O Papa: Natal, inaudita ternura de Deus que salva o mundo encarnando-se

“Como os pastores que deixaram os seus rebanhos, deixa o recinto das tuas melancolias e abraça a ternura do Deus Menino. Sem máscaras nem couraças, confia-Lhe os teus cansaços, e Ele cuidará de ti: Ele, que se fez carne, espera, não as tuas performances de sucesso, mas o teu coração aberto e confiado”, disse Francisco em sua homilia da missa da noite de Natal.


O Papa Francisco presidiu a missa da noite de Natal, neste domingo (24/12), na Basílica de São Pedro.

Francisco iniciou sua homilia, enfatizado as seguintes palavras do Evangelista Lucas: «O recenseamento de toda a terra». “Este é o contexto em que nasce Jesus e no qual se detém o Evangelho. Podia limitar-se a uma rápida alusão, mas ao contrário fala dele com grande esmero. Assim, faz surgir um grande contraste: enquanto o imperador conta os habitantes do mundo, Deus entra nele quase às escondidas; enquanto quem manda procura colocar-se entre os grandes da história, o Rei da história escolhe o caminho da pequenez. Nenhum dos poderosos se dá conta d’Ele; apenas alguns pastores, colocados à margem da vida social”, disse o Papa.

“Nesta noite, irmãos e irmãs, podemos perguntar-nos: Em que Deus acreditamos? No Deus da encarnação ou no da performance? Sim, porque há o risco de viver o Natal tendo na cabeça uma ideia pagã de Deus, como se fosse um patrão poderoso que está no céu; um deus que se alia com o poder, o sucesso mundano e a idolatria do consumismo”, sublinhou Francisco.

Fixemos o Menino, olhemos para a sua manjedoura

O Pontífice convidou a olhar para o «Deus vivo e verdadeiro». “Ele que está para além de todo o cálculo humano, no entanto, deixa-se recensear pelos nossos registos; Ele que revoluciona a história, habitando nela; Ele que nos respeita até ao ponto de nos permitir rejeitá-Lo; Ele que apaga o pecado assumindo a responsabilidade pelo mesmo, que não tira a dor, mas a transforma, que não nos tira os problemas da vida, mas dá às nossas vidas uma esperança maior do que os problemas. Deseja tanto abraçar as nossas existências que, sendo infinito, por nós se fez finito; grande, se fez pequeno; sendo justo, habita as nossas injustiças”, disse ainda o Papa, acrescentando:

Aqui está a maravilha do Natal: não uma mistura de sentimentos adocicados e confortos mundanos, mas a inaudita ternura de Deus que salva o mundo encarnando-se. Fixemos o Menino, olhemos para a sua manjedoura, para o presépio, que os anjos chamam «o sinal»: realmente constitui o sinal revelador do rosto de Deus, que é compaixão e misericórdia, onipotente sempre e só no amor.

Carne, uma palavra que evoca a nossa fragilidade

O Pontífice convidou a nos deixamos “surpreender por Ele ter-se feito carne. Carne! Uma palavra que evoca a nossa fragilidade e que o Evangelho utiliza para nos dizer como Deus entrou profundamente na nossa condição humana”.

“Irmão, irmã, para Deus, que mudou a história durante o recenseamento, tu não és um número, mas um rosto; o teu nome está escrito no seu coração”, sublinhou o Papa.

Como os pastores que deixaram os seus rebanhos, deixa o recinto das tuas melancolias e abraça a ternura do Deus Menino. Sem máscaras nem couraças, confia-Lhe os teus cansaços, e Ele cuidará de ti: Ele, que se fez carne, espera, não as tuas performances de sucesso, mas o teu coração aberto e confiado. E n’Ele descobrirás quem és: um filho amado de Deus, uma filha amada de Deus. Agora podes acreditar nisto, porque, nesta noite, o Senhor nasceu para iluminar a tua vida, e os olhos d’Ele cintilam de amor por ti.

A adoração é a forma de acolher a encarnação

“Sim, Cristo não olha para os números, mas para os rostos. Contudo quem é que olha para Ele, por entre as inúmeras coisas e as corridas loucas de um mundo sempre agitado e indiferente? Em Belém, enquanto muitas pessoas, preocupadas com o recenseamento, iam e vinham, enchiam as hospedarias e pousadas falando de tudo e de nada, houve alguns que estiveram junto de Jesus: Maria e José, os pastores e depois os magos. Aprendamos com eles. Ei-los com o olhar fixo em Jesus, com o coração voltado para Ele; não falam, mas adoram.”

A adoração é a forma de acolher a encarnação, porque é no silêncio que Jesus, Palavra do Pai, Se faz carne nas nossas vidas. Façamos nós também como se fez em Belém, que significa «casa do pão»: permaneçamos diante d’Ele, Pão da vida. Redescubramos a adoração, porque adorar não é perder tempo, mas permitir a Deus que habite o nosso tempo; é fazer florescer em nós a semente da encarnação, é colaborar na obra do Senhor, que, como o fermento, muda o mundo; é interceder, reparar, consentir a Deus que endireite a história.

O Papa concluiu sua homilia, dizendo que “nesta noite, o amor muda a história. Fazei, Senhor, que acreditemos no poder do vosso amor, tão diverso do poder do mundo. Fazei que, à semelhança de Maria, José, os pastores e os magos, nos estreitemos ao vosso redor para Vos adorar. Feitos por Vós mais semelhantes a Vós, poderemos testemunhar ao mundo a beleza do vosso rosto”.

Fonte: Vatican News

Urbi et Orbi: dizer «não» à guerra, viagem sem destino, loucura indesculpável, pede o Papa

Neste Natal, o Papa na Mensagem e Bênção Urbi et Orbi da sacada central da Basílica de São Pedro: “Isaías, que profetizara o Príncipe da paz, deixou escrito que virá um dia em que «uma nação não levantará a espada contra outra»; um dia em que os homens «não se adestrarão mais para a guerra», mas «transformarão as suas espadas em relhas de arado, e as suas lanças em foices» (2, 4). Com a ajuda de Deus, esforcemo-nos para que se aproxime esse dia!”


“Queridos irmãos e irmãs, feliz Natal!

O olhar e o coração dos cristãos de todo o mundo estão voltados para Belém; lá, onde nestes dias reinam a dor e o silêncio, ressoou o anúncio esperado há séculos: «Nasceu-vos um Salvador, que é o Messias Senhor» (Lc 2, 11). Trata-se das palavras do anjo no céu de Belém, que são dirigidas também a nós. Enche-nos de confiança e esperança saber que o Senhor nasceu para nós; que a Palavra eterna do Pai, o Deus infinito, fixou a sua morada entre nós. Fez-Se carne, veio «habitar connosco» (Jo 1, 14): esta é a notícia que muda o curso da história!

