TEMPO DE CONFISSÃO

Misericórdia, ó Senhor, pois pecamos (Sl 50) 

O tempo da Quaresma é um tempo propício para realizar a nossa confissão sacramental, a Igreja, que é sempre uma Mãe Misericordiosa, recomenda que ao menos uma vez ao ano nos confessemos por ocasião da Páscoa do Senhor. É claro que podemos nos confessar sempre que sentirmos necessidade, até recomendável uma vez ao mês ou a cada três meses. Neste tempo favorável temos a disponibilidade das confissões em nossas paróquias com grande número de sacerdotes para atender as pessoas em preparação para a Páscoa. Teremos também as 24 horas para o Senhor (8 e 9 de março) que é uma nova oportunidade de oração e confissão em nossas igrejas a pedido do Papa Francisco. Neste ano tem como tema “Caminhar numa vida nova” (Rm 6,4). São oportunidade além do atendimento normal que os padres dão em suas paróquias nos horários estabelecidos, além da visita e confissão dos enfermos. 

A confissão é a cura da alma e do Espírito, a confissão é como um remédio que nos cura interiormente. Para nos aproximarmos da Eucaristia e comungarmos temos que estar em estado de graça, ou seja, com a nossa confissão em dia. Temos que estar em estado de graça, sobretudo, para celebrarmos a Páscoa do Senhor. Na verdade, em toda missa celebramos a Páscoa semanal, por isso, devemos sempre estar preparados.  

Ao longo desse tempo quaresmal somos convidados e viver três práticas espirituais: Oração, Jejum e Caridade. Essas três práticas nos ajudam em nossa penitência propostas para esse tempo quaresmal. Até mesmo como forma de reparação de nossos pecados, ou a penitência dada pelo sacerdote após a confissão. Se estamos rezando pouco poderemos intensificar nossa vida de oração, praticar o jejum e abstinência de carne, e ainda se não somos caridosos o suficiente exercer a caridade.  

Para realizar uma boa confissão é necessário preparar-se bem antes, primeiramente podendo, se quiser, escrever os pecados num papel em casa para ajudar a lembrar na hora da confissão. Em segundo lugar chegar mais cedo na Igreja e antes de se dirigir ao confessionário pedir ao Espírito Santo a iluminação necessária para realizar uma boa confissão. Ainda nesse tempo quaresmal temos a oportunidade de participar das celebrações penitenciais que nos ajudam a examinar as nossas consciências para depois nos confessarmos de maneira auricular – ou seja – de maneira individual com o presbítero.  

Temos também a celebração penitencial como nos orienta o ritual próprio que nos prepara para a confissão e arrependimento, pois é uma preparação para depois nos confessarmos, ao final o sacerdote dá benção final e se dirige ao confessionário para aguardar aqueles fiéis que desejem se confessar de maneira auricular. 

Normalmente as paróquias realizam mutirão de confissões durante a Quaresma e disponibilizam vários sacerdotes e horários para confissão como já dissemos acima. Ao longo do período quaresmal procure a sua paróquia e veja qual dia e horário terá a confissão, ou senão, converse com o seu pároco e veja a disponibilidade dele em lhe atender, ou de outra maneira, vá antes ou após as missas diárias.  

Para que a confissão – cujo nome correto é sacramento da Reconciliação – tenha efeito e de fato recebamos o perdão de nossos pecados, é necessário o sincero arrependimento dos pecados e o propósito de não pecar mais. Não adianta nos confessarmos sem nos arrependermos de coração sincero dos pecados cometidos e nem ter no coração o desejo de não pecar mais. Somos humanos e pecadores, por isso sempre cometeremos algum pecado, é de nossa natureza. Por isso, é claro que não devemos apenas confessar no tempo favorável da Quaresma, mas ao longo do ano sempre que sentirmos necessidade, quem sabe mensalmente ou trimestralmente.  

Temos que confessar os pecados considerados graves ou mortais para que sejam perdoados, já os veniais são aqueles mais leves, que cometemos corriqueiramente no dia a dia e podemos pedir o perdão no ato penitencial durante a missa. Mas, nada impede de confessarmos os pecados veniais também. É prudente confessar-se com frequência, mesmo os pecados veniais, porque se recebe um dom da graça. E como já dissemos é necessário estar em estado de graça para se aproximar da Eucaristia, ou seja, livres de todo o pecado. 

A confissão tem que ser bem-preparada, não podemos fazê-la com pressa e sem nos prepararmos, pois tudo o que é feito com pressa não sai muito bem. Quem sabe podemos ir nos preparando para a confissão ao longo de uma semana, sempre à noite, examinando as nossas consciências e escrevendo num papel os pecados. Que os pais também possam ensinar aos filhos a importância da confissão e sobre estar sempre em estado de graça, sobretudo as crianças que estão na catequese, a partir dos nove anos.  

A confissão tem que ser de maneira auricular e diante do sacerdote, a absolvição geral só é permitida em caso de doença grave ou em caso de algum acidente com risco de morte e que envolva muitas pessoas, tendo um sacerdote presente ele profere a absolvição dos pecados. Por isso, ao longo da celebração penitencial não deve haver a absolvição geral, somente individual ao final da celebração.  

A confissão não é normalmente uma orientação espiritual e nem uma conversa, pois durante a confissão tem que ser direto, falar dos pecados cometidos e ouvir a orientação do sacerdote, se for oportuno, esperar a absolvição dos pecados e orientação de alguma penitência a ser praticada. A confissão não deveria ser um bate papo com o padre, podemos conversar com o padre ou mesmo pedir uma orientação espiritual depois, em outro momento e não no confessionário. Por isso, ao se preparar para a confissão temos de entender bem o que é a confissão, ela consiste em falar ao sacerdote de nossos pecados, não é orientação espiritual, bate papo e nem devemos falar do pecado dos outros, mas apenas os nossos pecados.  

