Símbolo da bênção papal, será entregue por Francisco ao ícone mariano conservado na Basílica papal de Santa Maria Maior, na tarde de 8 de dezembro. Um gesto histórico que não se repete há 400 anos
O Ato de veneração à estátua da Imaculada Conceição na Praça de Espanha, centro de Roma, que o Papa realizará às 16h do próximo dia 8 de dezembro, terá uma pequena cerimônia meia hora antes na Basílica papal de Santa Maria Maior, à qual Francisco chegará para a tradicional visita com a finalidade levar a homenagem da “Rosa de Ouro” ao ícone da Salus Populi Romani.
Um presente antigo
A Rosa de Ouro tem raízes antigas, simbolizando a bênção papal, e a tradição desse presente remonta à Idade Média. Ao longo dos séculos, ela foi dada a mosteiros, santuários, soberanos e personalidades proeminentes em reconhecimento ao seu compromisso com a fé e o bem comum. Com o presente da Rosa para a Salus, “o Papa Francisco – diz uma nota da basílica mariana – enfatiza a importância espiritual e o profundo significado que esse ícone tem na vida da Igreja Católica, pois é também o mais antigo santuário mariano do Ocidente dedicado à Mãe de Deus”.
Os dois precedentes
A Rosa a ser doada pelo Papa não é a única atribuída à Salus. A primeira foi doada em 1551 pelo Papa Júlio III, que era profundamente devoto do ícone mariano mantido na Basílica e onde, no altar do Presépio, ele celebrou sua primeira Missa. Em 1613, o Papa Paulo V doou a Rosa de Ouro por ocasião do traslado do venerado ícone para a nova capela construída para esse fim. A Basílica não conserva nenhum vestígio das duas Rosas de Ouro doadas pelos dois Pontífices, que provavelmente se perderam com a invasão napoleônica do Estado Pontifício (Tratado de Tolentino, 1797). Portanto, após 400 anos, continua a nota, “o Pontífice quis dar um sinal tangível de sua devoção ao venerado ícone, fortalecendo o vínculo milenar entre a Igreja Católica e a cidade de Roma”.
“Gesto histórico”
Ao receber a notícia dessa homenagem, o comissário extraordinário da basílica, dom Rolandas Makrickas, expressou sua alegria, dizendo: “O presente da Rosa de Ouro é um gesto histórico que expressa visivelmente o profundo vínculo do Papa Francisco com a Mãe de Deus, que é venerada neste santuário sob o título de Salus Populi Romani. O povo de Deus poderá será fortalecido ainda mais em seu vínculo espiritual e devocional com a Santíssima Virgem Maria. À Salus pedimos o dom da paz para o mundo inteiro”.
Como na Quaresma, o esforço espiritual que somos chamados a realizar durante o Advento deve ser sério e fervoroso. Consideremos estas semanas que antecedem o Natal uma oportunidade de preparar o “estábulo” de nosso coração para receber o Menino Jesus.
O tempo do Advento, como o da Quaresma, é de preparação fervorosa, dirigida para Deus. Enquanto na Quaresma nos preparamos para a bendita Paixão e gloriosa Ressurreição de Nosso Senhor, no Advento nos preparamos para a sua Encarnação; a vinda a este mundo, no tempo e no espaço, de Jesus Cristo, o próprio Deus. Neste, o mais impressionante dos mistérios, a divindade não se “disfarçou” simplesmente como um mortal, mas assumiu a nossa humanidade.
É luminoso notar que, de acordo com a antiga tradição da Igreja, sempre que o mistério da Encarnação é mencionado, inclina-se a cabeça em forma de reverência. Indiscutivelmente, a Encarnação foi o maior milagre de todos, pois por meio dela Deus, que é totalmente infinito e transcendente, foi verdadeira e inseparavelmente unido à nossa humilde e finita condição humana. Ao tomar parte nela, Ele não só a redimiu do domínio do pecado, da morte e de Satanás, mas a elevou para fazê-la participar de sua própria glória inefável. De acordo com Santo Atanásio, “Deus se fez homem para que nos fizéssemos Deus”.
Como na Quaresma, a preparação que somos chamados a realizar durante o Advento deve ser um esforço sério e fervoroso. Embora a ênfase na Quaresma seja mais penitencial, o Advento é também um tempo de exame cuidadoso e honesto da própria consciência, vida e pensamentos — bem como de esforço por um verdadeiro crescimento na fé, esperança e caridade. Talvez possamos considerar essas semanas que antecedem o Natal como uma oportunidade de preparar o “estábulo” de nosso coração para receber o Menino Jesus.
Que aspirações particulares podemos perseguir durante este tempo? Para responder a essa pergunta, podemos perguntar com pertinência: “Que condições devem estar presentes em uma casa que se prepara para a chegada de um novo bebê?” Há três coisas que imediatamente vêm à mente: limpeza, paz e suprimentos generosos de alimento e amparo. Cada católico pode considerar proveitosamente sua própria vida à luz desses três aspectos, durante esta época de preparação para o Natal.
Em primeiro lugar, podemos nos perguntar: “Minha vida e meu coração estão suficientemente limpos e arrumados para receber dignamente o santo Menino?” Claro, isso nunca é realmente possível para qualquer ser humano — com a exceção singular da Imaculada e Santíssima Virgem Maria. Afora Cristo e sua gloriosa Mãe, nenhuma alma humana está completamente livre da mancha do pecado durante esta vida mortal.
Mesmo aceitando essa realidade inescapável, porém, é bom que nos perguntemos se, ao olhar com honestidade para nossas vidas e corações, não vemos um pouco de “lixo” demais por todos os lados. Existe alguma sujeira ou imundície escondida nos cantos? Há alguma coisa presente que acharíamos embaraçosa ou, pior, de que nos envergonhamos? Deixamos acumular camadas de poeira sobre o que é de maior valor — nossa fé, nossa piedade e nosso amor? O Advento é o momento ideal para fazer uma limpeza branda, mas cuidadosa.
Limpeza por si só não é o suficiente, todavia, para criar um ambiente adequado a uma criança pequena. A paz também é essencial. Quando olhamos nossos corações, o que encontramos? Um silencioso “espaço interior” de oração? Um refúgio de tranquilidade interior? Um terreno pacífico onde as flores do amor a Deus e ao próximo brotam em toda a sua beleza radiante?
Ou talvez encontremos um campo de batalha, com paixões violentas e impulsos conflitantes? Ou um vulcão fervente, com desejos ocultos e prejudiciais? Talvez vejamos o leão rugindo de raiva e cólera? Um pavão orgulhoso? A serpente luxuriosa? Ou um porco guloso? Talvez os pensamentos maliciosos e rudes estejam sobrevoando nossos corações, como tiros e disparos de canhões, mesmo que nunca os deixemos transparecer em nossas palavras ou comportamentos.
