Por que boas amizades ajudam a ser santo?

Conheça amigos que juntos caminharam em direção ao Céu e hoje são santos da Igreja.

A amizade cuja fonte é Deus nunca se esgota, disse Santa Catarina de Sena.

Frases como essa, bem como passagens bíblicas como “Um amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o achou, encontrou um tesouro” (Ecle, 6,14) relatam o valor de uma amizade, e nos inspiram a criar verdadeiros laços capazes de vencer o tempo, a distância, as dificuldades e as diferenças de personalidade deixando que os laços que nasceram em Deus sejam canais de uma vida mais virtuosa.

Muitos escritos além da Bíblia e dos relatos dos Santos falam sobre a amizade.

C.S Lewis, por exemplo, escreveu o livro “Os quatro amores” em que explica o amor por quatro perspectivas, sendo uma delas a amizade (philia). O autor enaltece a liberdade dos amigos como escreve em seu livro:

Em um círculo de Amigos genuínos, cada homem é simplesmente o que ele é: permanece como nada senão ele mesmo.

Reunimo-nos como príncipes soberanos de Estados independentes, num país estrangeiro, em campo neutro, libertados de nossos contextos. Este amor ignora (essencialmente) não somente nossos corpos físicos, mas essa inteira personificação que se consiste de nossa família, nosso trabalho, nosso passado e nossas conexões.”

Se a nível humano necessitamos de vínculos que nos unem pela admiração, lealdade, carinho, gostos e interesses comuns e pelo reconhecimento de que a vida do outro agrega ao nosso ser como pessoa, quanto mais o são esses laços quando encontram além da base humana um laço a nível espiritual, que transcende o mundo natural e foca o olhar das suas vivências nas experiências e frutos que não passam.

Reflexões de uma amizade que aponta o céu

Como eu e meu amigo podemos servir a Deus? O que podemos juntos colocar a serviço de um bem maior? Como posso buscar o céu do meu amigo? Reflexões como essas podem nos ajudar a viver uma verdadeira amizade com o olhar ancorado no céu.

A força da amizade – um caminho com Padre Pio*, filme distribuído pela Kolbe Arte, retrata a amizade de dois jovens cujo objetivo é escrever um livro sobre o Santo. Um exemplo de amizade que se põe a caminho e volta o olhar para o Sagrado. Esta inspiração é uma forma concreta de nos guiar para amizades consistentes, capazes de fomentar o conhecimento das coisas santas e dos homens de Deus.

>> Clique para assistir ao Trailler. *Em cartaz a partir de 23 de Novembro de 2023.

Conheça alguns amigos que contaram um com o outro e chegaram a Santidade:

Santo Agostinho e Santo Ambrósio

Agostinho ao partir para Milão como professor de Retórica foi recebido pelo Bispo Ambrósio, por quem logo se simpatizou pela sua bondade para com ele. Ao ouvir suas pregações, Agostinho estimava sua retórica e trazia em si a motivação de averiguar se a eloquência do Bispo era real como diziam.

Esse processo sem que Agostinho o soubesse, o aproximava da Verdade que ele buscava e de seu processo de conversão, que ia se construindo ao contemplar a forma como o Bispo silenciosamente fazia suas leituras e os frutos das pregações que ouvia, embora não o fizesse inicialmente por gosto pela Verdade anunciada. Em Confissões Agostinho relata no livro VI se alegrar ao ouvir as pregações do Bispo sobre a interpretação da lei e a comunicação do Espírito e sua presença nas pregações de domingo, trazendo em si o desejo de partilhar com aquele homem cheio de compromissos e a quem admirava, suas dores e dúvidas.

Santa Teresa e São João da Cruz

A amizade entre eles tem seu início quando Teresa de Ávila, enquanto fundava o segundo mosteiro, reconhece no recém sacerdote traços de grandeza espiritual e amor a Jesus que a levaram a contar com ele para a reforma do mosteiro masculino, evitando que ele deixasse a ordem para seguir os Cartuxos. Ambos grandes mestres espirituais, dotados de habilidades comuns foram exímios escritores, deixaram lindos poemas e juntos empreenderam reformas nos Carmelos que foram frutuosas para a Igreja Católica.

São João Paulo II e Madre Teresa de Calcutá

Ambos se encontraram pela primeira vez num Congresso Eucarístico em Melbourne, Austrália no ano de 1973, quando Karol Wojtyla era Bispo da Cracóvia. Novamente se encontraram no Congresso Eucarístico da Filadélfia. Encontros futuros ocorreram quando João Paulo II, visitou a terra natal de sua amiga. Madre Teresa pode em várias ocasiões visitar o Papa no Vaticano. Várias fotos disponíveis na internet mostram a marca da alegria no rosto de ambos ao se encontrarem.

Por certo podemos afirmar como Santo Tomás de Aquino:

“Não há nada neste mundo para ser mais valorizado do que a verdadeira amizade.”

Fonte: Comunidade Shalom

SOLENIDADE DE CRISTO REI

Estamos celebrando, o último Domingo do Tempo Comum, e a Igreja contempla, adora e proclama o seu Senhor, Jesus Cristo, como Rei e Senhor do universo! Depois de termos percorrido todo o Ano Litúrgico, começando com o Advento que nos prepara para o Natal; depois de termos atravessado a penitência quaresmal e o júbilo pascal, depois das trinta e três semanas do longo Tempo Comum, eis-nos agora, ao final do ano da Igreja, proclamando que o Senhor do universo, o Rei do tempo e da eternidade é o Cristo nosso Deus! 

A solenidade de hoje foi instituída no Ano Jubilar de 1925 pelo Papa Pio XI com a Carta Encíclica “Quas Primas” (QP), com o qual coincidiu o 16º centenário do Concílio de Nicéia, que proclamara a divindade do Filho de Deus; este Concílio inseriu também em sua fórmula de fé as palavras: “cujo reino não terá fim”, afirmando assim a dignidade real de Cristo (cf. QP 2). 

Quando nós cristãos confessamos que Cristo é Rei, de que reinado estamos falando? A que Reino estamos nos referindo? Nós realmente acreditamos com todo o coração e confessamos com toda convicção que Jesus Cristo – e só ele! – é Rei: Rei do universo, Rei da história, Rei da humanidade, Rei da vida de cada pessoa humana, cristã ou não-cristã. Ele é Rei porque é Deus feito homem, é, como diz a Escritura, aquele “através de quem e para quem todas as coisas foram criadas, no céu e na terra… Tudo foi criado através dele e para ele… Ele é o Primogênito dentre os mortos” (Cl 1,1518). 

Cristo Rei anuncia a Verdade e essa Verdade é a luz que ilumina o caminho amoroso que Ele traçou com sua Via Sacra, para o Reino de Deus. “Tu o dizes: eu sou rei. Para isso nasci e para isto vim ao mundo: para dar testemunho da verdade. Quem é da verdade escuta minha voz.” (Jo 18, 37). Jesus nos revela sua missão reconciliadora de anunciar a verdade ante o engano do pecado. Assim como o demônio tentou Eva com enganos e mentiras, agora Deus mesmo se faz homem e devolve à humanidade a possibilidade de retornar ao Reino, quando qual Cordeiro se sacrifica amorosamente na cruz. 