O anúncio de Belém é o anúncio duma «grande alegria» (Lc 2, 10). Qual alegria? Não a felicidade passageira do mundo, nem a alegria da diversão, mas uma alegria «grande» porque nos faz «grandes». De facto hoje nós, seres humanos, com as nossas limitações, abraçamos a certeza duma esperança inaudita: a esperança de termos nascido para o Céu. Sim, Jesus nosso irmão veio fazer do Seu Pai o nosso Pai: Menino frágil, revela-nos a ternura de Deus e muito mais… Ele, o Unigênito do Pai, dá aos homens o «poder de se tornarem filhos de Deus» (Jo 1, 12). Eis a alegria que consola o coração, renova a esperança e dá a paz: é a alegria do Espírito Santo, a alegria de ser filhos amados.

Irmãos e irmãs, hoje em Belém, por entre as trevas da terra, acendeu-se esta chama inextinguível; hoje, sobre as trevas do mundo, prevalece a luz de Deus, que «a todo o homem ilumina» (Jo 1, 9): alegremo-nos por esta graça! Alegra-te, tu que te vês falho de confiança e de certezas, porque não estás sozinho, não estás sozinha: Cristo nasceu para ti! Alegra-te, tu que perdeste a esperança, porque Deus te estende a mão: não aponta o dedo contra ti, mas oferece-te a sua mãozinha de Menino para te libertar dos medos, aliviar-te das canseiras e mostrar-te que, aos olhos d’Ele, vales mais do que qualquer outra coisa. Alegra-te, tu que tens a paz no coração, porque se cumpriu para ti a antiga profecia de Isaías: «Um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado (…) e o seu nome é: (…) Príncipe da paz» (9, 5). Com Ele, «a paz não terá fim» (9, 6).

Na Sagrada Escritura, ao Príncipe da paz opõe-se o «príncipe deste mundo» (Jo 12, 31), que, semeando a morte, atua contra o Senhor, «amante da vida» (Sab 11, 26). Vemo-lo atuar em Belém, quando, depois do nascimento do Salvador, se verifica a matança dos inocentes. Quantas matanças de inocentes no mundo! No ventre materno, nas rotas dos desesperados à procura de esperança, nas vidas de muitas crianças cuja infância é devastada pela guerra. São os pequeninos Jesus de hoje.

Deste modo dizer «sim» ao Príncipe da paz significa dizer «não» à guerra, a toda a guerra, à própria lógica da guerra, que é viagem sem destino, derrota sem vencedores, loucura indesculpável. Mas, para dizer «não» à guerra, é preciso dizer «não» às armas. Com efeito, se o homem, cujo coração é instável e está ferido, encontrar instrumentos de morte nas mãos, mais cedo ou mais tarde usá-los-á. E como se pode falar de paz, se cresce a produção, a venda e o comércio das armas? Hoje, como no tempo de Herodes, as conspirações do mal, que se opõem à luz divina, movem-se à sombra da hipocrisia e do escondimento. Quantos massacres armados acontecem num silêncio ensurdecedor, ignorados de tantos! O povo, que não quer armas mas pão, que tem dificuldade em acudir às despesas quotidianas, ignora quanto dinheiro público é destinado a armamentos. E, contudo, devia sabê-lo! Fale-se disto, escreva-se sobre isto, para que se conheçam os interesses e os lucros que movem os cordelinhos das guerras.

Isaías, que profetizara o Príncipe da paz, deixou escrito que virá um dia em que «uma nação não levantará a espada contra outra»; um dia em que os homens «não se adestrarão mais para a guerra», mas «transformarão as suas espadas em relhas de arado, e as suas lanças em foices» (2, 4). Com a ajuda de Deus, esforcemo-nos para que se aproxime esse dia!

Aproxime-se em Israel e na Palestina, onde a guerra abala a vida daquelas populações. A todas abraço, em particular às comunidades cristãs de Gaza e de toda a Terra Santa. Trago no coração a dor pelas vítimas do execrável atentado de 7 de outubro passado, e renovo um premente apelo pela libertação de quantos se encontram ainda reféns. Suplico que cessem as operações militares, com o seu espaventoso rasto de vítimas civis inocentes, que se ponha remédio à desesperada situação humanitária, possibilitando a entrada das ajudas. Não se continue a alimentar violência e ódio, mas avance-se no sentido duma solução para a questão palestiniana, através dum diálogo sincero e perseverante entre as Partes, sustentado por uma forte vontade política e pelo apoio da comunidade internacional.

Depois o meu pensamento volta-se para a população da atribulada Síria, bem como para a do Iêmen, mergulhada no sofrimento. Penso no amado povo libanês e rezo para que possa em breve encontrar estabilidade política e social.

Com os olhos fixos no Menino Jesus, imploro a paz para a Ucrânia. Renovemos a nossa proximidade espiritual e humana ao seu martirizado povo, para que, graças ao apoio de cada um de nós, possa sentir o amor concreto de Deus.

Aproxime-se o dia da paz definitiva entre a Arménia e o Azerbaijão. Seja ela favorecida através da prossecução das iniciativas humanitárias, o regresso dos deslocados às suas casas na legalidade e em segurança, e o respeito mútuo pelas tradições religiosas e locais de culto de cada comunidade.

Não esqueçamos as tensões e os conflitos que transtornam a região do Sahel, o Chifre de África, o Sudão, bem como os Camarões, a República Democrática do Congo e o Sudão do Sul.

Aproxime-se o dia em que serão reforçados os laços fraternos na península coreana, abrindo percursos de diálogo e reconciliação que possam criar as condições para uma paz duradoura.

O Filho de Deus, feito humilde Menino, inspire as autoridades políticas e todas as pessoas de boa vontade do continente americano para se encontrarem soluções idóneas a fim de superar os dissídios sociais e políticos, lutar contra as formas de pobreza que ofendem a dignidade das pessoas, aplanar as desigualdades e enfrentar o doloroso fenómeno das migrações.

Reclinado no presépio, o Menino pede-nos para sermos voz de quem não tem voz: a voz dos inocentes, que morreram por falta de água e pão; voz de quantos não conseguem encontrar emprego ou que o perderam; voz de quem é constrangido a abandonar a sua terra natal à procura dum futuro melhor, arriscando a vida em viagens extenuantes e à mercê de traficantes sem escrúpulos.

Irmãos e irmãs, aproxima-se o tempo de graça e esperança do Jubileu, que vai começar dentro de um ano. Que este período de preparação seja ocasião para converter o coração; dizer «não» à guerra e «sim» à paz; responder com alegria ao convite do Senhor que nos chama, como profetizou Isaías, «para levar a boa-nova aos pobres, para curar os desesperados, para anunciar a libertação aos exilados e a liberdade aos prisioneiros» (61, 1).

Estas palavras cumpriram-se em Jesus (cf. Lc 4, 18), hoje nascido em Belém. Acolhamo-Lo, abramos o coração a Ele, o Salvador, o Príncipe da paz!”

Fonte: Vatican News

NATAL DO SENHOR

“Hoje nasceu para nós um Salvador, que é o Cristo, o Senhor! 