Que cada um de nós considere se o seu coração é realmente um lugar onde o Menino Jesus poderia descansar, com segurança e paz. Para a maioria das pessoas, na maioria das vezes, é provavelmente justo dizer que a resposta é “não”. Aqui, no entanto, devemos olhar para fora de nós mesmos e além daquilo que nos rodeia, voltando nosso olhar para o alto — para a infinita bem-aventurança e glória de Deus, para a paz e as inimagináveis delícias do Céu, para o amor e misericórdia sem limites de Jesus, para a pureza e o esplendor de Maria.
É somente nessas coisas que a verdadeira paz pode ser encontrada, e que quaisquer turbulências e guerras que se enfureçam dentro de nós podem ser acalmadas. Por meio dessa contemplação, poderemos obter a paz que torna nosso coração pronto para receber nosso pequeno Salvador.
É pertinente notar, porém, que tanto a limpeza quanto a paz — embora certamente sejam admiráveis e condições necessárias para receber um filho recém-nascido — não bastam por si mesmas. Um hospital bem organizado e clinicamente higiênico pode estar perfeitamente limpo e ser administrado com a mais ordeira calma. Todavia, esse ambiente não é ideal para criar um bebê, pelo menos a longo prazo. Pois, mesmo com a ausência de tudo o que seja prejudicial ou nocivo, os elementos positivos de afeto, energia emocional, personalidade e amor podem não estar presentes.
Da mesma forma, nossos preparativos espirituais envolvem não apenas um esforço para eliminar a poeira e a sujeira do pecado e do vício, ou acalmar a agitação da paixão e do conflito. Além disso (e talvez mais importante do que isso), precisamos criar um ambiente que seja genuinamente amoroso e acolhedor, caloroso e agradável. É aqui que os católicos devem trabalhar constantemente para assegurar que sua fé e vida de oração estejam bem fundadas e sejam bem nutridas.
Para empregar como analogia algo que seja talvez um tanto quanto comum, uma pessoa que tem um entusiasmo, um hobby ou um interesse em particular normalmente adquire recursos e material que apoiem e estimulem seu interesse. Um músico terá um instrumento (ou talvez mais de um), bem como partituras, gravações, livros de instrução, biografias de outros músicos e assim por diante. Um atleta terá todo o equipamento de que precisa para sua prática esportiva, além de diversos aparelhos de treinamento, bibliografias, vídeos, suplementos nutricionais e muito mais.
Devemos levar nossa fé, que muitos católicos consideram o elemento mais importante e fundamental de suas vidas, menos a sério do que muitas pessoas levam seus hobbies? Alimentamo-nos de literatura, imagens e ideias que sustentem e estimulem nossa fé? De fato, nossa tradição católica é tão rica que nos oferece tesouros praticamente inesgotáveis, em forma de orações, exercícios devocionais, meditações teológicas, vidas de santos e muito mais. O catolicismo nunca foi uma religião “puritana”, mas abraça essa riqueza de imagens e material para nos aproximar de Deus e inflamar nosso coração com amor e devoção.
Cumpre-nos trabalhar para tornar nossos corações (e mentes) lugares calorosos e acolhedores para Cristo quando Ele vier como criança neste Natal — o tipo de lugar onde Jesus se sentirá verdadeiramente amado e genuinamente “em casa”. É claro que não há maneira mais eficaz de fazer isso do que através da presença amorosa de sua própria Mãe, a Virgem Maria. Pois o Menino Jesus, como qualquer bebê humano, deseja ardentemente estar onde está a sua mãe.
Ao cultivar nossa devoção à Rainha dos Anjos, não apenas afastamos o pecado e a tentação e nos aproximamos da bendita paz do Céu, mas também atraímos Jesus para nós. Afinal, é a Mãe quem sabe preparar melhor uma morada para o seu divino Filho. Por isso, Maria deve ser a nossa companheira mais próxima durante o tempo do Advento. A fim de preparar nosso coração para receber o Menino Jesus no Natal, precisamos garantir que ela esteja presente e seja devidamente amada, honrada e reverenciada.
Trabalhemos, pois, em tornar-nos “estábulos” prontos para acolher Cristo; trabalhemos para nos purificar do pecado e do vício; esforcemo-nos por acalmar quaisquer tempestades e batalhas que venham a assolar nossas almas. Mas, acima de tudo, acendamos o fogo do amor e da devoção, a fim de criar para Ele um ambiente acolhedor, generoso e familiar. Ao fazer isso, Maria, a serva do Senhor, certamente estará presente para nos ajudar e guiar com seu amor e sabedoria maternais.
Nesta preparação para o Natal, inspire-se na bela devoção da Pequena Flor ao Menino Jesus
Santa Teresa de Lisieux, conhecida popularmente como “Pequena Flor”, é famosa pela vida simples que levou como carmelita. Em particular, sua autobiografia, História de uma alma, continua cativando os corações dos leitores.
Na raiz de sua espiritualidade, encontramos uma forte devoção ao Menino Jesus, motivo pelo qual ela recebeu o “título” principal na vida sua religiosa: “Santa Teresinha do Menino Jesus”.
Abaixo, separamos alguns fragmentos de seus escritos para nos ajudar a mergulhar na espiritualidade do Natal, reconhecendo nossa pequenez e nossa constante necessidade da amável misericórdia de Jesus:
1
Os dias de minha primeira comunhão ficaram gravados em meu coração como uma lembrança sem nuvens. (…) Lembra, Mãe querida, do precioso livrinho que fizestes para mim três meses antes da minha primeira comunhão? Aquele pequeno livro me ajudou a preparar metódica e rapidamente o meu coração, pois embora eu já viesse preparando-o há muito tempo, era necessário dar-lhe um novo impulso, enchê-lo de flores novas para que Jesus pudesse nele descansar.
2
Há algum tempo, eu havia me oferecido ao Menino Jesus para ser seu brinquedo. Disse a ele que não me utilizasse como um daqueles brinquedos caros que as crianças se contentam em olhar, sem se atrever a tocar neles. Mas que visse como uma bola sem valor, que pode ser jogada ao chão, ou chutada … ou, se desse vontade, ser apertada contra o coração. Em uma palavra: queria divertir o Menino Jesus, agradá-lo, entregar-me aos seus caprichos infantis.
