrir espaço para o silêncio, ser capaz de ouvir.”, e como um exemplo concreto cita um instrumento muito comum, o celular, e exorta principalmente os agentes pastorais:
“Significa saber abrir mão do tempo gasto em frente à tela do celular para olhar a luz nos olhos dos outros, no próprio coração, no olhar de Deus sobre nós. Significa, especialmente para aqueles que desempenham um papel na Igreja, não se deixar aprisionar pelo ativismo, mas dedicar tempo ao Senhor, à escuta de sua Palavra.”
É preciso dedicar tempo para a vida com Deus
“O Evangelho nos dá o conselho certo para não negligenciarmos o óleo da vida interior” continua Francisco, “o óleo da alma, que é importante prepará-lo.” E recordando o exemplo das virgens que haviam se preparado bem, destaca:
“Assim é para nós: a vida interior não pode ser improvisada, não é uma questão de um momento, de uma vez ou outra, de uma vez por todas; ela deve ser preparada dedicando um pouco de tempo todos os dias, com constância, como se faz para tudo o que é importante.”
O Pontífice, ao final de sua alocução convida os fiéis a uma reflexão:
“Podemos nos perguntar”, indaga Francisco, “o que estou preparando neste momento da vida? Talvez eu esteja tentando fazer algumas economias, esteja pensando em uma casa ou em um carro novo, em projetos concretos… Essas são coisas boas. Mas será que também estou pensando em dedicar tempo para cuidar do meu coração, da oração e do serviço aos outros, ao Senhor, que é a meta da vida? Enfim, como está o óleo da minha alma, estou nutrindo-o e mantendo-o bem?”
“Que Nossa Senhora nos ajude a conservar o óleo da vida interior”, concluiu o Papa.
Foi com cânticos, cores e danças que o Santuário Nacional recebeu o início das celebrações do mês da Consciência Negra. A Santa Missa do dia 4 de novembro, às 12h, foi presidida por dom Zanoni Castro, arcebispo de Feira de Santana (BA), e animada pelo missionário redentorista padre Coutinho.
Com o tema “Mãe Negra Aparecida, leve o clamor do seu povo ao seu filho Jesus”, a Romaria das Comunidades Negras se destaca no Brasil por ser pertencente à Pastoral Afro-Brasileira, uma pastoral que é transformadora e tem presença marcante no país.
O Altar Central da Casa da Mãe Aparecida, bem como o coral que animou a Santa Missa, estiveram muito coloridos.
“Nos juntamos aos milhares de peregrinos que, aqui vindos de tantos lugares, de carro, de bicicleta, a pé, estamos aqui orgulhosos da nossa afrodescendência. Viemos do fundo da terra, das velhas senzalas, das novas favelas, viemos do samba de roda, estamos chegando do chão dos quilombos”, bradou Dom Zanoni, que também é bispo referencial da Pastoral, no início de sua homilia.
E continuou:
“Somos uma porção significativa da população desse país-continente. Estamos aqui, irmãos, fazendo memória do Dia Nacional da Consciência Negra”, falou.
O arcebispo de Feira de Santana (BA) ainda citou os mais de 200 milhões de homens e mulheres de origem africana que vivem no continente americano.
“Estamos pedindo luz para que a ação evangelizadora tenha presente os 200 milhões de homens e mulheres afrodescendentes que vivem nesse continente americano. Estamos para pedir que a Igreja, em sua ação evangelizadora, tenha presente a cultura de origem africana e que, de modo algum pode ser esquecida, nem desrespeitada, nem deixada de lado”, pediu.
E finalizou lembrando o Papa:
“Estamos em comunhão com o Santo Padre, Papa Francisco, nesse lindo processo de escuta e discernimento, chamando-nos a caminhar juntos sob a guia do Espírito Santo!”, disse.
Próxima Romaria
A próxima Romaria das Comunidades Negras está agendada para o dia 9 de novembro de 2024, com missa transmitida, ao vivo, pela TV Aparecida.
“Bendita seja esta santa Romaria que alegra nosso coração e fortalece nossa fé e, em comunhão com o Santo Padre, o Papa Francisco, queremos “caminhar juntos”, sob a guia do Espírito Santo, nesta Igreja da Sinodalidade”.