O caminho percorrido no Advento foi criando um clima de expectativa para as festas natalinas. O coração foi sendo preparado para acolher com alegria o Salvador. Agora é tempo de júbilo, de festa e de unir as nossas vozes com a vozes dos anjos que anunciaram o extraordinário acontecimento do nascimento de Jesus Cristo. Assim como os anjos anunciaram aos pastores: “hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador”; a Igreja anuncia aos habitantes do mundo que “hoje” nasceu para todos o Salvador.  

Ainda é atual e necessário o anúncio de que “hoje nasceu o Salvador?” A humanidade atual goza de progressos em todas as áreas, usufrui de um progresso técnico, científico que tornou a geração atual extremamente poderosa e autossuficiente. Talvez ela nem deseja a presença de Deus. Todas as invenções humanas são maravilhosas, úteis e necessárias para o bem da humanidade. A pergunta é se tudo isto também faz crescer a vida espiritual e ensina a amar o próximo, cuidar da “casa comum?” 

O extraordinário acontecimento do Natal celebra o acontecimento central da história da humanidade: Jesus Cristo assume a condição humana para salvar humanidade. O evangelista Lucas situa este acontecimento no contexto histórico. Portanto, foi numa noite historicamente datada que se verificou o acontecimento esperado por tanto tempo. Parece algo tão bonito e ao mesmo tempo tão distante. O fato revela quem é Deus. Ele se fez próximo e está muito próximo de nós, que tem tempo para todos e veio morar entre nós. Somente a grandeza de Deus permite que assuma a vida de menino, nascer num lugar periférico. Fez-se pequeno para permitir livre acesso a ele. Deus tornou-se um de nós para que pudéssemos viver com ele, tornando-nos semelhantes a ele.  

O Natal anuncia a paz. A história da humanidade está marcada por tantos sofrimentos provocadas por decisões humanas. Acompanhamos diariamente notícias desta natureza, onde as guerras são um exemplo extremo de fonte de sofrimento. Na noite do Natal a liturgia vai recordar o anúncio do profeta Isaías: “Porque nasceu para nós um menino, foi-nos dado um filho: ele traz nos ombros a marca da realeza; o seu nome é: conselheiro admirável, Deus forte, Pai dos tempos futuros, Príncipe da paz”. Segundo o evangelista Lucas, o anúncio do nascimento de Jesus aos pastores se completa com uma multidão da coorte celeste cantando louvores: “Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens por ele amados”. 

O sentido bíblico da paz é bem amplo. Designa boa ordem e harmonia, vai além do pensamento humano, é fruto do espírito. A paz é um estado de tranquilidade interior e de relações harmoniosas com a comunidade. Em resumo, significa um conjunto de fatores que tornam a vida humana digna, realmente humana. A paz bíblica sempre compreende a presença de Deus. Ele é a referência e a garantia da paz. Ele quer a “paz para todos os homens na terra”. Paz sempre é comunhão com Deus e o próprio Jesus é nossa paz. 

A paz é um dom concedido, mas também uma missão confiada. Ao celebrarmos o Natal somos convidados a ser mensageiros da paz. Convidados a unir nossas vozes para anunciarmos a paz. Também supliquemos que as promessas de Deus se realizem. Onde houver discórdia que desponte a paz. Onde houver ódio e indiferença nasça o amor. Onde predominam as trevas surja a luz. Amém. 

Feliz a abençoado Natal. 

Fonte: CNBB

O Papa à Cúria: só quem ama caminha rumo à verdade

Francisco se reuniu com os cardeais para os votos de Natal. A eles, afirmou que a dificuldade hoje é transmitir paixão a quem já há muito tempo a perdeu: “À distância de sessenta anos do Concílio, ainda se debate sobre a divisão entre ‘progressistas’ e ‘conservadores’, e esta não é a diferença. A verdadeira diferença central está entre ‘apaixonados’ e ‘habituados’. Esta é a diferença. Só quem ama pode caminhar”.


Hoje é dia de felicitações natalinas no Vaticano. A primeira audiência do Papa foi com os membros da Cúria Romana, reunidos na Sala das Bênçãos. Aos cardeais, dirigiu um discurso inspirado em alguns dos principais personagens do Natal para ressaltar três verbos: escutardiscernircaminhar.

Num tempo ainda marcado tristemente pelas violências da guerra, pelas alterações climáticas, pela pobreza e pela fome, disse o Papa, sempre precisamos ouvir e receber o anúncio de que “Deus vem”.

Escutar “de joelhos”

Maria, portanto, inspira o escutar. A jovem de Nazaré deu ouvidos ao anúncio do Anjo e abriu o coração ao projeto de Deus. Escutar é um verbo bíblico que não diz respeito apenas ao ouvido, mas requer o envolvimento do coração e consequentemente da própria vida. E não só: Maria compreende que é destinatária de um dom inestimável e, “de joelhos”, isto é, com humildade e maravilha, coloca-se à escuta.

“Escutar ‘de joelhos’ é o melhor modo para escutar de verdade, pois significa que estamos diante do outro, não na posição de quem pensa que sabe tudo, mas ao contrário abrindo-nos ao mistério do outro.”

Às vezes, se corre o risco de ser como lobos vorazes: procura-se de imediato devorar as palavras do outro, sem verdadeiramente as escutar. Por isso, a exortação do Papa é para aprender a contemplação na oração, permanecendo de joelhos diante do Senhor, mas com o coração e não apenas com as pernas.

“Escutemo-nos mais, sem preconceitos, com abertura e sinceridade; com o coração de joelhos.”

Papa discursa à Cúria

A coragem do discernimento

A escuta mútua leva ao segundo verbo: discernir, que Francisco desenvolve a partir de João Batista. Jesus não era como ele O esperava e por isso o próprio Precursor deve converter-se à novidade do Reino, deve ter a humildade e a coragem de fazer discernimento.

De igual modo, disse o Papa, o discernimento é importante para todos, para não cair na pretensão de já saber tudo, “repetindo simplesmente esquemas, sem considerar que o Mistério de Deus sempre nos supera e que a vida das pessoas e a realidade que nos rodeia são e sempre permanecerão superiores às ideias e teorias. A vida é superior às ideias, sempre”.

O discernimento deve ajudar no trabalho da Cúria a ser dóceis ao Espírito Santo, para poder escolher as orientações e tomar as decisões, não com base em critérios mundanos nem simplesmente aplicando regulamentos, mas segundo o Evangelho.

Só caminha quem ama

Por fim, a terceira palavra: caminhar, inspirado pelo movimento dos Magos.

A alegria do Evangelho, explicou o Pontífice, desencadeia em nós o impulso do seguimento, provocando um verdadeiro êxodo de nós mesmos e encaminhando-nos para o encontro com o Senhor. A fé cristã, recordou, não pretende confirmar as nossas seguranças. Pelo contrário, coloca-nos em viagem.

“Também aqui, no serviço da Cúria é importante permanecer a caminho, não cessar de procurar e aprofundar a verdade, vencendo a tentação de ficar parado e «labirintar» dentro dos nossos recintos e dos nossos medos.”