3
Eu sou uma alma muito pequena, que não pode oferecer a Deus mais do que coisas muito pequenas. E mais: com frequência deixo escapar alguns desses pequenos sacrifícios que dão paz à alma. Mas isso não me desanima: resigno-me de ter um pouco menos de paz e procuro ter mais cuidado na próxima vez.
4
Sobretudo, imito a conduta de [Maria] Madalena. Sua assombrosa, ou melhor, sua amorosa audácia, que cativa o coração de Jesus e seduz o meu. Sim, estou certa de que, embora tivesse consciência de todos os pecados que se podem cometer, iria, com o coração cheio de arrependimento, ficar nos braços de Jesus, pois sei como ele ama o filho pródigo que volta para ele.
5
O elevador que há de me levar ao céu são seus braços, Jesus! Para isso, não preciso crescer: pelo contrário, tenho que continuar sendo pequena, tenho que reduzir de tamanho mais e mais.
Cristo, assim como veio uma só vez a este mundo, revestido da nossa carne, também está disposto a vir de novo, a qualquer momento, para habitar espiritualmente em nossos corações com a profusão de suas graças, se não opusermos resistência.
Das Cartas Pastorais de São Carlos Borromeu, bispo (Acta Ecclesiæ Mediolanensis, t. 2, Lugduni, 1683, 916-917)
O tempo do Advento
Caros filhos, eis chegado o tempo tão importante e solene que, conforme diz o Espírito Santo, é o momento favorável, o dia da salvação (cf. 2Cor 6, 2), da paz e da reconciliação.
É o tempo que outrora os patriarcas e profetas tão ardentemente desejaram com seus anseios e suspiros; o tempo que o justo Simeão finalmente pôde ver cheio de alegria, tempo celebrado sempre com solenidade pela Igreja, e que também deve ser constantemente vivido com fervor, louvando e agradecendo ao Pai eterno pela misericórdia que nos revelou nesse mistério. Em seu imenso amor por nós, pecadores, o Pai enviou seu Filho único a fim de libertar-nos da tirania e do poder do demônio, convidar-nos para o Céu, revelar-nos os mistérios do seu reino celeste, mostrar-nos a luz da verdade, ensinar-nos a honestidade dos costumes, comunicar-nos os germes das virtudes, enriquecer-nos com os tesouros da sua graça e, enfim, adotar-nos como seus filhos e herdeiros da vida eterna.
Celebrando cada ano este mistério, a Igreja nos exorta a renovar continuamente a lembrança de tão grande amor de Deus para conosco. Ensina-nos também que a vinda de Cristo não foi proveitosa apenas para os seus contemporâneos, mas que a sua eficácia é comunicada a todos nós se, mediante a fé e os sacramentos, quisermos receber a graça que Ele nos prometeu, e orientar nossa vida de acordo com os seus ensinamentos.
A Igreja deseja ainda ardentemente fazer-nos compreender que o Cristo, assim como veio uma só vez a este mundo, revestido da nossa carne, também está disposto a vir de novo, a qualquer momento, para habitar espiritualmente em nossos corações com a profusão de suas graças, se não opusermos resistência.
Por isso, a Igreja, como mãe amantíssima e cheia de zelo pela nossa salvação, nos ensina durante este tempo, com diversas celebrações, com hinos, cânticos e outras palavras do Espírito Santo, como receber convenientemente e de coração agradecido este imenso benefício e a enriquecer-nos com seus frutos, de modo que nos preparemos para a chegada de Cristo nosso Senhor com tanta solicitude como se Ele estivesse para vir novamente ao mundo. É com esta diligência e esperança que os patriarcas do Antigo Testamento nos ensinaram, tanto em palavras como em exemplos, a preparar a sua vinda.
A partir desta segunda-feira, o Conselho de Cardeais se reúne para sua última sessão em 2023. Francisco havia anunciado um dos temas no centro das reflexões com os cardeais, o do papel das mulheres, em 30 de novembro, no encontro com a Comissão Teológica Internacional
Teve início esta segunda-feira, 4 de dezembro, no Vaticano, com a presença do Papa Francisco, a reunião do Conselho de Cardeais. Como disse o Santo Padre em 30 de novembro, ao receber a Comissão Teológica Internacional, durante a reunião haverá “uma reflexão sobre a dimensão feminina da Igreja”.
“Desmasculinizar a Igreja”
“A Igreja é mulher”, havia dito Francisco, explicando que “um dos grandes pecados que tivemos foi ‘masculinizar’ a Igreja”. O problema, no entanto, havia acrescentado, “não é resolvido pela via ministerial”, mas “pela via mística, pela via real”. Repropondo a distinção balthasariana entre o princípio petrino e o princípio mariano, na qual “é mais importante o princípio mariano do que o petrino, porque existe a Igreja esposa, a Igreja mulher”, o Santo Padre havia reiterado a necessidade de “desmasculinizar a Igreja”.
A reunião de junho
A última reunião do C9 foi realizada em 26 e 27 de junho e nela os cardeais refletiram, juntamente com o Papa, sobre várias questões, incluindo o conflito em curso na Ucrânia, a implementação da Constituição Apostólica Praedicate Evangelium nas Igrejas locais e os trabalhos da Assembleia Plenária da Comissão para a Proteção de Menores. No centro, também uma discussão acerca da Assembleia Sinodal sobre o tema da sinodalidade que ocorreu no Vaticano em outubro.
O novo C9
O Conselho de Cardeais, após a renovação do órgão pelo Papa em 7 de março passado, é composto pelos cardeais Pietro Parolin, secretário de Estado; Fernando Vérgez Alzaga, presidente da Pontifícia Comissão para o Estado da Cidade do Vaticano e do Governatorato do Estado da Cidade do Vaticano; Fridolin Ambongo Besungu, arcebispo de Kinshasa; Oswald Gracias, arcebispo de Bombaim; Seán Patrick O’Malley, Arcebispo de Boston; Juan José Omella Omella, arcebispo de Barcelona; Gérald Lacroix, arcebispo de Québec; Jean-Claude Hollerich, arcebispo de Luxemburgo; Sérgio da Rocha, arcebispo de São Salvador da Bahia. O secretário é dom Marco Mellino, bispo titular de Cresima. A primeira reunião do novo C9 ocorreu em 24 de abril.
A criação do Conselho de Cardeais
O Conselho de Cardeais foi criado pelo Papa Francisco com o quirógrafo de 28 de setembro de 2013, com a tarefa de ajudá-lo no governo universal da Igreja e de estudar um projeto para a revisão da Cúria Romana, este último realizado com a nova Constituição Apostólica Praedicate Evangelium publicada em 19 de março de 2022. A primeira reunião do C9 foi realizada em 1º de outubro de 2013.
