EM COLETIVA DE IMPRENSA FOI EXPRESSO UM APELO DO SÍNODO: “TRAFICANTES DE ARMAS REDESCUBRAM O SENTIDO DE HUMANIDADE”

A autoridade – que na Igreja é “serviço” que se “exerce descalço” – e a questão dos abusos foram alguns dos temas abordados nas intervenções da Décima Terceira (341 presentes) e da Décima Quarta (343 presentes) Congregação Geral, realizadas na tarde desta quinta (19) e na manhã desta sexta (20), sempre com a modalidade das intervenções dos Círculos Menores seguidas das intervenções livres.  O anúncio foi feito por Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação e presidente da Comissão de Informação, na coletiva de imprensa que contou com a apresentação da vice-diretora da Sala de Imprensa da Santa Sé, Cristiane Murray.

Referindo-se aos discursos da tarde desta quinta (19) e da manhã desta sexta (20) sobre a seção B3 do Instrumentum laboris – cujo título é “Participação, responsabilidade e autoridade” – Ruffini explicou que o compromisso de “evitar o autoritarismo” foi reafirmado e que “autoridade não é dominação, mas serviço”. Referindo-se em particular a uma das expressões mais significativas usadas na Sala, o prefeito disse precisamente que a autoridade é “exercida com os pés descalços”. Aquele que “tem autoridade”, foi dito na Sala, “não deve controlar tudo, mas ter a capacidade de delegar”; e o bispo, foi dito, “tem a última palavra, mas não a única”.

Entre os tópicos discutidos estavam “o papel dos pastores no serviço aos pobres”, justamente no estilo da oração presidida na noite desta quinta (19) pelo Papa na Praça de São Pedro em favor dos migrantes e refugiados. Deve-se prestar atenção – foi observado nas intervenções – “ao grito daqueles que sofrem nas ruas”. Além disso, “os bispos devem pedir a conversão do coração para que os sentimentos de humanidade sejam reavivados naqueles que, com o tráfico de armas, contribuem para a ‘terceira guerra mundial’ que causa sofrimento a milhões de pessoas”.

A corresponsabilidade na Igreja

“Corresponsabilidade” é uma das palavras que mais se repete nos discursos, e é entendida “como o envolvimento e a coordenação dos carismas”, relatou Ruffini. Nesse sentido, a importância de valorizar as figuras, as competências e, em particular, o compromisso dos leigos foi enfatizada nos trabalhos.

Em seguida, o prefeito quis esclarecer a questão do número de participantes no Sínodo: são 365 com o Papa. Lembrando as diferentes formas de participação, Ruffini destacou que, no total, outras dezenas de pessoas estão envolvidas – o que eleva o número para 464 – mas é uma presença que obviamente não é contada nas comunicações oficiais. Ele também informou que a Secretaria Geral dá precedência ao uso da palavra àqueles que não falaram até o momento.

Sheila Pires, secretária da Comissão de Informação, continuou a coletiva anunciando que havia na Sala quem alertasse sobre o clericalismo, mesmo entre os leigos, porque “tem levado a abusos de poder, de consciência, econômicos e sexuais”. E os abusos, insistiu Pires, fizeram com que a Igreja “perdesse credibilidade”, tanto de se fazer necessário um “mecanismo de controle”. A sinodalidade, informou Pires, “pode ajudar a evitar abusos porque é um processo que tem a ver com a escuta e o diálogo”.

As reformas necessárias na Igreja

No que diz respeito às reformas, falou-se sobre as mudanças necessárias para alcançar maior transparência nas estruturas financeiras e econômicas; da revisão do direito canônico e também de alguns “títulos” que se tornaram anacrônicos. Voltando à sinodalidade, foi observada a urgência de reforçar as estruturas já existentes, como os conselhos pastorais, tomando cuidado para não ceder aos desvios parlamentaristas. Por fim, Pires relatou sobre a questão de estar presente ao lado dos jovens no ambiente digital, um verdadeiro lugar de missão para aproximar os que estão nas periferias. Na realidade, concluiu, trata-se de encontrar esses jovens onde eles já estão, ou seja, nas diversas redes sociais.