Os medos, a rigidez, a repetição dos esquemas, prosseguiu o Papa, geram uma situação estática, que tem a vantagem aparente de não criar problemas – quieta non movere –, mas levam a girar sem resultado nos nossos labirintos, penalizando o serviço que são chamados a oferecer à Igreja e ao mundo inteiro.

“Permaneçamos vigilantes contra a fixidez da ideologia”, pediu Francisco. Quando o serviço que se realiza corre o risco de se tornar morno, rígido ou medíocre, preso nas redes da burocracia e da insignificância, é preciso olhar para o alto, recomeçar a partir de Deus.

“É preciso coragem para caminhar, para ir mais longe. É uma questão de amor.”

Para Francisco, hoje a dificuldade é transmitir paixão a quem já há muito tempo a perdeu: “À distância de sessenta anos do Concílio, ainda se debate sobre a divisão entre ‘progressistas’ e ‘conservadores’, e esta não é a diferença. A verdadeira diferença central está entre ‘apaixonados’ e ‘habituados’. Esta é a diferença. Só quem ama pode caminhar”.

“Não percamos o humorismo”

O Papa concluiu agradecendo aos cardeais pelo trabalho e dedicação, sobretudo aquele realizado no silêncio.

“Que o Senhor Jesus, Verbo Encarnado, nos dê a graça da alegria no serviço humilde e generoso. E, por favor, não percamos o humorismo. E, diante do presépio, façam uma oração por mim.”

Como é tradição, o Santo Padre presenteou os cardeais com três livros de sua autoria: “Santos, não mundanos. A graça de Deus nos salva da corrupção interior” e “Natal. Homilias e discursos selecionados” e “Papa Francisco. Dez anos juntos. As felicitações da Cúria Romana 2013-2023”.

Depois da Cúria, o Papa se reúne com os funcionários e seus familiares do Vaticano na Sala Paulo VI.

Fonte: Vatican News

Bispo explica participação nas duas celebrações do dia 24 de dezembro

Responsável da Comissão de Liturgia da CNBB orienta sobre a participação nas duas Missas de domingo: 4º Domingo do Advento e Vigília de Natal

Da redação, com CNBB

No próximo domingo, 24, acontecerá algo que tem deixado vários fiéis em dúvida em relação à participação nas celebrações que acontecem no mesmo dia: a do 4º domingo do Advento e a da Vigília do Natal / Foto: CNBB

O Catecismo da Igreja Católica ensina que a celebração dominical do Dia e da Eucaristia do Senhor está no coração da vida da Igreja, que “O domingo, em que se celebra o mistério pascal, por tradição apostólica, deve guardar-se em toda a Igreja como o primordial dia festivo de preceito”.

No próximo domingo, dia 24, acontecerá algo que tem deixado vários fiéis em dúvida em relação à participação nas celebrações que acontecem no mesmo dia: a do 4º domingo do Advento e a da Vigília do Natal ou a do Natal do Senhor, no caso da celebração da I Véspera da Solenidade do dia seguinte, 25 de dezembro.

O dia do Natal de Jesus está entre aqueles que devem ser guardados e cuja participação dos fiéis é obrigatória, no dia festivo ou na tarde antecedente.

Por isso, o bispo de Livramento de Nossa Senhora (BA) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Armando Bucciol, explica “de maneira essencial” o que os fiéis podem fazer:

“Cada um, cada uma, faça o possível para participar no sábado à noite ou no domingo pela manhã da missa do 4º domingo do Advento, para participar também da Missa da noite do Natal e/ou do dia de Natal, que tem as duas celebrações características litúrgicas e espirituais próprias. Esse é o ideal que todo cristão católico é convidado a viver”.

Dom Armando orienta fiéis a participar das duas celebrações, mas sabe que para muitos é difícil. Nesse caso, pede prioridade à Missa do Advento / Foto: A12

Dom Armando, porém, compreende “e vive” a situação da maioria das comunidades do Brasil. Responsável por uma diocese no interior da Bahia, o bispo reconhece as dificuldades presentes onde há somente uma Missa e de costume à noite. “A missa da noite do dia 24 abre para a celebração do Natal do Senhor, com a missa da noite de Natal. Nesse caso, aconselho os irmãos e as irmãs para que, se puderem, vivam com fé, em profunda oração o 4º domingo do Advento, esperando com Maria, e como Maria – ela é a protagonista do quarto domingo do Advento – esperando a chegada do Senhor”.

O presidente da Comissão para a Liturgia da CNBB convida para a vivência no espírito litúrgico do Advento, que abre para a acolhida do Natal do Senhor, e recorda o ensinamento do Papa São João Paulo II, para quem a participação semanal na Eucaristia “‘deve ser uma exigência, mais do que uma obrigação’. Trata-se de uma espiritualidade litúrgica que deve informar e formar a vida toda do cristão”.

“Se é verdade que as duas celebrações – 4º domingo e Vigília de Natal – tem características próprias, leituras e uma liturgia própria, nos pedem de participar de ambas. Mas quem não puder, por motivo de alguma concreta dificuldade, eu insisto: viva com fé e alegria o dia de domingo com intensidade espiritual e em atitude de orante espera”.

Dom Armando finaliza lembrando a antífona da entrada da missa da Noite de Natal, que diz “alegremo-nos todos no Senhor, hoje nasceu o Salvador do mundo, desceu do céu a verdadeira paz” e deseja: “Que possamos nos dispor com intensa espiritualidade para acolher o Salvador do Mundo e a sua verdadeira paz”.

 

Fonte: Canção Nova

Filme sobre Santa Teresinha é um presente para os católicos neste Natal

Cena do documentário “Um retrato de Teresa”

“Um retrato de Teresa” foi filmado em três países e mostra em detalhes a vida de uma das santas mais populares do Brasil

O documentário “Um retrato de Teresa” estreia nesta sexta-feira, 22 de dezembro, no canal do Youtube da Lumine.

O longa-metragem de 1h30 de duração é uma uma imersão na vida cotidiana de Santa Teresinha, uma das santas mais populares do Brasil. A produção investiga as causas que fizeram da religiosa francesa uma das maiores santas dos tempos modernos. Para isso, a produção realizou gravações em três países: França, Estados Unidos e Brasil.

“Hoje, as pessoas são incentivadas a buscar a felicidade em coisas externas, como o dinheiro, status e sucesso. É fácil nos sentirmos perdidos e desmotivados, com a impressão de que não estamos fazendo diferença no mundo”, reflete o fundador da Lumine, Matheus Bazzo. “Por isso, os exemplos de vidas extraordinárias e heróicas são tão importantes, mostrando que é possível viver uma vida com significado. É para revelar essa perspectiva que apresentamos a história de quem provou ser possível um caminho heróico e grandioso mesmo nas pequenas coisas”, explica.

Depoimentos de especialistas

“Um retrato de Teresa” reúne diversos especialistas, tanto leigos como religiosos. Também traz cenas de lugares que marcaram a vida da freira carmelita.

A equipe da Lumine esteve em Alençon e Lisieux, no interior da França. Foram visitados os cômodos da casa da família Martin — que hoje se transformou em um santuário e está aos cuidados de irmãs brasileiras.