Na próxima sexta-feira, 1º de dezembro, será celebrado o Dia Mundial de Luta contra aa Aids. Pessoas em todo o mundo se unem para demonstrar apoio às pessoas que vivem com HIV, exigir comprometimento dos governos no enfrentamento da epidemia e apresentar as iniciativas que a sociedade civil e outras organizações estão implementando com a finalidade de vencer a Aids.
Desde sua fundação, a Pastoral da Aids assumiu o primeiro de dezembro como uma data significativa do seu engajamento. Neste ano, além de chamar a atenção para a necessidade de que as organizações e movimentos de luta contra a Aids serem protagonistas no enfrentamento da epidemia, deseja lembrar que todos têm sua parcela de contribuição. Isso é expresso no slogan da campanha: “O fim da Aids depende também de você”.
“É que só chegaremos ao fim da Aids se todos assumirem a responsabilidade com a prevenção e, ao mesmo tempo, com a divulgação de informações que sensibilizem para o cuidado, educação e a preservação universal dos direitos humanos”, salienta a Pastoral da Aids.
A Pastoral da Aids está organizada em 16 regionais da CNBB com agentes e equipes de coordenações em mais de 175 dioceses.
Deixem as comunidades liderar
Para este ano de 2023, a Unaids, órgão das Nações Unidas responsável pelas políticas de enfrentamento do HIV, está propondo a valorização das comunidades como meio de chegar mais facilmente ao fim da aids. É que, apesar de haver condições para acabar com a Aids, infelizmente continua-se assistindo infecções e mortes todos os dias.
Por isso, para a Unaids, as organizações, movimentos e representantes das comunidades que vivem com HIV e daquelas que estão em risco de contágio ou afetadas pelo vírus, devem liderar a resposta ao HIV. Essas comunidades conectam as pessoas aos serviços de saúde, constroem confiança, inovam e monitoram a implementação de políticas e serviços.
Mas as comunidades estão sendo impedidas de exercer esse papel de liderança. A falta de financiamento, os obstáculos criados por políticas e leis, o desrespeito à sociedade civil e aos direitos humanos de comunidades marginalizadas obstruem o progresso dos serviços de prevenção e tratamento do HIV. Se esses obstáculos forem removidos, as organizações comunitárias podem ser ainda mais efetivas na resposta global ao HIV, avançando rumo ao fim da Aids. De acordo com Winnie Byanyima, diretora executiva do UNAIDS, “o fim da Aids é possível, está ao nosso alcance, mas para chegar lá, é preciso deixar as comunidades liderar”.
Por isso, nesse ano o Dia Mundial de Luta contra a Aids, além de celebrar as conquistas das comunidades, será um apelo para que sejam capacitadas e apoiadas em seu papel de liderança. Nesse sentido, é importante que as lideranças comunitárias sejam integradas nos planos e programas de HIV e tenham recursos econômicos para financiar suas atividades junto às populações mais afetadas.
Por outro lado, as lideranças políticas devem fazer esforço para revogar leis que prejudicam as populações mais vulneráveis e instituir leis que favoreçam a organização popular e deem acesso aos direitos de forma plena. A flexibilização das patentes dos medicamentos usados para o HIV diminuiria o impacto financeiro do tratamento sobre o SUS, por exemplo.
Importância da celebração do 1º de dezembro
“O Dia Mundial da AIDS permanece tão relevante hoje como sempre foi. Lembra sociedade e governos que o HIV não desapareceu. Ainda é necessário aumentar o financiamento para a resposta à Aids, para aumentar a consciência do impacto do HIV na vida das pessoas, para acabar com o estigma e a discriminação e para melhorar a qualidade de vida das pessoas que vivem com o HIV”, salienta a Pastoral da Aids.
O Senado aprovou na terça-feira, 28, em votação simbólica, o projeto de lei que cria o Dia Nacional do Rosário da Virgem Maria, a ser celebrado anualmente em 7 de outubro. O texto é originário do PL 4.943/2023, da Câmara dos Deputados, e seguiu para sanção presidencial.
A data escolhida é a mesma em que a Igreja celebra a memória de Nossa Senhora do Rosário. O dia 7 de outubro foi estabelecido para a festa litúrgica pelo Papa Pio V, em 1571, relacionando à vitória dos cristãos na batalha naval de Lepanto. Nessa batalha, os cristãos católicos, em meio à recitação do Santo Rosário, resistiram aos ataques dos turcos otomanos, vencendo-os em combate. A oração tem origem nas aparições de Nossa Senhora a São Domingos de Gusmão, em 1214, na Igreja do Mosteiro de Prouille,
Rosário significa “coroa de rosas”. Foi definido por São Pio V como “um modo muito piedoso de oração, ao alcance de todos, que consiste em ir repetindo a saudação que o anjo fez a Maria; intercalando um ‘Pai Nosso’ entre cada dez ‘Ave Marias’ e tratando de ir meditando enquanto isso na vida de Nosso Senhor”.
São João Paulo II, que acrescentou os mistérios luminosos à oração do Santo Rosário, escreveu em sua Carta Apostólica “Rosarium Virginis Mariae” que esta oração “na sua simplicidade e profundidade, permanece, mesmo no terceiro milênio recém iniciado, uma oração de grande significado e destinada a produzir frutos de santidade”.
PL 4.943/2023
A autora do projeto de lei é a deputada Simone Marquetto, integrante da Frente Parlamentar Católica. Ela destacou em sua proposição que o Rosário “é uma oração poderosa, que santifica as famílias, liberta os cativos e converte os corações”.
“É com o Rosário que o nosso coração se acalma ao abrir uma corrente para o espírito e se conectar com o divino. O Rosário é “arma” espiritual na luta contra o mal, contra a violência, pela paz nos corações, nas famílias, na sociedade e no mundo. Que no dia 07 de outubro de cada ano, ao meio-dia, nós, católicos, possamos juntos fazer a oração do Rosário da Virgem Maria”, motivou.
Ao retratar as almas tanto dos justos quanto dos condenados, “O Juízo Final” de Michelangelo serve como um lembrete poderoso da teologia da graça. Neste texto, confira uma análise desta famosa obra à luz dos ensinamentos de Santo Tomás de Aquino.