Cristo Rei foi uma das últimas celebrações instituída pelo Papa Pio XI, na época em que o mundo passava pelo pós-guerra de 1917, marcado pelo fascismo na Itália, pelo nazismo na Alemanha, pelo comunismo na Rússia, pelo marxismo-ateu, pela crise econômica, pelos governos ditatoriais que solapavam toda a Europa, pela perseguição religiosa, pelo liberalismo e outros que levavam o mundo e o povo a afastar-se de Deus, da religião e da fé, culminando com a 2ª Guerra Mundial. O Papa Pio XI instituiu essa festa para que todas as coisas culminassem na plenitude em Cristo Senhor, simbolizado no que diz o Apocalipse: “Eu sou o Alfa e o Ômega, Principio e Fim de todas as coisas.” (Ap1, 8). 

Na primeira leitura – Ez 34, 11-12.15-17 – o Povo de Israel, por negligência de seus pastores, afastou-se da Palavra de Deus, e terminou no Exílio na Babilônia. Ezequiel é o Profeta que acompanhou o Povo no exílio, onde anunciou o perdão e a libertação. Deus é bom! 

Na segunda leitura – 1Cor 15,20-26.28 – pelo pecado de Adão e Eva, todos estamos no exílio, longe de Deus; mas pela virtude de Jesus Ressuscitado, todos fomos perdoados e alegrados com a promessa de nossa ressurreição, igualmente, gloriosa como a Ressurreição de Jesus! 

No Evangelho – Mt 25,31-46 – Jesus no Evangelho, descreve a seguinte cena. O ator principal é o “Filho do Homem”, aquele ser humano que recebe de Deus plenos poderes sobre o mundo, conforme a visão de Dn 7,13-14. É o próprio Jesus. Ele vem com a glória de Deus e reúne diante de si todos os povos. Como um rei- tendo a última palavra em seu reino – ele vai julgar “todos os povos”. Ora, qual vai ser o critério para julgar esses povos? Certamente não a Lei de Moisés, pois, a maioria desses povos não conhece a Lei de Moisés (do Judaísmo). 

Assim como um pastor, ao anoitecer, separa os cordeiros dos bodes, para que passem a noite em ambientes diferentes, o rei-juiz separa os bons dos maus. Os dons, ele os faz entrar na sua alegria, porque lhe deram comida, bebida, hospedagem, roupa, assistência na prisão… E eles perguntaram: “Senhor, não sabemos nada disso!”. Então responde: “O que fizestes ao mais pequeno desses meus irmãos (os famintos, sedentos etc.), foi a mim que o fizestes”. E os maus, ele os condena, porque não fizeram essas boas ações. Tampouco estes têm consciência de quando foi que não trataram bem o rei. E ele responde: “O que fizestes de fazer a um desses mais pequenos irmãos, foi a mim que não fizestes”.  

É na caridade gratuita, sem discriminar a pessoa, que se encontra o critério pelo qual Jesus julga “todos os povos”. Na perspectiva dos israelitas, o julgamento se pauta segundo a observância da Lei de Moisés. Mas Jesus veio mostrar que o anúncio ao Reino é para além dos limites do Judaísmo. O que mais agrada a Deus é o amor efetivo que demonstramos para com seus filhos, especialmente os mais insignificantes, os mais pequenos. Que Jesus Cristo seja o Rei de nossas vidas e que nós o anunciemos a todos os povos pelo testemunho de nossa coerente vida cristã! 

Fonte: CNBB

Francisco: palestinos e israelenses têm direito à paz, rezemos pela Terra Santa

Em uma mensagem de vídeo divulgada pela Rede Mundial de Oração, Francisco pede aos fiéis que rezem pela Ucrânia e especialmente pela Terra Santa, para que “as diferenças se resolvam através do diálogo e da negociação e não com uma montanha de mortos de cada lado”.


Toda guerra é uma derrota. Não se resolve nada com a guerra. Nada. Tudo é conquistado por meio da paz e do diálogo. Francisco repete isso incessantemente, para todos os conflitos no mundo. Nos últimos tempos o Pontífice tem voltado seu olhar particularmente para a Ucrânia e a Terra Santa, lugares para os quais os apelos são cotidianos, como o de hoje, através da mensagem de vídeo realizada pela Rede Mundial de Oração do Papa, à qual ele mesmo pediu para organizar uma campanha especial de oração pela paz no mundo e na Terra Santa.

Todos sentimos a dor das guerras. Sabeis que, desde que terminou a segunda guerra mundial até hoje, as guerras continuaram em diferentes regiões do mundo. Quando ficam longe, não as sentimos muito. Há duas muito perto de nós que nos levam a reagir: na Ucrânia e na Terra Santa.

Dois povos irmãos

O que está acontecendo na Terra Santa, segundo as palavras do Papa, “é muito duro”.

O povo Palestino e o povo de Israel têm direito à paz, têm direito a viver em paz dois povos irmãos.

Diálogo e negociações pela paz

O pedido é, mais uma vez, de rezar pela paz na Terra Santa:

Rezemos pela paz na Terra Santa. Rezemos para que as diferenças se resolvam através do diálogo e da negociação e não com uma montanha de mortos de cada lado. Por favor, rezemos pela paz na Terra Santa.

Fonte: Vatican News

Apresentação de Nossa Senhora no Templo

Origens 

A Festa da Apresentação de Nossa Senhora ao Templo recorda, segundo os Evangelhos apócrifos, o dia em que Maria, ainda criança, vai ao templo de Jerusalém para se consagrar a Deus.

Ciclo Mariano

Depois de ter celebrado a Natividade de Maria Santíssima no dia 8 de setembro e quatro dias depois, dia 12, a Festa do Seu Santíssimo Nome, que lhe foi imposto logo após o seu nascimento. O Ciclo Mariano celebra, neste dia, a Apresentação no templo desta jovem, filha da bênção.

A Memória
A memória que a Igreja celebra hoje não encontra fundamentos explícitos nos Evangelhos Canônicos, mas algumas pistas no chamado protoevangelho de Tiago, livro de Tiago, ou ainda, História do nascimento de Maria. A validade do acontecimento que lembramos possui real alicerce na Tradição que a liga à Dedicação da Igreja de Santa Maria Nova, construída em 543, perto do templo de Jerusalém.

O Dom de Maria

A Igreja não pretende dar realce apenas ao acontecimento histórico, que não existe nos Evangelhos, mas ao dom total da jovem de Nazaré, que, ao ouvir a frase “Bem-aventurados os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática”, se preparou para ser “templo do Filho”.

Apresentação de Nossa Senhora no Templo: um ato de amor e consagração

Os Manuscritos
Os manuscritos não canônicos contam que Joaquim e Ana, por muito tempo, não tinham filhos, até que nasceu Maria, cuja infância se dedicou total e livremente a Deus, impelida pelo Espírito Santo desde sua concepção imaculada. Tanto no Oriente quanto no Ocidente observamos esta celebração mariana nascendo do meio do povo e com muita sabedoria sendo acolhida pela Liturgia Católica. Por isso, essa festa aparece no Missal Romano a partir de 1505, onde busca exaltar Jesus através daquela que muito bem soube fazer isso com a vida, como partilha Santo Agostinho, em um dos seus Sermões:

“Acaso não fez a vontade do Pai a Virgem Maria, que creu pela fé, pela fé concebeu, foi escolhida dentre os homens para que dela nos nascesse a salvação, criada por Cristo antes que Cristo nela fosse criado? Fez Maria totalmente a vontade do Pai e por isso mais valeu para ela ser discípula de Cristo do que mãe de Cristo; maior felicidade gozou em ser discípula do que mãe de Cristo. E assim Maria era feliz porque já antes de dar à luz o Mestre, trazia-o na mente”.