Além disso, o documentário exibe imagens do carmelo onde Teresinha morou e da basílica que leva seu nome. A jornada pela França é acompanhada pelas freiras Thaynara Gabrielle e Janine Muniz Brito; pelo padre Olivier Ruffray, vigário-geral da diocese de Bayeux e Lisieux; e pelo padre Thierry Hénault, sobrinho-bisneto de São Louis Martin e reitor do Santuário de Alençon à época das gravações.

Já nos Estados Unidos, foram registradas em detalhes as relíquias da proclamada Doutora da Igreja. Em Illinois, o entrevistado é o padre Robert Colaresi, diretor do Centro Carmelita Espiritual de Darien. E, no Brasil, foi entrevistado o padre Paulo Ricardo — um dos grandes responsáveis pela popularização da devoção à santa da pequena via no país. “Para entender realmente quem é Santa Teresinha, tem de entender que Deus manda o santo certo na hora certa. Deus nos mandou uma santa, um gênio espiritual”, explica o sacerdote.

Um filme para o Natal

Mas qual a relação de Santa Teresinha com a festividade natalina? “Esse filme não é de Natal, mas para o Natal. É um convite para refletir sobre a fé, a partir da trajetória de uma vida absolutamente inspiradora”, esclarece Gustavo Leite, que dirige o longa-metragem ao lado de Julia Sondermann. “Buscamos imprimir uma visão artística, poética e contemplativa sobre a biografia dela, que já é bem conhecida. Focamos nos sentimentos que ela teve ao longo de seus 24 anos, que são o que tornam sua vida real e palpável para todos nós”, complementa o diretor.

Quando criança, Marie-Françoise-Thérèse Martin era sentimental e centrada em si mesma. A mudança veio em um episódio que ficou conhecido como “Milagre de Natal”. Naquela noite, devido a um comentário do pai que a deixou triste, ela teve vontade de chorar. Mas ela decidiu conter as lágrimas e não fazer birra. Foi o momento que marcou sua conversão, a partir do qual dedicou-se inteiramente a Deus.

“Esse milagre é o cerne do nosso novo original. Um lançamento que é, sim, um especial de Natal, mas que pode e deve ser apreciado em qualquer época do ano. Nosso convite não é para que você conheça aquela Santa Teresinha pequena e fraca. Mas que conheça essa Santa Teresinha imponente, sábia e extraordinária que, dia após dia, ofereceu sua vida para Deus”, conclui Matheus Bazzo.

O documentário pode ser visto gratuitamente a partir das 20h desta sexta-feira, dia 22 de dezembro. Clique aqui para assistir.

Fonte: Aleteia

A Igreja e a bênção dos casais em situação irregular e do mesmo sexo

casais do mesmo sexo

Em entrevista exclusiva, o pe. José Eduardo de Oliveira esclarece o que é fato e o que é sensacionalismo

Na data de hoje, o Dicastério para a Doutrina da fé publicou um documento que fala sobre a bênção de casais em situação irregular e de parceiros do mesmo sexo. A notícia colocou em ebulição todo o orbe católico, inflamado pelas manchetes sensacionalistas, que procuram tirar audiência do assunto. Diante disso, fizemos uma entrevista com o Pe. Dr. José Eduardo de Oliveira e Silva, da Diocese de Osasco, doutor em Teologia Moral.

Aleteia: Padre, o Documento publicado hoje tem causado reações polarizadas, qual seria, afinal, a finalidade desse tipo de pronunciamento do Magistério em si?

Pe. José Eduardo: Como o próprio Card. Fernández, Prefeito do Dicastério, salientou logo na introdução, o documento é apresentado sob a tipologia de Declaração, que é o tipo mais simples de documentos magisteriais. Diferentemente de uma Instrução, que teria caráter mais normativo, uma Declaração é apenas uma manifestação do Magistério acerca de um tema controverso, mas não com a força de uma definição.

Aleteia: Qual seria o objetivo dessa Declaração?

Pe. José Eduardo: Como o próprio nome indica, “Fiducia supplicans”, “a Confiança Suplicante” com a qual o povo de Deus pede aos seus ministros, especialmente os sacerdotes, uma oração, uma invocação, uma bênção, uma ajuda para uma situação de suas vidas é o tema de fundo do texto, que pretende responder se esse tipo de auxílio pode ser dado a pessoas que não estão em condições moralmente regulares.

Aleteia: Então, o documento não altera a doutrina da Igreja em relação ao matrimônio?

Pe. José Eduardo: De modo algum, se lermos atentamente o texto do documento, e não as notícias veiculadas pela mídia, veremos que o Dicastério para a Doutrina da Fé faz exatamente o contrário: “trata-se de evitar reconhecer-se como matrimônio algo que não o é”, pois o matrimônio é “uma união exclusiva, estável e indissolúvel entre um homem e uma mulher, naturalmente aberta à geração de filhos”… “Esta convicção é fundada sobre a perene doutrina católica do matrimônio. Somente neste contexto as relações sexuais encontram o seu sentido natural, adequado e plenamente humano. A doutrina da Igreja, sob esse ponto, permanece firme” (n. 4).

O n. 4 do documento é claro e contundente, chegando a dizer que “são inadmissíveis ritos e orações que possam criar confusão entre aquilo que é constitutivo do matrimônio”. Portanto, não há nisso nenhuma ambiguidade. Pelo contrário, o Magistério apenas reafirma a sua posição perene.

Aleteia: Isso significa que o documento não traz nenhuma novidade?

Pe. José Eduardo: A Declaração apresenta uma evolução na compreensão teológica das “bênçãos” e, neste sentido, abre uma nova perspectiva. Sem excluir que uma bênção nunca “pode oferecer uma forma de legitimação moral a uma união que se presuma um matrimônio ou a uma práxis sexual extramatrimonial”, o documento afirma que “se deve evitar o risco de reduzir o sentido das bênçãos apenas a este ponto de vista, porque nos levaria a pretender, para uma simples bênção, as mesmas condições morais que se requerem para a recepção dos sacramentos” (nn. 11-12). Deste modo, o Dicastério deixa claro que está excluída qualquer concepção sacramental (matrimônio, confissão, eucaristia etc) relativamente a esses casos. Em outras palavras, é doutrina comum da Igreja que uma pessoa em pecado grave possa receber uma bênção.

Aleteia: Mas abençoar uma pessoa que está claramente em pecado grave não pode ser um escândalo para os outros fiéis? E isso não seria espiritualmente inútil?

Pe. José Eduardo: O Documento concretiza as circunstâncias em que tais “bênçãos” possam eventualmente acontecer: nunca dentro de uma celebração litúrgica, nunca dentro ou no contexto da celebração de algum sacramento (n. 24), nunca com um formulário litúrgico (nn. 32 e 35), sempre de forma privada (n. 40), sob o juízo cautelar do sacerdote ad casum (n.40), e sempre como uma oração espontânea pelos que pedem a bênção (n. 33), acompanhada de uma súplica para que façam a vontade de Deus (n. 20) e como meio de lhes pregar o querigma, a fim de que se convertam (n. 44).