Quando eu era jovem, meus pais nos levavam a mim e meus irmãos a vários museus de Nova Iorque, como o Metropolitan Museum of Art e os Cloisters. Em geral, tinha menos interesse na arte do que em mergulhar nos mundos a que me conduziam meus livros. Isso, porém, foi mudando com o passar dos anos. Comecei a desenvolver gosto pela arte tão-logo descobri seus ricos tesouros: como um bom livro, a arte nos descortina todo um mundo de mistério e beleza. Ela permite a seus espectadores penetrar os pensamentos do artista pela contemplação do tema da obra a partir da perspectiva do próprio artista. Desse modo, a boa arte inspira uma nova e mais profunda compreensão do tema apresentado e permite aos observadores maravilhar-se com sua beleza.
A arte sacra tem esse efeito nos homens. Foi por isso que São João Paulo II afirmou em sua Carta aos Artistasque a Igreja precisa da arte e vice-versa. A arte sacra cativa a mente humana, atraindo-a para a transcendência das realidades divinas. Isso pode constatar-se, particularmente, na genialidade de O Juízo Final, de Michelangelo, pois o artista espalha por toda a obra pistas sutis e didáticas que conduzem os observadores a uma compreensão mais profunda dos mistérios da fé. Em sua arte, Michelangelo oferece uma profunda compreensão da teologia da graça.
A graça é um dom de Deus. Quando aceita, é o meio de participar da vida divina. Quando fala sobre a graça, Santo Tomás de Aquino o faz no contexto em que ela prepara e auxilia os homens a alcançar seu fim sobrenatural. Os homens não podem chegar ao céu sem ela, embora por natureza desejem o bem [em geral]. Portanto, precisam da graça para alcançar o Bem sobrenatural [1].
Por conta própria, ou seja, sem a ajuda da graça, os homens podem praticar atos naturalmente bons, mas não podem chegar ao céu sem este dom sobrenatural. Na Suma Teológica, Santo Tomás afirma, citando Agostinho, que sem a graça o homem “não pode alcançar a vida eterna; pode, porém, praticar certas obras conducentes a determinados bens que lhe sejam conaturais, como ‘trabalhar no campo, beber, comer, ter amigos’ etc., como diz Agostinho” (I-II 109, 5). Os homens necessitam da graça para transformar o desejo natural do bem num desejo que os fará lutar por bens sobrenaturais e irá preparar-lhes a alma para escolhê-los. Tomás de Aquino recorre aos escritos de Santo Agostinho para esclarecer este ponto: “O homem, por sua vontade, pode fazer obras meritórias da vida eterna; mas, como diz Agostinho no mesmo livro, para isso é necessário que a vontade seja assistida pela graça de Deus” (ibid.) [2]. Portanto, o fato mesmo de os homens desejarem e lutarem para viver virtuosamente resulta de terem já aceitado a graça divina para fazê-lo.
Além de definir a graça como o que eleva as disposições do homem para realizar o bem com vistas a um fim superior, Santo Tomás a caracteriza como o que aperfeiçoa a natureza. A graça não limita ou destrói a natureza, mas nela se apoia [3]. Deus oferece a graça aos homens ao longo da vida. No entanto, eles têm de aceitar o que lhes é oferecido com tanta facilidade e amor. Portanto, o livre-arbítrio tem um papel fundamental na busca da salvação.
Detalhe com as almas dos justos em “O Juízo Final”.
Michelangelo demonstra com grande beleza essa correlação entre graça e livre-arbítrio em O Juízo Final. No canto inferior direito da pintura, Michelangelo mostra as almas levantando-se do túmulo. Ele traça uma distinção clara entre as almas dos justos e as dos condenados. As dos justos olham para o céu. Por terem-na aceitado, a graça elevou e aprofundou nelas a inclinação para o bem e as ordenou a Cristo, seu fim último. Consequentemente, esta abertura à participação no dom da vida divina aqui na terra permitiu que a graça de Deus as atraísse e levasse às alturas do céu, onde experimentarão a plenitude da intimidade divina. Michelangelo mostra como o esforço das almas dos justos para alcançar a meta celeste deu-lhes a capacidade de suportar tudo na terra pela glória da bem-aventurança eterna. O artista revela-o por meio dos santos no céu, particularmente os mártires, que carregam os instrumentos de sua paixão, qual um lembrete triunfante do poder da graça divina em suas vidas. Essa graça deu aos mártires o poder de superar o medo da morte física e de suportar a rejeição, o sofrimento e até a morte por fidelidade a Cristo, tão anelado por seus corações, que eles agora finalmente o possuem.
Em flagrante contraste, as almas dos condenados, desamparadas, aparecem estiradas no chão, olhando para uma direção qualquer, menos para o alto. Michelangelo retrata como essas almas viveram na terra. A vergonha as faz dirigir o olhar para baixo, em direção à terra que amaram desordenadamente e onde buscaram prazeres fugazes. Durante a vida, elas foram oprimidas pelo vínculo desordenado a seus pecados e confortos materiais. Rejeitaram uma e outra vez o convite de Deus a buscar o Bem sobrenatural. A recusa reiterada da graça divina, manifesta em suas ações, provocou enfim sua própria destruição. Sua apatia e indiferença levou-as até as profundezas do inferno.
Consequentemente, a linguagem corporal delas ao ressuscitar, assim como seu destino final, revelam que os homens não deveriam ser condescendentes ou apáticos na busca da santidade. Cada dia requer dos homens uma abertura à ação da graça divina em suas almas. Os homens só podem buscar e conseguir ativamente uma vida de virtude se aceitarem o dom divino de Deus, pois é a graça o que dá aos homens o poder de superar vícios e imperfeições, viver uma vida moral e realizar boas obras. Quando os homens permitem à graça de Deus agir, o efeito é belo e poderoso, pois a graça transcende os homens. Em The Way to Christ: Spiritual Exercises [“O caminho até Cristo: exercícios espirituais”], São João Paulo II diz que a graça é “uma energia — uma força que tende a manter [os homens] perto de Deus, a transformá-los interiormente, enobrecendo-os”. As almas ascendentes de Michelangelo expressam essa realidade: a aceitação da graça divina e a dependência dela permitem-lhes experimentar uma união íntima com Deus e, por meio dessa graça — lembra São Paulo —, elas são salvas pela fé (cf. Ef 2, 8).
Detalhe com o retrato do Juiz na obra de Michelangelo.
Na prática, porém, os homens deparam com obstáculos à consecução do Bem sobrenatural, como mostram as almas dos condenados. Seu desejo de obter o bem estagnou-se, pois sucumbiram ao desejo de felicidade material, tornaram-se complacentes com seus pecados e indiferentes ao alcance de seu verdadeiro fim. A graça de Deus (que os teria transformado, se aceita) é deixada de lado e, assim, lhes serve antes de condenação. Em O Juízo Final, Cristo lembra àquelas almas as oportunidades perdidas para obter a graça: “Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; era peregrino, e não me acolhestes; nu, e não me vestistes; enfermo e na prisão, e não me visitastes” (Mt 25, 42s). O drama da luta interior dos homens para alcançar o Bem supremo revela-se na obra-prima de Michelangelo pela representação de demônios a levar os homens para o inferno, enquanto anjos trabalham, puxando-as para o céu, a fim de libertá-las do poder dos demônios.