Um ato de Amor
A vida de Maria no Templo foi um profundo ato de amor e consagração de si mesma aos planos do Senhor. A festa da Apresentação de Maria nos leva a pensar em nossa consagração a Deus. A refletir sobre a graça que recebemos por meio de nosso batismo. Amar a Deus e servi-Lo é um compromisso ao qual nenhum cristão pode abrir mão.

Devoção da Beata Maria do Divino Coração
A Beata Maria do Divino Coração dedicava devoção especial à festa da Apresentação de Nossa Senhora no Templo, de modo que quis que os atos mais importantes da sua vida se realizassem neste dia.

O Mundo Consagrado ao Coração de Maria

Concílio Vaticano II
Foi no dia 21 de novembro de 1964 que o Papa Paulo VI, na clausura da 3ª Sessão do Concílio Vaticano II, consagrou o mundo ao Coração de Maria e declarou Nossa Senhora Mãe da Igreja.

A Festa
Neste dia de festa, o “dom” que Maria faz de si a Deus se entrelaça com seu compromisso de viver a vida, animada pela fé, na certeza de que o próprio Deus providenciará tudo (cf. Gn 22). Quando, para o homem, tudo parece impossível, tudo se torna possível para quem acredita em Deus. É preciso, com fé, confiar na intercessão de Maria, Mãe de Jesus e nossa Mãe.

Nossa Senhora da  Saúde 

Neste mesmo dia 21 de novembro celebra-se a festa mais famosa de Maria, Nossa Senhora da Saúde. A festa foi instituída na então República do Vêneto, em 1630, que, depois, se espalhou por toda parte. Esta recorrência e tradição tiveram origem depois da epidemia, que atingiu todo o norte da Itália, entre 1630 e 1631, que também citada por Alessandro Manzoni em “Os Noivos”. Além disso, por desejo de Pio XII, a Igreja também celebra, desde 1953, o “Dia das Monjas de Clausura”.

Minha oração

“Ó Maria, assim como foste consagrada a Deus, faça de nós homens e mulheres consagrados da mesma forma. Não queremos nos consagrar só a Deus, mas também a ti porque reconhecemos que tu és um caminho perfeito para Cristo Jesus. Amém.”

Nossa Senhora da Apresentação, rogai por nós!

 

Fonte: Canção Nova

LÍDERES DA IGREJA CATÓLICA SE REÚNEM, EM BRASÍLIA, PARA AGENDA DE INCIDÊNCIA EM DEFESA DA AMAZÔNIA E DO EQUILÍBRIO CLIMÁTICO

Bispos da Igreja Católica na Amazônia, entre eles o presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil), Dom Evaristo Pascoal Spengler, iniciam nesta segunda-feira, 20 de novembro, uma intensa agenda de diálogos para apresentar as demandas dos povos amazônidas sobre direitos territoriais, impactos de grandes projetos econômicos e a crise climática.

A ministra Marina Silva, do Meio Ambiente e Mudança do Clima, e representantes de outros ministérios, como Povos Indígenas, Direitos Humanos, Justiça, Desenvolvimento Agrário, Assistência Social e Combate à Fome e Minas e Energia, estão entre as participações confirmadas na programação, que segue até o sexta-feira (24).

A ação tem como objetivo dialogar e aprofundar a reflexão sobre temas chave como direitos dos povos e comunidades tradicionais, crise e mudanças climáticas, impactos de grandes projetos, direitos fundiários e conflitos agrários, bem como estabelecer uma pauta de incidência junto aos órgãos do governo federal.

Para o secretario da REPAM-Brasil, Dom José Ionilton Lisboa, esse é um passo importante na busca pela efetivação dos direitos dos povos amazônidas. O bispo da Prelazia do Marajó (PA) conta que os encontros vão pautar diversas questões enfrentadas pelos povos na Amazônia, como a seca, as queimadas, os conflitos em territórios indígenas e quilombos, a proteção de defensores de direitos humanos e entre outros, e que espera um compromisso do governo com os povos que vivem na nossa Querida Amazônia.

Fonte: CNBB

O Papa: “Nenhuma guerra vale as lágrimas das crianças”

Postagem de Francisco no X no Dia Mundial dos Direitos da Criança, instituído no dia da aprovação, em 1989, da Convenção da ONU sobre os Direitos da Infância da Adolescência: “Quantas crianças privadas do direito fundamental à vida e à integridade física e mental, por causa dos conflitos?”, pergunta o Pontífice, “quantas crianças são forçadas a participar ou testemunhar combates?”


“Nenhuma guerra vale as lágrimas das crianças”

As imagens divulgadas pela mídia em Gaza nestas horas mostram fotogramas no limite da suportação. Crianças, mesmo as muito pequenas, cujas lágrimas sulcam seus rostos acizentados pela fumaça ou sujos pela poeira dos prédios que desabaram sob as bombas. Crianças nos braços de pais e parentes com a boca aberta, gritando de dor por uma perda. De um familiar ou de um membro. Além dessas, fotografias de menores desesperados em frente aos caixões de seus pais na Ucrânia ou de meninos na África com menos de 10 anos de idade segurando um Kalashnikov, sentados em um tanque, já treinados para os conflitos. Crianças mortas (como os sete bebês prematuros que morreram em incubadoras no hospital de Gaza), crianças feridas, crianças migrantes, crianças-soldados, crianças exploradas: é tolerável tudo isso? Quanto tempo mais deve durar o sofrimento dos pequeninos? Aquele sofrimento diante do qual o Papa disse mais de uma vez que não há resposta, apenas lágrimas.

O apelo do Papa

E é justamente o Papa que mais uma vez chama a atenção para os menores nesta ocasião que relembra seus direitos inalienáveis, o Dia Mundial dos Direitos da Criança, instituído no dia em que se comemora o aniversário da aprovação, em 1989, pela Assembleia das Nações Unidas, da Convenção da ONU sobre os Direitos da Infância e do Adolescente. Talvez o tratado sobre os direitos humanos mais ratificado do mundo.

Enquanto ocorrem as iniciativas da campanha Crianças em meio a guerras e emergências esquecidas, do Unicef, que quer lembrar as muitas crianças no mundo que vivem em contextos de emergência, com foco especial em seis países afetados pela violência, Francisco marca presença no X (antigo Twitter) e, por meio da conta em nove idiomas e com milhões de seguidores @Pontifex, divulga sua mensagem que tem o propósito de um alerta e a forma de uma pergunta – ou melhor, duas – como pontos para a reflexão.

“Quantas crianças são privadas do direito fundamental à vida e à integridade física e mental por causa de conflitos? Quantas crianças são forçadas a participar ou testemunhar combates e a ter que carregar suas cicatrizes? Nenhuma guerra vale as lágrimas das crianças”.

A dor do Papa pelas mães

Uma frase que, idealmente, dá continuidade ao apelo lançado há exatamente dez dias, em 10 de novembro, pelo próprio Pontífice na mensagem enviada aos participantes do VI Fórum de Paris sobre a Paz. “Nenhuma guerra vale as lágrimas de uma mãe que vê seu filho mutilado ou morto”, denunciou Francisco. E acrescentou: “Nenhuma guerra vale a perda da vida de sequer uma pessoa humana, que é um ser sagrado, criado à imagem e semelhança do Criador; nenhuma guerra vale o envenenamento de nossa casa comum; nenhuma guerra vale o desespero daqueles que são forçados a deixar sua pátria e são privados, de um momento para o outro, de seus lares e de todos os laços familiares, de amizade, sociais e culturais que construíram, às vezes por gerações”.