A Declaração, ainda, afirma que “esta bênção nunca será dada no contexto de ritos de união civil e outros que estejam relacionais com esses. Nem com as vestes nupciais, os gestos ou as palavras próprios de um matrimônio. O mesmo vale quando a bênção é solicitada por uma dupla do mesmo sexo” (n. 39).

Em outras palavras, a Declaração apenas diz que nós, padres, em situações muito restritivas, podemos rezar por pessoais que estejam nessa situação. E isso, francamente, não me parece uma grande novidade. A novidade se dá na explicitação do alcance não litúrgico de uma simples bênção.

Aleteia: Mas, estando essas pessoas em pecado mortal, a tal bênção não seria inútil?

Pe. José Eduardo: A Igreja sempre ensinou que aqueles que estão em pecado mortal não estão em estado de graça habitual, mas podem receber aquilo que chamamos de graça atual, ou seja, um impulso sobrenatural que dispõe o homem ao arrependimento, à conversão e à recuperação da graça santificante. Neste sentido, rezamos pela conversão dos pecadores e podemos dar-lhes a bênção como um estímulo a que se aproximem mais do Senhor (Catecismo da Igreja Católica, n. 2000).

Aleteia: Portanto, a Igreja não estaria aprovando essas uniões nem incentivando as pessoas a assumir um estilo de vida contraditório com o matrimônio?

Pe. José Eduardo: Exatamente. Trata-se, na verdade, do contrário: a Igreja estende o seu braço materno na direção de todos os homens, fazendo o máximo que pode ser feito sem ferir os mandamentos de Deus. Não podendo dar os sacramentos nem podendo confirmar as escolhas intrinsecamente ilícitas dos seus filhos, a Igreja intercede por eles, invocando a bênção divina para que possam progredir no seu processo de conversão.

Aleteia: Esse documento tem a aprovação do Papa Francisco?

Pe. José Eduardo: Sim. Pertence aos documentos publicados ex audientia Sanctissimi, ou seja, são documentos do magistério papal, embora não sejam emanados diretamente por ele.

Aleteia: Como um fiel que vive a castidade pode entender que a Igreja abençoe pessoas que estão vivendo em situação oposta à que eles vivem, às vezes com muito sacrifício?

Pe. José Eduardo: A Declaração cita, no n. 27, um lindo texto do Santo Padre, em que ele faz uma breve teologia da bênção. Ali, ele afirma, no fundo, que Deus não desiste de nós, ainda quando estamos em pecado. Essa atitude é muito afinada com a eclesiologia do Papa Francisco, em que a Igreja sai ao encontro dos homens e das mulheres que estão do lado de fora, procurando cativá-los para que, progressivamente, adiram ao Evangelho. Creio que qualquer pessoa que esteja lutando para viver a conversão diária possa facilmente entender que outros precisem de um impulso para chegar ao seu mesmo nível de formação da consciência, ao seu mesmo comprometimento com a vida moral cristã.

 

Fonte: Aleteia

A ALEGRIA DA ESPERANÇA NO ADVENTO

Hoje, neste Terceiro Domingo do Advento, celebramos a alegria da espera pela vinda do Salvador. Este momento marca não apenas a expectativa do Natal, mas também nos lembra da esperança que brota em nossos corações pela vinda do Messias. 

Nossa alegria encontra base na promessa de Deus, conforme proclamada por Isaías: “Alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito, alegrai-vos” (Filipenses 4,4). Esta alegria não depende das circunstâncias externas, mas da presença viva e real do amor de Deus em nossas vidas. 

Ao acender a terceira vela do advento, adentramos na fase mais radiante desta espera. É o chamado “Domingo Gaudete”, que nos lembra a alegria profunda que encontramos na vinda do Salvador. 

A novena que hoje se inicia nos prepara espiritualmente para o Natal, reforçando em nós a paciência e a expectativa confiante. A cada dia, ao meditarmos na Palavra de Deus e nos aproximarmos Dele em oração, somos lembrados de que a vinda de Cristo é uma promessa cumprida de amor e salvação. 

Em meio às incertezas do mundo, somos convidados a olhar para o exemplo de João Batista, que veio como uma voz no deserto, preparando o caminho para o Senhor. Ele nos ensina sobre a humildade, a preparação interior e a prontidão para acolhermos o Cristo que vem. 

Portanto, enquanto nos preparamos para a celebração do Natal, que possamos refletir sobre as palavras de Paulo aos Romanos: “A esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Romanos 5,5). 

Que esta novena do Advento nos conduza à alegria da esperança, fortalecendo nossa fé na promessa de Deus e nos preparando para acolhermos o Menino Jesus em nossos corações e lares. 

Que Deus nos abençoe abundantemente nesta jornada de fé e expectativa. Amém. 

Fonte: CNBB

CÂMARA MUNICIPAL DE GUARABIRA CONCEDE A MEDALHA ZENÓBIO TOSCANO AO MONSENHOR LUIZ PERCARMONA

Medalha é concedida aos relevantes serviços prestados à comunidade.


O Monsenhor Luiz Pescarmona, atual vigário paroquial da Catedral de Nossa Senhora da Luz, recebeu das mãos da Excelentíssima Vereadora Jussara Maria, a Medalha Zenóbio Toscano, aprovada pela Resolução n° 215/2021, na tarde de ontem, dia 14 de Dezembro, no plenário da Casa Osório de Aquino, atual prédio da Câmara Municipal de Guarabira.

Momento da entrega da Medalha Zenóbio Toscano pelas mãos da Vereadora Jussara Maria

 

A Vereadora elencou, em suas razões por conceder tal honraria legislativa, na tribuna da edilidade, que o Monsenhor é incansável, que todas as noites está sentado na frente de Catedral confessando os fiéis; explanou que, para ela, o Monsenhor não é só um padre, mas um pai, que ensina a palavra de Deus. Relembrou que o mesmo adveio da Itália, amar Guarabira, e que merece todos os elogios.

Medalha Zenóbio Toscano

 

Vale ressaltar que a Medalha Zenóbio Toscano é uma honraria instituída como forma de reconhecimento pelos grandes e relevantes serviços sociais prestados ao município de Guarabira, aclamando à população o papel impecável do agraciado na luta pelos direitos civis e públicos.

Verso da Medalha Zenóbio Toscano

 

Gabriel Araújo – Pascom Luz

O Natal não é a festa de aniversário de Jesus

Alguns pensam que celebrar o Natal é comemorar o aniversário de Jesus, e chegam até a cantar “parabéns pra você”. Mas esse nunca foi o sentir da Igreja a respeito deste tempo litúrgico.

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Alguns pensam que celebrar o Natal é comemorar o aniversário de Jesus; alguns chegam até a cantar “parabéns pra você”! Coisa totalmente fora de propósito, contrária ao sentimento da Igreja e fora do sentido da celebração dos cristãos. Então, se não celebramos o aniversário de Jesus, o que fazemos no Natal?