Como o pecado enfraquece e destrói a vida da graça na alma, os homens devem sempre empenhar-se para permanecer em estado de graça, a qual os dispõe a aceitar e agir conforme a mesma graça na obtenção do Bem sobrenatural. Ao cooperarem ativamente com esse dom divino, os homens se esforçam para alcançar a perfeição na imitação do Pai (cf. Mt 5, 48), sabendo que, longe de Deus, nada podem fazer para alcançar a santidade.
Tomás de Aquino, no entanto, enfatiza também a importância da vontade individual neste processo, já que os homens devem cooperar ativamente com a graça divina. O Doutor Angélico observa, pois, que a capacidade de tornar-se santo radica na vontade, pois é por meio da aceitação diária da graça de Deus e da escolha pela busca da virtude que os homens podem superar certa condescendência e crescer numa amizade mais profunda com Deus.
Mas os homens não terminam essa jornada sozinhos, como o indica a subida das almas dos justos. Michelangelo as retrata da seguinte maneira: ou são elevadas ao céu por anjos, ou aparecem a erguer-se com os braços estendidos, símbolo da total dependência que o homem tem da graça divina na busca da perfeição. Anjos e santos, por sua vez, estendem as mãos para as puxar até seu lar celestial. Ao mostrar estas almas sendo carregadas ou “escalando” até o céu, principalmente pelo esforço de outros, Michelangelo sugere que a oração de intercessão, o estímulo e o bom exemplo dos demais são meios por que Deus auxilia os homens em sua jornada à beatitude eterna.
O auxílio oferecido às almas ascendentes revela ainda dois outros pontos: primeiro, Deus põe pessoas no nosso caminho para nos ajudar a atingir o fim último; segundo, este auxílio mostra a importância das amizades. Como todos estão in statu viæ, ou seja, juntos na jornada em busca da perfeição, as pessoas são peregrinas e companheiras de viagem. Mesmo que a jornada de cada um seja [acidentalmente] distinta, os homens compartilham um mesmo destino: o céu. Portanto, o caminho para lá não deveria ser solitário. Deus criou os homens para percorrerem juntos essa jornada, oferecendo e recebendo ajuda uns dos outros. Neste sentido, a amizade tem um papel fundamental na jornada da vida, pois os amigos deveriam inspirar, encorajar e ajudar uns aos outros em sua peregrinação terrena.
Michelangelo diz mais sobre a teologia da graça ao demonstrar em O Juízo Final o poder dos sacramentos e da oração. Os fiéis confiam no poder dos sacramentos e da oração em sua subida à beatitude eterna. Deus concede a graça aos homens por meio dos sacramentos, os veículos primários da graça. O artista italiano o exprime no canto direito desta cena dramática, onde retrata um sacerdote a dar a bênção final a um moribundo. Noutra seção, Michelangelo retrata um anjo a puxar rumo ao céu, mediante um Rosário, duas pessoas amarradas uma à outra. Portanto, para Michelangelo, a recepção dos sacramentos e o comprometimento com a vida de oração são essenciais para entrar no céu.
Como as almas justas aceitaram a graça de Deus e permaneceram abertas a ela ao longo da vida, “combatendo o bom combate”, há muita alegria no céu, pois alcançaram o Bem supremo pelo qual lutaram na terra. Michelangelo traça um forte contraste entre isso e o terror dos que estão no inferno, os quais rejeitaram sistematicamente a graça de Deus na terra e, portanto, serão torturados para sempre (em corpo e alma), sabendo que foi sua própria e obstinada recusa dos dons divinos o que os levou para a morte. O Juízo Final de Michelangelo serve assim de poderoso lembrete da luta diária para chegar ao céu, da teologia da graça e da importância da vontade individual na aceitação e na cooperação ativa com a graça, que Deus dispensa tão generosamente aos homens.
A liturgia não é um rito qualquer, mas a máxima expressão com que traduzimos toda a nossa fé no tão sublime sacramento da Eucaristia.
O pontificado do Papa Bento XVI ficou marcado na história recente da Igreja por uma atenção especial à Sagrada Liturgia. Ao longo dos oito anos em que esteve no Trono de Pedro, vimo-lo não só reforçar as normas litúrgicas vigentes, como resgatar várias práticas antigas, que — por sua natureza e segundo a opinião de renomados liturgistas — contribuíam para uma melhor manifestação do mistério eucarístico e da “autêntica natureza da verdadeira Igreja”, como pede o Concílio Vaticano II [1].
O Sacramento da Eucaristia, ensina a Santa Igreja, é a “fonte e o ápice” da vida cristã [2]. Nele se encontra a totalidade de Cristo — corpo, sangue, alma e divindade —, de modo que aquele que o recebe, acolhe no próprio ser a pessoa do Filho de Deus; torna-se, assim, um sacrário vivo. À medida em que os cristãos foram se conscientizando dessa realidade (e com o surgimento de heresias contrárias à doutrina da transubstanciação), a Igreja achou necessário enriquecer o culto eucarístico com gestos e símbolos que melhor reverenciassem a grandeza de tão excelso mistério.
Atualmente, essa visão tradicional sobre a Eucaristia e sua devida celebração não é mais aceita com muita facilidade. Por causa de uma mentalidade ecumenista, é comum encontrarmos certa timidez — senão mesmo ojeriza — a tudo o que possa ser interpretado como exagero ou triunfalismo. Pede-se, ao contrário, que a devoção à Eucaristia seja resumida ao essencial, a fim de evitar “uma errônea confusão entre o Cristo histórico, como dizem, que viveu na terra, o Cristo presente no augusto sacramento do altar, e o Cristo triunfante no céu e dispensador de graças” [3].
Fica evidente a falsidade de tal pensamento, quando se lhe confronta a verdadeira doutrina católica, para a qual o Cristo da Fé e o Jesus histórico são uma única e mesma pessoa, o Verbo de Deus encarnado: é o único “Filho de Maria virgem, que sofreu na cruz, que está presente e oculto na eucaristia, e que reina no céu” [4]. Longe de induzir a erros, como temem alguns, as devoções eucarísticas — procissões, bênçãos e adorações perpétuas — fortalecem a convicção católica de que Cristo, no sacrifício da cruz, venceu a morte e abriu novamente as portas do Céu a nós. Uma liturgia bem celebrada não se trata, pois, de atitude triunfalista ou exagerada, mas de expressão autêntica da alegria do Evangelho, da graça da salvação que chegou ao homem por meio da cruz.