Nenhuma guerra – “sempre, sempre uma derrota para a humanidade”, como o Papa reiterou no Angelus deste domingo – vale a pena ver essas imagens. Um soco no estômago; um pecado pelo qual, como já disse o Papa durante as celebrações na Casa Santa Marta nos primeiros anos de seu pontificado, “Deus nos pedirá contas”.

Fonte: Vatican News

5º CONGRESSO MISSIONÁRIO NACIONAL APONTA PISTAS PARA AMPLIAR AÇÃO MISSIONÁRIA DA IGREJA NO BRASIL

 

O 5º Congresso Missionário Nacional foi concluído nesta quarta-feira, 15 de novembro. O evento, realizado em Manaus (AM), desde o dia 10, reuniu cerca de 800 participantes, com representações de todas as regiões do Brasil. Inspirados pelo tema “Ide! Da Igreja local aos confins do mundo” e pelo lema bíblico partilhado com o 3º Ano Vocacional, “Corações ardentes, pés a caminho”, os missionários divulgaram ao final do evento uma carta compromisso. No texto, apontam pistas para ampliar e dinamizar as prioridades do Programa Missionário Nacional.

“Queremos, como os discípulos de Emaús, continuar tecendo caminhos de busca, de escuta e de transformação para que o Ressuscitado abra os nossos olhos, converta os nossos corações e nos impulsione para a missão permanente. Somos inspirados a reconhecê-Lo no cotidiano dos povos, em suas sabedorias, suas culturas, seus ritos, seus territórios e suas histórias”, escreveram.

Também na carta, os participantes refletiram sobre a identidade missionária da Igreja, que é nutrida e sustentada pela missão. “Uma missão fundamentada no diálogo recíproco, que possibilita incluir o estranho, as periferias, entrar na casa dos pobres, escutar seus clamores, sem preconceito, crítica, arrogância ou rejeição, desde a lógica diferente de Deus. Uma missão que inclui a todos, e que gera espaços de escuta e comunhão”.

Programa Missionário Nacional

O Congresso foi oportunidade para refletir e aprofundar o conteúdo do Programa Missionário Nacional (PMN). Na carta, os participantes reafirmam a relevância e a atualidade do documento cujo processo de construção iniciou no 4º Congresso Missionário Nacional, em Recife, no ano de 2017.

O PMN definiu quatro prioridades para a ação missionária da Igreja no Brasil: formação missionária, animação missionária, missão Ad Gentes e compromisso profético-social. Para cada uma dessas prioridades, foram indicadas na carta pistas para ampliação e dinamização.

Leia a carta compromisso na íntegra. 

Frutos

É na perspectiva das prioridades do PMN que devem surgir os frutos deste 5º Congresso Missionário Nacional. A diretora das Pontifícias Obras Missionárias, irmã Regina da Costa Pedro, quer que o Congresso “contribua na revitalização do Programa Missionário Nacional, ajudando a gerar diretrizes missionárias para a Igreja no Brasil. Que ele ofereça pistas para que as POM possam realizar seu serviço de ajudar cada Igreja local a ser missão a partir do seu território e até os confins da terra”.

Em sua conferência, a religiosa confiou estes sonhos “à ação criadora e recriadora do Espírito e à intercessão de Maria, Mãe Missionária, para que se tornem realidade na caminhada de conversão missionária da Igreja peregrina em terras brasileiras”.

Pode ser uma imagem de 3 pessoas e multidão

Congresso

Participaram do Congresso 800 pessoas, das quais: 40 bispos, 150 consagrados e consagradas, 110 presbíteros, 10 diáconos, 30 seminaristas, 300 leigos e leigas, representantes de povos originários e 200 voluntários e voluntárias das equipes de Manaus.

A cada dia, foi foram desenvolvidas conferências e painéis temáticos. Também foram realizadas oficinas e promovidos momentos de reflexão e debates em grupos. Os participantes ainda vivenciaram a realidade local, com recepções e atividades nas comunidades paroquiais da arquidiocese de Manaus. No último domingo, a Romaria dos Mártires foi momento marcante na programação do congresso.

Pode ser uma imagem de 9 pessoas, multidão e texto

 

 

 

Fonte: CNBB

Vaticano, lançado programa de mobilidade sustentável “Conversão Ecológica 2030”

O Governatorato anuncia o lançamento de uma série de iniciativas e estratégias de economia de energia para proteger o meio ambiente no âmbito da Laudato si’ e da Laudate Deum. Entre os objetivos: uso responsável de recursos, projetos de eficiência energética e de reflorestamento e eliminação de resíduos. Também estão no plano mudanças na frota de carros do Estado para reduzir as emissões de CO2 por meio de uma parceria com o Grupo Volkswagen


O Estado da Cidade do Vaticano está comprometido há muitos anos com a promoção do desenvolvimento sustentável por meio de políticas ecológicas para proteger o meio ambiente e fornecer estratégias de economia de energia. Aplicando os princípios da Carta Encíclica Laudato si’ e da Exortação Apostólica Laudate Deum, está entre os primeiros Estados do mundo a buscar projetos de sustentabilidade, procurando soluções inovadoras que ajudarão a mudar a forma de trabalhar, cuidando da proteção da “Casa Comum”, adotando projetos que, também por meio do uso de tecnologias confiáveis e ecologicamente corretas, reduzirão concretamente o impacto da atividade humana sobre o meio ambiente. A ratificação da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática e os Acordos de Paris são a ponte entre as políticas ambientais e as indicações e recomendações do Santo Padre. O Governatorato está comprometido em alcançar a neutralidade climática por meio do uso responsável dos recursos naturais, da implementação de projetos de eficiência energética e da atualização de nossos ativos tecnológicos, da mobilidade sustentável, da diversificação e da aquisição de produtos energéticos mais limpos ou alternativos para o transporte, do descarte de resíduos e do desenvolvimento de futuros projetos concretos de reflorestamento.

Veículos elétricos na frota de carros do Vaticano

Para alcançar a neutralidade, serão necessários investimentos em instalações tecnológicas que utilizem energias renováveis, compensando as emissões produzidas em uma área e reduzindo-as em outra, mas, acima de tudo, promovendo a mobilidade elétrica e híbrida. Por esse motivo, o Governatorato lançou um programa de desenvolvimento de mobilidade sustentável chamado “Conversão Ecológica 2030”, também projetado para reduzir o impacto de CO2 de sua frota de veículos. Para isso, pretende: substituir gradualmente os carros de propriedade do Estado por veículos elétricos, a fim de tornar sua frota de carros neutra em carbono até 2030; implementar sua própria rede de recarga no território do Estado e em áreas extraterritoriais e estender o uso a seus funcionários; garantir que suas necessidades de energia venham exclusivamente de fontes renováveis.

Um parceiro estratégico para a mobilidade sustentável

O Grupo Volkswagen – que tem como objetivo se tornar uma empresa com emissões zero de carbono até 2050 e reduzir a pegada de carbono de seus veículos em 30% até 2030 – é o primeiro parceiro estratégico para o projeto de renovação da frota de carros do Estado com veículos das marcas Volkswagen e Škoda por meio da fórmula de aluguel de médio e longo prazo. Esta quarta-feira, 15 de novembro, um acordo de parceria foi assinado com o Grupo Volkswagen, como parte do programa de desenvolvimento da mobilidade sustentável, que é uma das medidas que o Governatorato tomou para reduzir concretamente o impacto da atividade humana no meio ambiente.