Antes de tudo é necessário entender o que é a Liturgia, a Celebração da Igreja.

Vejamos. O nosso Deus, quando quis nos salvar, agiu na nossa história. Primeiramente agiu na história de toda a humanidade, guiando de modo secreto e sábio todos os seres humanos e sua história. Basta que pensemos nos santos pagãos do Antigo Testamento — santos que não pertenceram ao povo de Israel: Sto. Abel, Sto. Henoc, São Matusalém, São Noé, São Melquisedec, São Jó, São Balaão… Nenhum destes pertencia ao povo de Deus… e no entanto, Deus agia através deles… Depois, Deus agiu de modo forte, aberto, intenso na história do povo de Israel, com as palavras de fogo dos profetas, com a mão estendida e o braço potente nas obras maravilhosas em benefício do seu povo eleito.

Finalmente, Deus agiu de modo pleno e total, fazendo-se pessoalmente presente, em Jesus Cristo, que é o cume, o centro e a finalidade da revelação e da ação de Deus: em Jesus, tudo quanto Deus sonhou para nós se realizou de modo pleno, único, absoluto, completo e definitivo! Então, o nosso Deus não se revela principalmente com ensinamentos, com doutrinas e conselhos, mas com ações concretas e palavras concretas de amor! E tudo isso chegou à plenitude na vida, nos gestos, palavras e ações de Jesus Cristo!

Pois bem: são estas obras salvíficas de Deus, realizadas de modo pleno em Jesus, que nós tornamos presente na nossa vida quando celebramos a Santa Liturgia, sobretudo a Eucaristia! Na força do Espírito Santo de Jesus, através das palavras, dos gestos e dos símbolos litúrgicos, os acontecimentos do passado — todos resumidos em Cristo: na sua Encarnação, no seu Nascimento, Ministério, Morte e Ressurreição e no Dom do seu Espírito — tornam-se presentes na nossa vida.

Vejamos, agora, o caso do Natal. Quando a Igreja celebra as cinco festas do Natal, ela quer celebrar não o aniversarinho do menininho Jesus… O que ela quer fazer e faz é tornar presente para nós, na força do Espírito Santo, a graça da vinda do Cristo! Celebrando a liturgia do Natal, o acontecimento do passado (a Manifestação do Filho de Deus) torna-se presente no hoje da nossa vida! Na liturgia do Natal a Igreja não diz: “Há dois mil anos nasceu Jesus”! Nada disso! O que ela diz é: “Alegremo-nos todos no Senhor: hoje nasceu o Salvador do mundo, desceu do céu a verdadeira paz!” (Antífona de Entrada da Missa da Noite do Natal).

Então, celebrando as santas festas do Natal, celebramos a Manifestação do Salvador no nosso hoje, na nossa vida, no nosso mundo! A liturgia tem essa característica: na força do Santo Espírito torna presente realmente, de verdade, aquele acontecimento ocorrido no passado. Não é uma repetição do acontecimento, nem uma recordação! É, ao invés, aquilo que a Bíblia chama de memorial, isto é, tornar presente os atos de salvação de Deus!

Agora vejamos: a Eucaristia é a celebração, o memorial da Páscoa do Senhor. Como é, então, que no Natal a gente celebra a Missa, que é a Páscoa? Como é que já no Natal a Igreja mete a celebração da Páscoa? É que a Eucaristia não é simplesmente a celebração da paixão, morte e ressurreição de Cristo! Essa seria uma idéia muito mesquinha, estreita! Em cada Missa é todo o mistério da nossa salvação que se faz presente, é tudo aquilo que Deus realizou por nós, desde a criação até agora… e tudo isso tem o seu centro em Jesus: na sua Encarnação, na sua vida e na sua pregação, e alcança seu cume na sua morte e ressurreição, na sua ascensão e no dom do Santo Espírito. Então, celebramos as cinco festas do Natal celebrando a Missa, porque aí o mistério, o acontecimento da nossa salvação se torna presente e atuante na nossa vida.

Voltando para casa após a Missa do Natal, podemos dizer: “Hoje eu vi, hoje eu ouvi, hoje eu experimentei, hoje eu testemunhei e hoje eu anuncio: nasceu para nós, nasceu para o mundo um Salvador! Ele veio, ele não nos deixou, ele se fez nosso companheiro de estrada!” Celebrando a Eucaristia do Natal, recebemos a graça do Natal, entramos em comunhão com o Cristo que veio no Natal, porque recebemos no Corpo e Sangue do Senhor o próprio Cristo que nasceu para nós, e, agora, Cristo ressuscitado, pleno do Santo Espírito! É incrível, mas a graça do Natal chega a nós mais do que chegou para Maria e José e os pastores e os magos. Porque eles viram um menininho no presépio, enquanto nós o recebemos dentro de nós, seu Corpo no nosso corpo, seu Sangue no nosso sangue, sua Alma na nossa alma, seu Espírito no nosso espírito… e não mais um menininho frágil, com esta nossa vidinha humana, mas o próprio Filho agora glorificado, com uma natureza humana imortal e gloriosa, que nos transformará para a vida eterna.

Então, que neste Natal ninguém cante parabéns para o Menino Jesus, nem fique com inveja dos pastores e dos magos… Também para nós hoje nasceu um Salvador: o Cristo ressuscitado, glorioso, que recebemos no seu Corpo e Sangue e cujo mistério celebramos nos gestos, palavras e símbolos da liturgia!

-Dom Henrique Soares

Fonte: Padre Paulo Ricardo

Nossa Senhora de Guadalupe, Padroeira da América Latina

A Virgem Maria, na sua belíssima oração do Magnificat, fez uma declaração muito profunda e significativa: “A minha alma engrandece o Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque olhou para a humildade de sua serva. Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada, porque o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor”  (Lc 1,46-49).

Essa relação de bem-aventurança, que muitos povos em vários períodos da história cultivavam com a Virgem Santa, pode ser contemplada pelos diversos títulos que a Doce Mãe do Senhor recebeu ao longo do tempo. Entre esses títulos, um muito belo e importante é este que celebramos hoje, Nossa Senhora de Guadalupe.

Aparições de Guadalupe

A devoção a Mãe de Jesus com esse título se deve a uma das aparições no México. O principal lugar onde os fiéis recorrem para homenageá-la é a Basílica de Guadalupe. Esta fica localizada no Monte Tepeyac, na região norte da Cidade do México. Segundo os relatos da tradição da Igreja do México, e segundo informes históricos do Vaticano, acredita-se que a Mãe do Senhor apareceu ao nativo São Juan Diego em cinco ocasiões. Quatro no monte Tepeyac e a quinta num terreno de propriedade de Juan Bernardino, um tio de Juan Diego.