Uma fórmula consagrada de Santo Tomás de Aquino justifica nossa posição: Quantum potes, tantum aude. Trata-se de uma expressão retirada de um dos mais belos hinos eucarísticos do Doutor Angélico e que significa “ousar tudo o que puder para tributar-lhe o louvor devido”. A mensagem é clara. O fiel não pode ser tímido na hora de dedicar seu louvor ao Senhor. Deve, por assim dizer, fazer a boa obra da mulher do Evangelho, lavando os pés de Jesus “com perfume muito caro” e, depois, enxugando-os com os próprios cabelos (cf. Mt 26, 11). Ela muito amou.
Santos reverenciados por uma vida de austeridade e pobreza não economizaram na hora de adorar o Santíssimo Sacramento. Os biógrafos de São João Maria Vianney contam-nos que uma das primeiras atividades dele na aldeia de Ars foi reformar a igreja, tornando-a mais bela e ornamentada, de modo a indicar mais claramente a Majestade que nela habitava dentro do Sacrário. “Se os palácios dos reis são embelezados pela magnificência das entradas, com maior razão as das igrejas devem ser suntuosas… Não quero poupar nada para isso”, defendia o santo pároco aos fiéis [5].
A mesma atitude encontra-se em São Francisco. O poverello de Assis, comumente conhecido pela sua dedicação aos pobres e pelo amor à criação, possuía um zelo pela Eucaristia quase inaudito nos dias de hoje. Eis o que suplicava aos clérigos e confrades:
“Eu vos rogo, mais do que por mim mesmo, que, quando for conveniente e virem que é oportuno, supliqueis humildemente aos clérigos, que devam venerar sobre todas as coisas o santíssimo corpo e sangue de nosso Senhor Jesus Cristo e seus santos nomes e palavras escritas que consagram o corpo. Devem ter preciosos os cálices, corporais, ornamentos do altar e tudo que pertence ao sacrifício. E se em algum lugar estiver colocado pauperrimamente o santíssimo corpo do Senhor, que por eles seja posto em lugar precioso e fechado à chave, de acordo com o mandato da Igreja, e seja levado com grande veneração e administrado aos outros com discrição.”
(…)
“Por isso, rogo a todos vós, irmãos, com o beijo dos pés e com a caridade que posso, que manifesteis toda reverência e toda honra, tanto quanto puderdes, ao santíssimo corpo e sangue do Senhor nosso Jesus Cristo.” [6]
A base de toda essa apologia à Eucaristia deve-se, entre outras razões de igual ou maior importância, a uma máxima bastante popular dentro da Igreja: a opção preferencial pelos pobres. Jesus Eucarístico é o Pobre dos pobres, que se desfaz de toda a sua dignidade ao assumir a aparência de uma frágil partícula de pão, pelo que se coloca aos cuidados do ser humano. De fato, aqueles santos só puderam cuidar dos mais necessitados porque, antes, cuidaram com paixão e fervor do maior de todos os necessitados. Segundo explica Dom Athanasius Schneider, a tutela dos direitos dos pobres torna-se “mais credível e meritória aos olhos de Deus” quando “acompanhada pela defesa atenta e amorosa de Jesus Eucarístico, na medida em que Ele é verdadeiramente, nos nossos dias, o pobre por excelência, o mais frágil e o mais indefeso no momento da distribuição da comunhão” [7].
Fica-nos claro agora por que Bento XVI, na esteira do que já havia pedido seus imediatos predecessores (Paulo VI, na Encíclica Mysterium Fidei, e João Paulo II, na Encíclica Ecclesia de Eucharistia), deu tanta importância à Liturgia, chegando mesmo a sugerir uma reforma da reforma litúrgica. Com justa razão, ele compreendia a Eucaristia como “a escola da vida reta”: “Com seus ensinamentos, ela nos leva para perto daquele que era o único que podia dizer ‘eu sou o caminho, a verdade e a vida'” [8]. Ela está na origem de toda ação social, de toda compaixão e piedade. Atestam-nos os testemunhos de Madre Teresa de Calcutá, Irmã Dulce, São Pio de Pietrelcina e tantos outros santos. A verdadeira devoção externa à Eucaristia nasce precisamente de uma devoção interior, na qual o coração do fiel é deveras a mais bela das catedrais e o mais belo dos sacrários, conforme o que explica Jesus nas Sagradas Páginas: “A boca fala do que está cheio o coração” (cf. Mt 12, 34). Por isso, faz-se importante a restauração de alguns elementos de devoção eucarística, infelizmente, abandonados nos últimos anos.
Esse projeto impulsionado pelo então cardeal, longe de constituir um ataque ao Missal de Paulo VI ou ao Concílio, tem por objetivo proporcionar a autêntica renovação espiritual auspiciada pelos padres conciliares, a qual, por meio de interpretações equivocadas, foi, de muitas maneiras, sufocada [9]. Ora, condenar tal projeto a pretexto de uma ideia superficial de “que nada no Missal jamais poderá ser mudado, como se qualquer reflexão a respeito de possíveis reformas futuras fosse necessariamente um ataque ao Concílio — a uma tal ideia, respondeu Ratzinger a seus críticos, eu só poderia dar o nome de absurda” [11].
Antes de morrer, São João Paulo II deixou-nos um verdadeiro testamento espiritual com a Encíclica Ecclesia de Eucharistia, a derradeira de seu pontificado. Neste documento, o Santo Padre insiste que “não há perigo de exagerar no cuidado” que dedicamos à Eucaristia, “porque, ‘neste sacramento, se condensa todo o mistério da nossa salvação'” [12]. Está na hora de levarmos a sério o Magistério deste grande santo de nossa época. A liturgia não é um rito qualquer, mas a máxima expressão com que traduzimos toda nossa fé no tão sublime sacramento da Eucaristia, o mysterium salutis.
Durante o novenário de nossa Padroeira, acontecerá a Corrida Luz, no dia 28/01/2024, visando unir fraternalmente toda a sociedade pelos valores do evangelho, por meio do esporte e da promoção da saúde.
A corrida contará com a participação dos grupos, pastorais e amantes do esporte de Guarabira e região, com um percurso de 5 km, largada às 7:0 horas, saindo do Largo Dom Marcelo, em frente à Catedral, veja as categorias:
Masculino e Feminino Geral;
Masculino e Feminino Local;
Masculino e Feminino 60+
As inscrições são realizadas apenas pelo site Corre Paraíba, participe conosco desse momento especial, vem iluminar a cidade com a gente e abrilhantar ainda mais a festa da Virgem da Luz.