Confira a íntegra abaixo:

Fonte: CNBB

XVI ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA DOS BISPOS COMEÇA A REFLETIR SOBRE A “PARTICIPAÇÃO, RESPONSABILIDADE A AUTORIDADE”

A XVI Assembleia Geral Ordinária dos Bispos que trata sobre o tema da “Sinodalidade” iniciou nesta quarta-feira, 18 de outubro, o Módulo B3, previsto no Instrumento de Trabalho, no qual refletirá sobre “Participação, responsabilidade e autoridade” na Igreja. Logo depois o relator geral do Sínodo, o cardeal Jean-Claude Hollerich, descreveu o trabalho do módulo anterior como belo, emocionante e exigente.

O arcebispo de Luxemburgo alertou para duas tarefas a serem realizadas após o término da atual sessão da Assembleia: devolver às Igrejas locais os frutos do trabalho, reunidos no Relatório Síntese, e reunir os elementos para concluir o discernimento no próximo ano, carregado de uma consciência mais clara do Povo de Deus sobre o que significa ser uma Igreja sinodal e os passos a serem dados para sê-lo.

Processos  para uma Igreja sinodal missionária

A pergunta inicial do quarto módulo leva a uma reflexão sobre os processos, as estruturas e as instituições necessárias para avançar rumo à uma Igreja sinodal missionária. Esse módulo tratará de questões de mudanças na vida do discipulado missionário e da corresponsabilidade. Tudo isso em uma Igreja que, nas palavras de Hollerich, “não é muito sinodal” e onde muitos “sentem que sua opinião não conta e que alguns ou apenas uma pessoa decide tudo”.

O relator geral do sínodo analisou as cinco planilhas do Módulo que serão trabalhadas pelos Círculos Menores: a renovação do serviço da autoridade, afirmando que “onde reina o clericalismo há uma Igreja que não se move, uma Igreja sem missão”, algo que também pode afetar os leigos; a prática do discernimento em comum, perguntando como introduzi-lo nos processos de tomada de decisão da Igreja, em diferentes níveis, buscando um consenso que supere a polarização; a criação de estruturas e instituições que favoreçam a participação e o crescimento; a promoção de estruturas continentais, Assembleias Eclesiais, redes entre Igrejas locais, garantindo a unidade com Roma; a relação dinâmica entre sinodalidade, colegialidade episcopal e primazia petrina.

Questões delicadas

Hollerich reconheceu que “essas são questões delicadas, que exigem um discernimento cuidadoso”, às quais serão dedicados os trabalhos deste Módulo e no ano que antecede a segunda sessão da Assembleia Sinodal. Questões delicadas “porque tocam a vida concreta da Igreja e o dinamismo do crescimento da tradição”, afirmando que “um discernimento errado poderia cortá-la ou congelá-la. Em ambos os casos, ele a mataria”.

De acordo com o relator geral do Sínodo,  é através da participação que podemos trazer a visão inspiradora para a terra e dar continuidade no tempo ao impulso da missão. Ele alertou que “a concretude também implica o risco de dispersão em detalhes, anedotas, casos particulares”. A partir daí, ele pediu para “fazer um esforço especial para manter o foco no objetivo que se está buscando”, algo que está incluído nas perguntas para discernimento de cada parte.

Convergências e divergências

Sobre o trabalho dos grupos de discernimento comunitário, o cardeal pediu “para expressar convergências, divergências, questões a serem exploradas e propostas concretas para avançar”, solicitando aos facilitadores, a quem agradeceu pelo trabalho, que “não tenham medo de nos pressionar, mesmo que de forma um pouco decisiva, quando precisarmos deles para nos ajudar a não perder o foco”.

Por fim, o cardeal desejou “um trabalho frutífero neste Módulo, que beneficiará toda a Igreja”. Ele enfatizou que “o discipulado missionário ou a corresponsabilidade não são apenas frases feitas, mas um chamado que só podemos realizar juntos, com o apoio de processos, estruturas e instituições concretas que realmente funcionem no espírito da sinodalidade”.

Fonte: CNBB