Com informações do Portal A12 e Pastoral Afrobrasileira
Além de camiseta e flâmula do Fluminense, atual campeão da Libertadores, Francisco também recebeu uma carta do presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues Gomes. No texto, o entusiasmo “com a possibilidade do esporte ser tema da Campanha da Fraternidade em 2026” no Brasil: “a CBF está à disposição para colaborar no que for preciso”, escreveu ele. Ainda ao Papa, um relatório sobre a série de iniciativas realizadas pela CBF, inspirada na Declaração do Esporte para Todos, assinada em 2022 no Vaticano.
Os “Amigos dos Museus do Vaticano”, provenientes de 10 países da América, Europa e Ásia que atuam na captação de recursos para a preservação e aprimoramento do patrimônio pontifício de arte, encontraram o Papa Francisco nesta quinta-feira (9). Entre eles, dois brasileiros: o Padre Omar Raposo, reitor do Santuário do Cristo Redentor e pároco da Paróquia São José da Lagoa, e Pedro Trengrouse, assessor jurídico da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que fazem parte da Benfeitoria de Arte dos Museus do Vaticano, os chamados Patrons of the Art in the Vatican Museums, uma iniciativa de doação e patrocínio que nasceu há 40 anos nos Estados Unidos, num esforço conjunto da Califórnia e Nova York na década de 80 para restaurar a Capela Sistina.
Pe. Omar Raposo, reitor do Santuário do Cristo Redentor, e Pedro Trengrouse, assessor jurídico da CBF, na Rádio Vaticano
Em entrevista a Silvonei José, Pedro comentou sobre a presença da CBF neste movimento de apoio aos Museus do Papa, uma “união para promover a arte como manifestação divina”, e acrescentou:
“O Museu do Vaticano reúne obras importantes para humanidade. É um grande exemplo na manutenção, na restauração, no cuidado com a história da humanidade que é contada através da arte. É uma alegria poder ajudar o Museu do Vaticano na condição de um dos patronos.”
A torcida do Fluminense no Vaticano
Na audiência no Vaticano na manhã desta quinta (9), a dupla, representando a torcida do Fluminense, entregou uma flâmula e uma camiseta da equipe tricolor ao Papa Francisco. O time brasileiro de futebol, que tem como padroeiro João Paulo II, é o mais novo campeão da Copa Libertadores da América, ao conquistar o seu primeiro título na competição diante do Boca Juniors, da Argentina.
Presidente da CBF envia carta ao Papa
O Papa Francisco também recebeu uma carta do presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues Gomes. No texto, o entusiasmo “com a possibilidade do esporte ser tema da Campanha da Fraternidade em 2026”, segundo ideia apresentada pelo secretário-geral da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Ricardo Hoepers, em evento realizado em setembro pelo Comitê Olímpico do Brasil, em São Paulo.
Ainda na carta, o presidente afirma que “a Confederação Brasileira de Futebol está à disposição para colaborar no que for preciso” com a campanha. Um apoio que poderá ajudar a “mobilizar toda a sociedade brasileira como expressão da caridade e da solidariedade em favor da dignidade da pessoa humana, com objetivos de despertar o espírito comunitário, educar para a vida em fraternidade, a partir da justiça e do amor, e renovar a consciência da responsabilidade de todos na promoção humana, em vista de uma sociedade justa e solidária”. E o assessor jurídico da CBF acrescentou:
“O presidente da CBF mandou uma carta para o Papa Francisco elogiando essa possibilidade que a CNBB aventou através da participação de dom Ricardo nesse evento do Comitê Olímpico, dizendo que a CBF está à disposição para colaborar como for preciso nessa campanha e também enviando o relatório de gestão do ano passado, onde o presidente Ednaldo mostra que, inspirado na Declaração Esporte para Todos, a CBF já vem tomando uma série de medidas.”
A Declaração do Esporte para Todos
De fato, Ednaldo Rodrigues Gomes encontrou o Papa Francisco no Vaticano no final de setembro de 2022, quando assinou a Declaração do Esporte para Todos ao final de uma cúpula internacional organizada pelo Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, e pelo Dicastério para a Cultura e a Educação. O documento foi um convite concreto às 200 pessoas do mundo do esporte presentes no Vaticano a se comprometerem com ações dentro dos três elementos que fazem parte da declaração: a coesão, a acessibilidade e o esporte ser adaptável a todos.