São Francisco de Assis criou o primeiro presépio em 1223, dando início a uma das mais belas tradições natalinas
São Francisco de Assis é o criador do presépio, uma das mais belas tradições natalinas – e ela está completando 800 anos de existência neste Natal.
O Pobrezinho de Assis começou a recriar o nascimento de Jesus em 1223 – três anos antes de morrer. O local do primeiro presépio foi a pequena localidade de Greccio, a cerca de 90 quilômetros de Roma.
Ali, com a ajuda de um cavaleiro local chamado Giovanni, Francisco escolheu uma caverna em um penhasco para a celebração da Santa Missa e comentou que desejava representar a memória daquele Menino que nascia em Belém, vendo “o máximo possível, com meus próprios olhos corporais, o desconforto das necessidades do Filho de Deus, como Ele ficou numa manjedoura e como descansou no feno”.
De fato, a cena ganhou vida com a presença de animais vivos, do feno e da manjedoura. As pessoas reunidas puderam assim aprofundar-se no mistério da Encarnação de uma forma inspiradamente nova.
Tempos mais tarde, foi construído um altar sobre a manjedoura e uma igrejinha em torno da gruta. A tradição de recriar o presépio de Jesus em Greccio foi se consolidando e espalhando por outras partes da Itália – e, com o passar do tempo, pelo mundo cristão inteiro.
Peregrinações a Greccio
Atualmente, Greccio é visitada por multidões de fiéis todos os anos, com os peregrinos visitando, dentro da ermida, a gruta onde São Francisco montou o primeiro presépio. Além da gruta, pode-se visitar também o paupérrimo dormitório e uma caverna onde São Francisco se abrigava.
Greccio mantém ainda uma exposição permanente de presépios artesanais de todo o mundo.
Na intenção de oração para dezembro, Francisco pede que “rezemos para que as pessoas portadoras de deficiência estejam no centro de atenção da sociedade, e as instituições promovam programas de inclusão que valorizem a sua participação ativa”. A exortação do Papa também é direcionada para dentro da vida eclesial, pois não basta “criar uma paróquia plenamente acessível” eliminando as barreiras físicas.
“Entre os mais frágeis no meio de nós, estão as pessoas portadoras de deficiência.”
Essas são as primeiras palavras de Francisco no vídeo para o mês de dezembro, produzido pela Rede Mundial de Oração do Papa, ao recordar das pessoas com deficiência. No mundo atual, denuncia o Papa Francisco, muitas delas “sofrem rejeição” e o momento é de mudança na forma de pensar e de maior apoio a projetos que “favoreçam a inclusão”:
“Muitas delas sofrem rejeição, baseada na ignorância ou baseada nos preconceitos, que as transformam em marginalizadas. As instituições civis têm que apoiar seus projetos com acessibilidade à educação, ao emprego e aos espaços onde possam exprimir sua criatividade.”
Veja o vídeo:
As diferentes capacidades de cada um
A intenção de oração de dezembro coincide com o mês em que a ONU estabeleceu o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência (que cai em 3 de dezembro) com o objetivo de promover os direitos e o bem estar. No vídeo, o Papa insiste no conceito de “capacidades diferentes” para reforçar a grande contribuição que as pessoas com deficiência podem dar à sociedade.
As próprias imagens que acompanham as palavras de Francisco no vídeo mostram essa possibilidade, ao contar sobre histórias diferentes, unidas pela capacidade de valorizar o talento das pessoas com deficiência. Desde os atletas paraolímpicos que desafiam com êxito os próprios limites nas competições até os amigos da Comunidade de Santo Egídio, em Roma, que pintam obras de arte ou servem as mesas de uma pizzaria.
O vídeo, feito em colaboração com o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral da Santa Sé, ainda traz um jesuíta com deficiência visual, teólogo na Austrália, e uma religiosa com síndrome de down comprometida em Lourdes: os dois participaram da Assembleia Geral do Sínodo e estão comprometidos com a campanha #IamChurch do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida.
“Há necessidade de programas e iniciativas que favoreçam a inclusão. Sobretudo há necessidade de grandes corações que queiram acompanhar. É mudar um pouco nossa mentalidade para abrirmo-nos às contribuições e aos talentos dessas pessoas com capacidades diferentes, tanto na sociedade como dentro da vida eclesial. E assim, criar uma paróquia plenamente acessível não significa somente eliminar as barreiras físicas, mas assumir também que temos de deixar de falar de ‘eles’ e passar a falar de ‘nós’”, ainda alerta o Papa.
Um olhar mais profundo
O cardeal Michael Czerny, prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, comenta que “o convite do Papa para acolher as pessoas portadoras de deficiência na vida da Igreja e da sociedade é uma grande ajuda para reconhecer o mistério que é cada pessoa. Jesus se encontrou com pessoas marcadas pela fragilidade física, psíquica e espiritual, e viu nelas beleza e promessa. Assim, perceberam em Jesus o mistério divino, sentiram a presença daquele que salva, daquele que é Pai.
Em um mundo onde a produtividade parece ser mais importante que o ser humano e a beleza se circunscreve dentro de padrões comerciais, a comunidade cristã que reza ganha um olhar mais profundo e livre. A Igreja não nega a ninguém a participação, a Palavra e os Sacramentos, mas partilha com cada pessoa o caminho adequado. Nossas sociedades, frequentemente pouco inclusivas, precisam assumir um compromisso comum e concreto para que, seguindo o exemplo de Jesus, possam respeitar a dignidade de todos para fazer crescer a fraternidade”.
A inclusão, a rocha sobre a qual devemos construir
O Padre Frédéric Fornos, diretor internacional da Rede Mundial de Oração do Papa, reforça a reflexão, afirmando que “o foco da intenção de oração do Papa deste mês é promover a participação ativa das pessoas com deficiência, construindo programas e iniciativas para que ninguém seja excluído, para que sejam apoiados, acolhidos, integrados e reconhecidos pela sociedade. É o que fazia Jesus, acolhia a todos e com Ele ninguém se sentia excluído. Nós sabemos disso, porém temos dificuldade em viver assim, por isso precisamos rezar, pedir uma mudança de mentalidade, de olhar, começando por nós mesmos”. E o Papa finaliza:
“Rezemos para que as pessoas portadoras de deficiência estejam no centro de atenção da sociedade, e as instituições promovam programas de inclusão que valorizem a sua participação ativa.”