Fonte: Vatican News

Quatro mártires brasileiras que você precisa conhecer

No mesmo século em que Nossa Senhora do Bom Sucesso profetizara: “Quase não haverá almas virgens no mundo”, o Brasil viu algumas mulheres resistirem até o derramamento do próprio sangue para conservar intacta a sua virgindade. Conheça-as.


No mesmo século em que Nossa Senhora do Bom Sucesso profetizara: “Quase não haverá almas virgens no mundo”, o Brasil viu algumas mulheres resistirem até o derramamento do próprio sangue para conservar intacta a sua pureza e virgindade.

Quatro delas foram beatificadas pela Igreja em tempos recentes (2007 e 2022), confirmando a imemorial teologia católica do martírio, segundo a qual é melhor perder tudo, inclusive a própria vida, que ofender a Deus com um único pecado mortal.

Para que a vida dessas virgens e mártires possa inspirar a nossa infância e juventude, repassemos rapidamente as suas biografias.

Beata Albertina Berkenbrock († 1931)

A “Maria Goretti do Brasil” nasceu a 11 de abril de 1919, na zona rural de Imaruí, Santa Catarina, numa família de origem alemã, simples e profundamente cristã. Desde muito cedo, todos notavam sua particular bondade e mansidão, advinda da boa educação religiosa que recebera dos pais. A pequena Albertina ajudava-os no trabalho dos campos e especialmente em casa, sempre com docilidade, obediência e prontidão. Também chamava a atenção sua paciência: até quando os irmãos batiam nela, a menina sofria em silêncio, unindo-se aos sofrimentos de Jesus, a quem amava de todo o coração.

Pintura da Beata Albertina Berkenbrock.

Graças a iniciativa do Papa São Pio X, Albertina pôde receber a Sagrada Comunhão desde a mais tenra idade — mais especificamente, aos 9 anos. Era notável sua piedade e recolhimento quando recebia Jesus sacramentado, e foi esse, sem dúvida, o grande segredo de sua força no fatídico evento que culminou em sua morte, a 15 de junho de 1931.

Nesse dia, Albertina estava apascentando os animais da família, quando o pai lhe disse para sair à procura de um boi que havia se distanciado do terreno. A menina obedeceu e, no campo vizinho, encontrou Idanlício Cipriano Martins, a quem perguntou se vira o animal passar por ali. (Idanlício atendia pelo nome de Manuel, ou Maneco, tinha 33 anos e vivia com a esposa perto da casa dos Berkenbrock. Embora já tivesse matado uma pessoa, era considerado por todos um homem honesto e trabalhador. Seus filhos, aliás, brincavam com Albertina, e a menina ia às vezes levar comida à casa dele.)

Nesta oportunidade, porém, para disfarçar o projeto mau que já trazia no coração, Maneco se ofereceu para ajudar a menina, levou-a até um bosque próximo e convidou-a para se deitar com ele. A menina disse que não e, por isso, Maneco puxou-a pelos cabelos e jogou-a no chão. Como continuasse a resistir, ele pegou então um canivete e cortou-lhe o pescoço. A menina morreu imediatamente.

Enquanto o corpo da menina era velado, Maneco procurou ficar perto da casa, para demonstrar sua “inocência”. Mas, toda vez que se aproximava do cadáver de Albertina, a grande ferida no pescoço dela começava a sangrar de novo. Depois que foi descoberto e preso, o assassino revelou aos companheiros de prisão: Albertina não consentiu em deitar-se com ele dizendo que isso era “pecado”.

A menina foi beatificada em 20 de outubro de 2007, pelo Papa Bento XVI.

Beata Benigna Cardoso da Silva († 1941)

Enquanto Albertina recebia no Sul a Primeira Comunhão, nascia em Santana do Cariri (Ceará), Benigna Cardoso da Silva, a 15 de outubro de 1928.

A Bem-aventurada Benigna Cardoso da Silva, martirizada aos 13.

Mais nova de quatro irmãos, Benigna ficou órfã muito cedo, perdendo o pai antes mesmo de nascer e a mãe com apenas um ano de idade. Ela e os irmãos foram adotados, então, pelas senhoras Rosa e Honorina Sisnando Leite, proprietárias do sítio em que viviam, e por elas foram cuidadosamente bem educados, frequentando tanto a escola quanto a igreja. Benigna cresceu como aluna devota e fiel, participando com assiduidade da Santa Missa e das atividades da paróquia Sant’Ana. Também fazia trabalhos domésticos, auxiliando as duas senhoras idosas que a haviam adotado.

Aos doze anos, foi abordada por um rapaz prepotente, que começou a importuná-la. Benigna, que não tinha interesse em começar um relacionamento em tão tenra idade, rejeitou-o. Procurou a orientação de seu pároco, e este a aconselhou a resistir.

Todavia, o jovem continuou a pressioná-la cada vez mais, chegando mesmo a ficar violento. Depois de várias tentativas infrutíferas, na tarde de 24 de outubro de 1941, quando soube que Benigna ia tirar água de um poço, decidiu ocultar-se em meio à vegetação e esperar por ela. Surpreendeu-a, então, e tentou agarrá-la à força, mas Benigna mostrou uma resistência notável. Tomado pela fúria, enfim, o jovem pegou um facão que trazia consigo e desferiu-lhe quatro golpes: o primeiro cortou três dedos da mão direita da menina, que tinha feito um gesto automático de defesa; o segundo atingiu-lhe a testa; o terceiro, os rins; e o quarto e fatal, no pescoço, praticamente cortou a sua garganta. Quando se deu conta do que havia feito, o assassino fugiu.

O corpo da pequena Benigna, de treze anos, foi encontrado pelo irmão, que tinha saído à sua procura. Alguns dias mais tarde, seu assassino foi apanhado e preso. Cinquenta anos depois, o homem regressou ao local do crime, que tinha se tornado um centro de peregrinação, e expressou publicamente o seu arrependimento.

Benigna Cardoso da Silva foi beatificada no mesmo dia em que morreu, em 2022.

Bem-aventurada Isabel Cristina († 1982)

Isabel Cristina Mrad Campos nasceu a 29 de julho de 1962, em Barbacena, Minas Gerais, no seio de uma família de condição econômica modesta.

Frequentou desde muito cedo sua igreja paroquial, fazendo parte do grupo de jovens da Sociedade de São Vicente de Paulo. Também ia sempre ao Mosteiro da Visitação, rezava em família e confessava-se regularmente.

Seu sonho era ser médica pediatra. Por isso, assim que concluiu o antigo “colegial” (atual ensino médio), mudou-se para Juiz de Fora, a fim de fazer um curso pré-vestibular para medicina. Aí passou a viver, com o irmão, numa casa comprada pela família.

Aconteceu porém que, para mobiliar a casa, a família tinha contratado uma empresa, e esta enviou à sua residência um homem chamado Maurílio Almeida Oliveira. No primeiro dia em que fora montar os móveis, a jovem Isabel Cristina, já perturbada com a sua atitude invasiva, permaneceu em oração o tempo todo — como ela mesma contou aos amigos e familiares.