De acordo com um dos relatos, na primeira aparição a Virgem ordenou a Juan Diego que se apresentasse diante do bispo do México, chamado Juan de Zumárraga.  Este, porém, como era de se esperar, duvidou do nativo. A Virgem, então, pediu que ele procurasse o bispo e mais uma vez ele foi e, por orientação dela, levou ainda em seu ayate, um tipo de instrumento agrícola, para recolher algumas flores colhidas no Tepeyac em pleno inverno. Juan Diego abriu a tilma na presença do bispo Juan de Zumárraga, deixando a imagem miraculosamente estampada da Virgem Maria à vista dele. Ela era morena e com traços mestiços, muito comum entre os nativos da região.

Segundo Nican Mopohua, esses fenômenos espirituais aconteceram no ano de 1531, manifestando-se pela última vez no dia 12 de dezembro do mesmo ano. A principal testemunha desses acontecimentos foi o próprio Juan Diego, que narrou tudo o que havia acontecido. Um tempo depois, esses acontecimentos foram recolhidos em um escrito no idioma náuatle, mas escrito com caracteres latinos. Essa técnica, por sinal, não era dominada por nenhum espanhol e poucos indígenas conheciam ou usavam.

Leia tambémJuan Diego Cuauhtlatoatzin: O nativo que se tornou Santo

Segundo diversos investigadores, o culto da Virgem de Guadalupe é uma das devoções mais historicamente encarnadas na cultura mexicana, influenciando inclusive o desenvolvimento do país desde o século XVI. A veneração da tilma em que está estampada a imagem da Virgem, guardada no Mosteiro Real de Santa Maria de Guadalupe, cresceu a partir do século XIV até o século XVII.

A Virgem Maria vem na simplicidade

Em 1519 uma capela foi dedicada à Virgem Maria no local das aparições. Os nativos então convertidos continuaram a vir de longe para venerar a Mãe do Senhor, chamando-a de Virgem Maria de Tonantzin. Os relatos oficiais da Igreja declaram que Maria apareceu quatro vezes a Juan Diego e uma vez ao seu tio Juan Bernardino. A Juan Diego ela dirigiu-se na língua nativa do império asteca, o náuatle.

Um dia depois da última aparição, Juan Diego encontrou seu tio totalmente recuperado de uma enfermidade, como a Virgem havia prometido, e Juan Bernardino relatou que ele também a tinha visto, ao lado de sua cama, e que ela o instruiu a informar o bispo sobre suas aparições, além da graça da cura milagrosa. Foi ainda naquele momento que a Virgem Santa expressou seu desejo de ser chamada com título de Senhora de Guadalupe.

Significativos gestos de fé da Igreja

O bispo conservou o manto de Juan Diego a princípio em sua capela privada, depois em exibição pública na Igreja, onde atraiu grande atenção. No dia 26 de dezembro de 1531, formou-se uma grande procissão para levar a imagem milagrosa da Virgem de volta ao Tepeyac, ali ela foi instalada numa pequena capela construída às pressas. O primeiro milagre, segundo os biógrafos, ocorreu quando um índio foi ferido mortalmente no pescoço por uma flecha disparada por acidente durante algumas exibições executadas em homenagem à Virgem.

Em grande angústia, os índios levaram o ferido e o colocaram diante da imagem da Virgem, pedindo a ela por sua vida. Ao retirarem a flecha, a vítima ferida teve uma recuperação completa e imediata. A tilma de Juan Diego tornou-se o símbolo religioso e cultural mais popular do México, recebendo apoio tanto da Igreja quanto de instâncias políticas de governo. Juan Diego foi canonizado pela Santa Igreja em 2002, sob o nome de São Juan Diego Cuauhtlatoatzin.

O Papa Bento-XIV, declarou, em 25 de maio de 1754, na Bula Papal, que Nossa Senhora de Guadalupe é patrona da Nova Espanha, espaço esse correspondente à América Central e América do Norte. O Papa Leão XIII, em 8 de fevereiro de 1887, autorizou a coroação canônica da Virgem Santa com esse título. Em 1910, o Papa Pio X proclamou-a padroeira da América Latina.

Peçamos a Deus, por intercessão da Virgem de Guadalupe, a graça de uma renovada fé em Deus e nas maravilhas que Ele pode realizar por meio da intercessão da Virgem Maria.

Nossa Senhora de Guadalupe, rogai por nós

 

Fonte: Comunidade Shalom

COMISSÃO EPISCOPAL PARA A LITURGIA PARTICIPA DA MARATONA “SACROSANCTUM CONCILIUM 60 ANOS”

Há 60 anos promulgava-se a Constituição conciliar sobre a sagrada liturgia Sacrosanctum Concilium. Com a Constituição litúrgica, a celebração do Mistério Pascal voltou a ser a fonte da vida cristã. No Brasil, dedica-se o dia 4 de dezembro para comemorar este grande acontecimento que modificou irreversivelmente o caminhar da Igreja. A Maratona contou com a promoção e a participação da Comissão Episcopal para a Liturgia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), da Edições CNBB, da Associação dos Liturgistas do Brasil, do Centro de Liturgia Dom Clement Isnard e da Rede Celebra.

Para dom Hernaldo Pinto Farias, bispo de Bonfim (BA) e presidente da Comissão Episcopal para a Liturgia da CNBB, a maratona revela a beleza e a profundidade da liturgia da Igreja:

“A necessidade de mostrar as diversas competências e especialidades dos três setores revela a possibilidade que o Brasil tem de se colocar no grande debate litúrgico. Além do mais, voltar a Sacrosanctum Concilium é perceber a riqueza da Igreja no campo litúrgico e o quanto ainda precisamos avançar. Precisamos continuar com tais iniciativas para que outros temas e comemorações possam ser feitas e atinjam os mais diversos públicos da Igreja no Brasil”.

Para padre Márcio Pimentel, membro da Equipe de Reflexão do Comissão Episcopal para a Liturgia e professor de liturgia, o encontro, além de ser uma oportunidade de revisar o caminho de acolhida e recepção da reforma litúrgica, pontuou alguns desafios que perduram após 60 anos da Constituição litúrgica. Dentre eles, a urgência de reapropriar-se do rito como condição para o ato de fé como algo genuíno.

“A fé para nós, cristãos, é encontro, vínculo de confiança. A ritualidade proporciona este dinamismo, orientando nossa sensibilidade, nossa percepção ao reconhecimento de uma presença que se dá simbólico-sacramentalmente. O desafio é ainda descobrir a Liturgia enquanto o “aparecer” do Mistério, a Revelação dando-se e envolvendo-nos corporalmente”, disse. 

Da maratona participaram os assessores e os membros das equipes de reflexão dos três setores da Comissão. Frei Felipe, assessor da Comissão Episcopal para a Liturgia, afirma que a iniciativa e a comunhão das entidades foi muito positivo e histórico.

Revisitar as páginas da Sacrosanctum Concilium, compreender a maneira de viver a ação litúrgica e envolver os seus atores responsáveis é um caminho sempre novo. A constituição litúrgica não é ponto de chegada e nem ponto de partida, mas uma passagem. A reforma litúrgica surte efeito quando chega na nossa realidade, toca a experiência de fé do Povo de Deus e dá vida à espiritualidade da Igreja”, finalizou.  

Fonte: CNBB