Segundo o assessor jurídico da CBF, Pedro Trengrouse, o documento tem inspirado e repercutido muito no Brasil e servido de base para a atuação nesse campo de diversas organizações esportivas. Como a própria Confederação Brasileira de Futebol que tem apoiado, por exemplo, a Seleção Brasileira de Nanismo, iniciativas de combate ao racismo e acordos de cooperação com o Cristo Redentor. De fato, junto à carta entregue ao Papa Francisco nesta quinta-feira (9), foi entregue um relatório de atividades explicando essas e outras iniciativas de inclusão através do futebol, a partir da Declaração do Esporte para Todos.
O que significa espiritualmente para nós, católicos, recordar a consagração de uma igreja? Se Deus “não habita em templos feitos por mão humana”, qual a necessidade de festas assim no calendário litúrgico?
Vai contida, nestas linhas, uma explicação espiritual bem sucinta do porquê de celebrarmos a dedicação de uma igreja. Para aqueles que acompanham há um tempo nossas homilias, não se trata propriamente de uma novidade. Ao celebrarmos a consagração de um templo, devemos lembrar-nos de que “nós é que temos de ser o verdadeiro templo vivo de Deus”. Ouvi-lo de um santo, porém, é sempre muito melhor.
Ouçamos, portanto, o que diz São Cesário: “Cada vez que entramos na igreja, queremos encontrá-la tal como devemos dispor nossas almas”. Assim como é consagrada uma igreja, assim devemos ser consagrados, “separados” para Deus. Se tivéssemos essa verdade continuamente diante dos olhos, quantos pecados já não teríamos evitado! Com quanto zelo não cuidaríamos da saúde de nossas almas, templos que são do Espírito Santo!
Que essas palavras nos ajudem a não perdermos mais tempo e operem em nós uma verdadeira conversão.
Dos Sermões de São Cesário de Arles, bispo
(Sermo 229, 1-3: CCL 104, 905-908)
Pelo batismo fomos todos feitos templos de Deus
Celebramos hoje, irmãos diletos, com exultação jubilosa e com a bênção de Cristo, o natalício deste templo. Nós, porém, é que temos de ser o verdadeiro templo vivo de Deus. Todavia é com muita razão que os povos cristãos observam com fé a solenidade da Igreja-mãe, por quem reconhecem ter nascido espiritualmente. Pois pelo primeiro nascimento éramos vasos da ira de Deus; pelo segundo, foi-nos dado ser vasos da sua misericórdia. O primeiro nascimento lançou-nos na morte; e o segundo, chamou-nos de novo à vida.
Todos nós, caríssimos, antes do batismo fomos templos do demônio; depois do batismo, obtivemos ser templos de Cristo. E se meditarmos com atenção sobre a salvação de nossa alma, reconheceremos que somos o verdadeiro templo vivo de Deus. Deus “não habita somente em construções de mão de homem” (At 17, 24) nem em casa feita de pedras e madeira; mas principalmente na alma feita à imagem de Deus e edificada por mãos deste artífice. Desse modo pôde São Paulo dizer: “O templo de Deus, que sois vós, é santo” (1Cor 3, 17).
E já que Cristo, quando veio, expulsou o diabo de nossos corações para preparar um templo para si, quanto pudermos, esforcemo-nos com seu auxílio para que em nós não sofra injúria por nossas más obras. Pois quem proceder mal, faz injúria a Cristo. Como disse acima, antes que Cristo nos redimisse, éramos casa do diabo; depois foi-nos dado ser casa de Deus. Deus se dignou fazer de nós sua casa.
Por isso, diletos, se queremos celebrar na alegria o natalício do templo, não devemos destruir em nós, pelas obras más, os templos vivos de Deus. E falarei de modo que todos compreendam: cada vez que entramos na igreja, queremos encontrá-la tal como devemos dispor nossas almas.
Queres ver bem limpa a basílica? Não manches tua alma com as nódoas do pecado. Se desejas que a basílica seja luminosa, também Deus quer que tua alma não esteja em trevas, mas que em nós brilhe a luz das boas obras, como disse o Senhor, e seja glorificado aquele que está nos céus. Do mesmo modo como tu entras nesta igreja, assim quer Deus entrar em tua alma, conforme prometeu: “E habitarei e andarei entre eles” (cf. Lv 26, 11.12).