Dois dias depois, porém, em 1.º de setembro de 1982, o montador de móveis, sabendo que ela estava sozinha, voltou já disposto a violentá-la. Chegou ao apartamento por volta das 15h, conseguiu que ela abrisse a porta, ligou a TV no volume máximo e, por fim, atacou-a.

De acordo com a investigação, o assassino bateu na cabeça de Isabel, amarrou-lhe as mãos, pôs-lhe uma mordaça, arrancou-lhe as roupas íntimas, arranhou-lhe os membros inferiores e, depois, esfaqueou-o treze vezes nas costas e no abdômen, desferindo ainda mais duas facadas na região da pelve. A autópsia revelou que, apesar da ferocidade do ataque, a jovem tinha conseguido preservar intacta a sua virgindade — uma consequência da virtude da castidade, que ela já trazia como hábito em sua vida.

A Igreja beatificou Isabel Cristina no dia 10 de dezembro de 2022.

Beata Lindalva Justo de Oliveira († 1993)

Nascida na região rural de Assú (Rio Grande do Norte), em 20 de outubro de 1953, Lindalva era a sexta de treze irmãos. No seio da família aprendeu as primeiras orações e rudimentos da fé. Seu pai lia a Bíblia com frequência para todos os filhos e levava-os à Santa Missa. Com a mãe, aprendeu a cuidar dos mais pobres e ajudá-los em suas necessidades — ofício que viria a se tornar a sua vocação pelo resto da vida.

Já na idade adulta, mudou-se para Natal, época em que passou a frequentar a casa das Filhas da Caridade e o asilo de idosos em que elas trabalhavam. Depois de assistir amorosamente o pai, vítima de um câncer, nos últimos meses de sua vida, Lindalva começou a refletir mais seriamente sobre a vocação e o sentido da própria vida. Aos 33 anos, então, pediu a admissão ao postulantado das Filhas da Caridade, e efetivamente o começou a 11 de fevereiro de 1988, na casa provincial de Recife.

Durante esse período, edificou bastante todas as suas companheiras, refulgindo por sua especial alegria e prontidão no cuidado para com os pobres. Comprometeu-se a servir os mais necessitados de uma favela, chegando inclusive a transportar tijolos para a construção de casas no bairro — tudo isso acompanhado de uma intensa vida de oração.

Em 1991, já como noviça, Lindalva foi transferida para Salvador, Bahia, a fim de prestar seus serviços num asilo de idosos. Era notável a cordialidade com que a irmã tratava todas as pessoas, realizando os trabalhos mais humildes e fomentando nos idosos de que cuidava a oração e recepção contínua dos sacramentos.

Todavia, em janeiro de 1993, chegou ao asilo um homem chamado Augusto da Silva Peixoto, o qual, embora não tivesse direito a entrar devido à sua idade (46 anos), obtivera uma recomendação para ser acolhido. A Irmã Lindalva procurou tratá-lo com a mesma cortesia que dispensava aos outros hóspedes, mas este senhor, de caráter difícil, apaixonou-se pela jovem religiosa.

Começou para ela, então, um período muito difícil de provações. Compreendendo as intenções de Augusto, primeiro Lindalva tentou fazê-lo compreender que era totalmente consagrada a Deus. Mesmo com medo do homem, não queria deixar o asilo, pois amava as obras de caridade que fazia. “Prefiro que meu sangue seja derramado do que afastar-me daqui”, confessou a uma das irmãs.

Ante o comportamento de Augusto, Lindalva advertiu o diretor de serviço social do asilo, o qual chamou a atenção do senhor — e este prometeu corrigir-se. Mas, nos dias anteriores à Semana Santa, cresceram nele a raiva e o ódio, bem como o desejo de vingar-se.

Na Sexta-feira Santa, então, dia 9 de abril, com uma peixeira que havia comprado dias antes, Augusto dirigiu-se até o pavilhão onde Irmã Lindalva servia aos idosos o café da manhã e esfaqueou-a pelas costas, acima da clavícula. A faca atravessou-lhe a jugular e penetrou profundamente em seu pulmão. Tomado por um frenesi diabólico, então, o homem continuou a feri-la em vários lugares. (Os médicos legistas identificaram nada menos que 44 perfurações em todo o seu corpo.) As pessoas que estavam ao redor tentaram intervir, mas o assassino ameaçou matar quem quer que se aproximasse. No tribunal, Augusto declarou que tinha assassinado a religiosa precisamente por causa da rejeição que sofrera.

Já no dia seguinte, Sábado Santo, ao celebrar as exéquias de Lindalva, o Cardeal Lucas Moreira Neves, então arcebispo de Salvador, não pôde deixar de relacionar o martírio da religiosa com a Paixão de Cristo.

No dia 2 de dezembro de 2007, o Papa Bento XVI beatificou-a, e a data de sua comemoração — ainda não inscrita no calendário litúrgico do Brasil — ficou sendo 7 de janeiro, aniversário de seu batismo.

* * *

A história dessas mulheres, que tiveram seu sangue derramado em nosso solo por amor a Cristo, devem lembrar-nos o tesouro que são a pureza e a fidelidade aos mandamentos de Deus.

Sim, porque, ao contrário do que nos poderia fazer crer uma perspectiva naturalista dessas biografias, não foi a mera brutalidade que elas sofreram a razão de seu martírio e beatificação por parte da Igreja. (Se assim fosse, todas as vítimas de crimes bárbaros deveriam ser alçadas à posição de heroínas.)

Não, o que faz brilharem essas mulheres é a sua fé sobrenatural e grande amor a Deus. Num raciocínio puramente natural, bastaria colocar na balança, de um lado, a sua vida biológica, e, de outro, a sua integridade física. — E é óbvio que a primeira é mais importante que a segunda! Mas não foi isso o que pensaram essas nobres cidadãs do Céu! Sua motivação foi sobrenaturala vida da graça é mais importante que a do corpo; portanto, é melhor perder esta que aquela.

Quando tantos, dentro da própria Igreja, advogam a mutilação da doutrina moral católica, relativizam o pecado e falam dos mandamentos e da santidade como “ideais” praticamente impossíveis de ser seguidos, que as vidas (e mortes) da Beata Albertina, Beata Benigna, Beata Isabel Cristina e Beata Lindalva sirvam-nos de modelo e incentivo para a virtude. E que, do Céu, elas também roguem por nós junto a Deus.

O ser humano deve ter medo de Deus?

O que quer dizer a expressão “temor de Deus”, tão repetida pelas Escrituras e pelos santos da Igreja? Por acaso devemos “sentir medo” de Deus? Não seria isso contrário ao mandamento do amor, que é o maior de todos os preceitos?


As Escrituras dizem que “o temor de Deus é o princípio da sabedoria” (Sl 110, 10) e a Igreja, por sua vez, enumera este como um dos sete dons do Espírito Santo.

A alguns ouvidos, porém, a expressão “temor de Deus” pode soar estranha. O que ela realmente significa? Por acaso devemos “sentir medo” de Deus? Não seria isso contrário ao mandamento do amor, que é o maior de todos os preceitos?

A resposta precisa a esses questionamentos todos podemos encontrar, como de costume, na obra de Santo Tomás de Aquino. Antes de apreciarmos o que o Aquinate diz a respeito desse assunto, no entanto, permita-nos compartilhar com vocês, leitores, a grande alegria de pertencer a esse edifício maravilhoso que é a Igreja de Cristo. Não é confortante descobrir que as dúvidas que encontramos em nossa caminhada na Fé já foram respondidas pelos místicos e doutores da Igreja, e que nós não precisamos “construir” nem “inventar” coisas novas? Que Deus não só inspirou os autores da Bíblia, mas também os seus intérpretes, para que pudéssemos chegar todos ao conhecimento da Verdade?

Como é bom viver na segurança da doutrina católica de dois mil anos!

Mas retomemos o fio da meada.

Em primeiro lugar, o testemunho das Escrituras é muito claro: Deus deve sim ser temido. Para confirmá-lo, Santo Tomás cita pelo menos dois versículos bíblicos: “Quem não te temerá, ó Rei das nações?” (Jr 10, 7) e “Se eu sou o Senhor, onde está o temor que me é devido?” (Ml 1, 6).

É óbvio que não vale, para contradizer essas passagens, dizer que elas “estão no Antigo Testamento”, como se as palavras que Deus inspirou aos patriarcas e profetas valessem menos que as do Novo; ou como se o Deus de Abraão, Isaac e Jacó fosse diferente do Deus que se fez carne e veio fazer morada no meio dos homens — Jesus Cristo. O que precisamos fazer, como bons católicos, é ler em sintonia tanto as páginas do Velho quanto as do Novo Testamento. Se algo parece entrar em contradição — coisa que acontece não poucas vezes a quem tem o hábito de ler e meditar as Escrituras —, “mãos às obras” dos bons teólogos, que são os santos. Eles podem nos ajudar a compreender o que diz a Palavra de Deus.

Perguntemos, pois, de modo diferente: como deve Deus ser temido?

A resposta do Doutor Angélico é de uma clareza cristalina. O temor é algo colocado nos seres humanos para que eles fujam do mal. Ora, Deus é o sumo Bem, não devendo ser temido, portanto, como se fosse um assaltante ou uma pessoa má, mas só enquanto “podemos ser ameaçados de um mal, quer proveniente dele, quer relativamente a ele” [1]: quer um castigo nesta vida, portanto, quer a separação de Deus, que acontece quando caímos na desgraça do pecado mortal.

A melhor analogia para entendermos em que consiste o temor de Deus é considerar a obediência que devemos aos nossos pais, especialmente se ainda moramos na mesma casa que eles. Podemos temer uma punição que venha de suas mãos, caso façamos algo de errado (temor servil); ou mesmo temer que sejamos separados deles, já que os amamos e queremos bem (temor filial). Aquele primeiro temor, explica o pe. Royo Marín, “ainda que imperfeito, é bom em sua substância, já que nos faz evitar o pecado e se ordena a Deus como fim” [2]. Todos os cristãos, porém, precisamos sair desse estágio para vivermos plenamente nossa vocação de filhos de Deus, que cumprem os Mandamentos não simplesmente por temerem o chicote, mas principal e predominantemente por amarem a Deus.

É nesse sentido que São João afirma que “o perfeito amor lança fora o temor, pois o temor implica castigo, e aquele que teme não chegou à perfeição do amor” (1 Jo 4, 18); e que Santa Teresinha do Menino Jesus, já ao final de sua vida, confessa: “Não posso temer a um Deus que se fez tão pequenino por mim… Amo-o!… Pois ele é só Amor e Misericórdia!” [3].

O temor filial, no entanto, é um dom do Espírito Santo e integra o organismo espiritual que nos faz amigos de Deus. Por isso, os santos — todos eles, sem exceção — temeram ao Pai do Céu. Evidentemente, não com o temor de Adão e Eva, que se esconderam da face divina por verem nEle um inimigo ou um adversário (cf. Gn 3, 8). O sadio temor de Deus é o que tinha a Virgem Maria, que proclamou em seu Magnificat: “Sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem (timentibus eum)” (Lc 1, 50).

Santo temor de Deus é o que tinha São João Maria Vianney, quando rezava:

“Eu Vos amo, Senhor, e a única graça que Vos peço é a de amar-Vos eternamente.

Eu Vos amo, meu Deus, e desejo o céu para ter a felicidade de Vos amar perfeitamente.

Eu Vos amo, meu Deus infinitamente bom, e temo o inferno porque lá não haverá nunca a consolação de Vos amar.” [4]

Santo temor a Deus possuía, por exemplo, São João de Ávila, a quem é atribuído este famoso soneto a Cristo crucificado:

Não me move, meu Deus, para querer-te
O céu que me hás um dia prometido;
E nem me move o inferno tão temido
Para deixar por isso de ofender-te.

Tu me moves, Senhor, move-me o ver-te
Cravado nessa cruz e escarnecido
Move-me no teu corpo tão ferido
Ver o suor de agonia que ele verte.

Moves-me ao teu amor de tal maneira,
Que a não haver o céu ainda te amara,
E a não haver o inferno te temera.

Nada me tens que dar porque te queira;
Que se o que ouso esperar não esperara,
O mesmo que te quero te quisera.

Essas orações, feitas por pessoas de grande caridade, mostram como o temor filial, ao contrário do servil, anda sempre de mãos dadas com o amor. Quem ama, afinal, está unido à pessoa amada — já que a união é o ato próprio do amor — e a coisa que mais teme é ver-se separado do objeto amado. Por isso, São Domingos Sávio, desafiando o mundo, assumia o compromisso de “antes morrer do que pecar“, tão grande era o seu amor a Deus e o medo de perder a sua amizade pelo pecado.

Quanto a nós, procuremos trilhar o mesmo caminho de amor que seguiram os santos, determinando-nos a perder tudo para não ofendermos a Deus, que é o único verdadeiro Bem de nossas almas. Até que, no Céu, não nos reste senão o temor reverencial de criaturas, uma vez que estaremos permanentemente unidos a Deus, e desta vez para sempre, sem possibilidade nenhuma de separação.

Tenho marcas na alma, registradas com calma, por tuas mãos de mulher

“Tenho marcas na alma, registradas com calma, por tuas mãos de mulher” (Pe. Fábio de Melo)

Comunicamos que após uma longa e pungente batalha contra o câncer, Dona Maria do Céu Rodrigues, mãe do Padre Kleber, entregou sua alma docemente nas mãos de Deus. Nas próximas horas divulgaremos maiores informações sobre o velório e o sepultamento que serão realizados na cidade de Remígio-PB.

Que as almas dos fiéis defuntos, pela misericórdia de Deus, descansem em paz.
R.I.P.

Os ícones sagrados e o “ruído visual” de nossa época

O hiper-realismo da tecnologia de vídeo levou à irrealidade e à neutralização do campo visual. Tudo é “projetado” para ser consumido. Os ícones sagrados não são projetados e não podem ser consumidos. São escritos para a nossa purificação, iluminação e união com Deus.


Vivemos num mundo saturado de imagens superficiais, inundado com “ruído visual”. O problema dessa situação é que a oração, o dever básico do cristão, requer certa tranquilidade e indiferença interior, uma espécie de vazio expectante que busca ser preenchido. Se não encontrarmos maneiras de nos centrarmos em Deus, iremos nos distrair com milhões de coisas vãs e perderemos a conexão vital com a fonte do nosso ser e da nossa salvação.

Sem dúvida, é a graça que faz com que nos voltemos para Deus. Porém, isso é ao mesmo tempo uma função de nosso livre-arbítrio, a aplicação voluntária das potências da nossa alma aos atos de fé, esperança e caridade. E, como somos seres físicos, precisamos de auxílios físicos, não somente ideias rarefeitas e boas intenções.

[É aí que] entra em cena o ícone. Embora em geral as pessoas pensem no ícone como algo específico do cristianismo oriental, trata-se de uma herança comum do primeiro milênio da fé, e que continua fazendo parte da tradição ocidental ou latina, ainda que em formas modificadas. Todos os cristãos podem se beneficiar com a veneração dos ícones, pois eles apresentam aos olhos do nosso corpo e da nossa mente Cristo nosso Deus, sua Santa Mãe e as multidões de santos e anjos que habitam a Jerusalém celeste. Como explica Linette Martin:

O ícone nos direciona para algo que está além dele; nós reconhecemos isso, e espera-se que respondamos. A resposta pode ser fé, ou descrença, ou louvor, ou admiração, ou oração, ou encorajamento, ou temor do Juízo Final, ou questões sobre a doutrina cristã. O ícone insiste que respondamos tanto com a mente quanto com as emoções. Os ícones não se dirigem apenas ao instinto; são a arte do homem que pensa. É isso o que diferencia o ícone — no que diz respeito à sua motivação e ao seu efeito — de outras imagens religiosas, e é por isso que algumas pessoas não gostam de ícones: preferem que a arte cristã seja decorativa e pouco exigente. A Igreja Ortodoxa ensina que um ícone é uma porta bidirecional de comunicação que não só nos mostra uma pessoa ou um evento, mas torna-o presente. Quando estamos diante de um ícone, estamos em contato com aquela pessoa e participamos daquele evento. O evento histórico do Natal torna-se presente para nós aqui e agora, quando olhamos para um ícone da Natividade. O que chamamos de ‘nosso mundo’ e de ‘mundo espiritual’ abrem-se um para o outro [i].

Pantocrator do Monte Sinai.

Há muito a ser dito sobre os ícones, e por essa razão eu retornarei ao assunto mais de uma vez para explorar suas várias facetas. Hoje, quero simplesmente me concentrar no mais antigo ícone que existe do Cristo Pantocrator (“Juiz de todos”) [imagem ao lado].

Datando do século VI, esse impressionante ícone é um dos poucos existentes até hoje que precedem o concílio ecumênico que proclamou definitivamente a legitimidade e, de fato, a necessidade dos ícones (o Segundo Concílio de Niceia, realizado no ano 787). Ele só foi preservado da destruição iconoclasta graças a sua remota localização no mosteiro de Santa Catarina, no Monte Sinai — o qual possui milhares de ícones antigos (muitos deles, como este, pintados com cera colorida).

A face de um homem é o centro visual de seu corpo, não seu tórax, abdômen ou membros. Portanto, a face do Deus-homem domina esse painel, realçada por uma auréola. Michel Quenot diz o seguinte em The Icon: Window of the Kingdom [“O Ícone: Janela para o Reino”, sem edição no Brasil]:

Os antigos gregos chamavam um escravo de aprosopos, isto é, aquele que não tem rosto. Portanto, ao assumir os traços de um rosto humano, Deus restaurou para nós um rosto à sua imagem, já que estávamos acorrentados como escravos sem rosto (aprosopos) por causa do pecado.

Exagerando o fato bem conhecido de que nenhum rosto humano é plenamente simétrico, o ícone nos apresenta a verdade plena de Cristo em sua justiça e em sua misericórdia. No lado onde Cristo segura o Evangelho, seus traços são duros e severos, representando o Juiz que tudo vê e pune os perversos. A expressão no lado que mostra a mão a abençoar é calma e serena, representando o Cristo em seu papel de salvador misericordioso. A evidente tridimensionalidade do Evangelho representa a humanidade do Senhor e sua entrada no espaço e no tempo, enquanto a bidimensionalidade do lado que abençoa representa sua divindade, que está fora do espaço e do tempo.

Mais uma vez, Linette Martin nos ajuda a entender por que o iconógrafo adota essa abordagem surpreendente:

Medo e amor parecem extremidades opostas de uma linha, mas na oração essa linha se transforma num círculo […]. Amar o que é maior do que nós deveria ser uma experiência amedrontadora, se tivéssemos um senso de proporções adequado. Houve quem zombasse dos artistas medievais do Ocidente por retratar a Deus como um velho homem de barba, mas acaso somos melhores [que eles], imaginando o Criador do universo como um papai benévolo inteiramente ao nosso dispor? Os profetas, Apóstolos e iconógrafos iriam chorar e gemer ante uma tal presunção. Ocupados como estamos em ser “amiguinhos” de Deus, podemos esquecer quem Ele é — e isso seria perigoso […]. Basta um olhar em direção ao Cristo Pantocrator para cairmos de joelhos em adoração, uma palavra que transmite a ideia de um amor temeroso. Os maiores ícones de Cristo reúnem duas qualidades aparentemente opostas: a justiça e a misericórdia. Eles nunca são duramente formidáveis, mas tampouco são sempre sentimentais [ii].

Em vez de afastar-se de nós numa perspectiva “naturalista”, o livro dos Evangelhos se projeta para frente, como se estivesse se precipitando em nossa direção. Essa perspectiva “inversa” cruza o vão entre o espectador e a imagem, fazendo com que sejamos tomados por seu significado e “forçados” a nos envolver. Cristo está entrando no mundo, não se afastando dele; vem ao mundo para ensinar, abençoar, ordenar, salvar e julgar. Nossa resposta deve ser o silêncio do ouvinte para acolher sua bênção, obedecer a suas ordens, implorar sua misericórdia e adorar a sua santa Presença.

Como os ícones são um testemunho da realidade da Encarnação, é muito conveniente e vantajoso para a oração ter um ícone de madeira maciça, um objeto real e permanente que possamos segurar, perante o qual possamos nos curvar e beijar, em vez de impressões em papel ou imagens numa tela (como esta) [iii].

O mundo moderno, com suas imagens tremeluzentes — TV, filmes, comerciais, programas de computador —, compete com o dos ícones sagrados por nossa atenção. [Mas] a atenção que você tem a dar é limitada; a quem você a dará? Em que você está se concentrando?

O hiper-realismo da tecnologia de vídeo levou à irrealidade e à neutralização do campo visual. Tudo é “projetado” para ser consumido. Os ícones sagrados não são projetados e não podem ser consumidos. São escritos para a nossa purificação, iluminação e união com Deus. São riquezas inesgotáveis que não podemos “possuir”. Eles escancaram uma janela para uma realidade celestial que é maior do que o nosso mundo. São capazes de restaurar nossa humanidade, que sempre corremos o risco de perder, como os escravos sem rosto. Além dessa função curativa, os ícones sagrados, juntos com a divina liturgia e os santos sacramentos, nos divinizam.

Se quisermos que os nossos olhos e ouvidos se habituem à luz e à voz de Deus, precisamos “jejuar” do alimento espiritual de má qualidade (como os filmes e a música pop) e deleitar os nossos sentidos com imagens e sons verdadeiramente nutritivos e agradáveis à alma — objetos que sejam mais adequados à dignidade e superioridade de nossa alma imortal e de nosso destino eterno.

Notas

  1. Sacred Doorways: A Beginner’s Guide to Icons. Brewster: Paraclete Press, 2002, p. 2.
  2. Ibid., p. 220.
  3. Aqui, o autor recomenda reproduções laminadas de ícones em mosteiros bizantinos americanos (aqui e aqui), para “aqueles que ainda não podem investir num ícone escrito à mão”. O leitor brasileiro é convidado a fazer uma pesquisa e consultar as opções à disposição em seu próprio país. (N.T.)
Fonte: padrepauloricardo.org