A Igreja nos oferece vários textos penitenciais que podemos ler nesse período quaresmal e em preparação da nossa confissão, como por exemplo, alguns salmos, leituras do Antigo e do Novo Testamento. Essas leituras podemos meditar em casa ou na Igreja, durante os dias de semana ou antes da confissão.  

A confissão pode ser entendida como uma limpeza que fazemos em nossa casa, tem momentos que precisamos tirar a “poeira” para podermos respirar melhor e a casa ficar limpa. Com a confissão “limpamos” o nosso coração, varremos toda a “poeira” que nos impedia de sermos livres em Deus. É voltar a vestir a veste branca do batismo, agora lavada pelo sangue de Cristo. Por isso, não devemos esperar muito para nos confessarmos, a Igreja recomenda na Quaresma ou Advento, mas o ideal seria que nos confessássemos uma vez por mês, para a “poeira” não acumular dentro de nós e estarmos com o coração sempre limpo para Deus.  

Após realizar a confissão e o sacerdote dar a absolvição dos pecados, dirija-se à Capela do Santíssimo Sacramento e agradeça a Deus pela confissão realizada. Temos que sempre ser gratos a Deus, pois Ele sempre está pronto a nos perdoar. Do mesmo modo que temos que chegar antes na Igreja para nos prepararmos para a confissão, não podemos sair correndo depois, mas ficar na Igreja para agradecer a confissão realizada.  

Participemos desse importante sacramento da Igreja deixado por Jesus e realizemos a nossa confissão sacramental, abramo-nos ao perdão e a misericórdia de Deus. Ele é bom e compassivo e sempre está pronto a nos perdoar. Que possamos nos preparar bem para esse momento e quando chegar a Páscoa estarmos “limpos” perante Deus. Deus não se cansa de nos perdoar lembra sempre o Papa Francisco.  

Fonte: CNBB

CÁTEDRA DE SÃO PEDRO

A festa de hoje coloca em evidência a Cátedra de São Pedro, ou seja, a missão peculiar que Jesus confiou a Pedro. Esta festa remonta ao século III e se distingue do martírio de Pedro, em 29 de junho. Esta data nasceu para destacar a “Cátedra” de Pedro, lugar onde o Bispo de Roma reside e governa. A “Cátedra”, sede fixa do Bispo, na igreja mãe de uma Diocese, daí o nome “Catedral”, é símbolo da sua autoridade e doutrina evangélica, que ele, como sucessor dos Apóstolos, é chamado a preservar e transmitir à comunidade cristã. Podemos dizer que a primeira “catedral” foi o Cenáculo, onde Jesus reuniu os seus discípulos para a Última Ceia e onde, junto com a Virgem Maria, receberam o dom do Espírito Santo. Com o passar do tempo, Pedro transferiu-se para Antioquia, cidade evangelizada por Barnabé e Paulo, onde os discípulos de Jesus foram chamados “cristãos” pela primeira vez (Atos 11,6). Pedro foi o primeiro Bispo de Antioquia. Por isso, esta cidade celebrava uma “festa própria” da Cátedra de Pedro, no dia 22 de fevereiro. A seguir, Pedro foi para Roma, onde concluiu a sua vida terrena com o martírio. Por este fim “glorioso” da sua existência, Roma foi considerada sede da “Cátedra” de Pedro, celebrada em 18 de janeiro. Em 1960, o Papa João XXIII uniu as duas festas, abolindo a de 18 de janeiro. Logo, esta festa representa a autoridade pastoral e magistral, que Cristo conferiu ao apóstolo Pedro, segundo a passagem evangélica da liturgia de hoje. Os testemunhos de São Jerônimo e Santo Agostinho ajudam-nos a compreender melhor seu significado e valor. São Jerônimo escreve: “Decidi consultar a cátedra de Pedro, onde se encontra aquela fé que a boca de um Apóstolo exaltou; agora venho pedir um alimento para a minha alma ali, onde, outrora, recebi a veste de Cristo. Não busco outra primazia, a não ser a de Cristo; por isso, ponho-me em comunhão com a tua bem-aventurança, ou seja, com a cátedra de Pedro. Sei que sobre esta pedra está edificada a Igreja“. Santo Agostinho acrescenta: “A instituição da solenidade de hoje recebeu o nome de Cátedra dos nossos predecessores, porque, se diz, que o primeiro apóstolo, Pedro, tomou posse da sua Cátedra episcopal. Por este preciso motivo, as Igrejas honram a origem da Sede, que o Apóstolo aceitou para o bem das Igrejas”.

Naquele tempo, ao chegar ao território de Cesareia de Filipe, Jesus perguntou a seus discípulos: “No dizer do povo, quem é o Filho do Homem”?. Responderam: “Uns dizem que é João Batista; outros, Elias; outros, Jeremias ou algum dos profetas”. Disse-lhes Jesus: “E vós, quem dizeis que eu sou”? Simão Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo”!. Jesus, então, lhe disse: “Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas meu Pai que está nos céus. E eu declaro: Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra, será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra, será desligado nos céus” (Mt 16,13-19).

“Tu és o Cristo!”

Jesus interroga os seus discípulos e, depois de lhes perguntar o que “o povo” pensa dele, encurta a questão, dizendo: “E vós, quem dizeis que eu sou”?. Esta questão perpassa os séculos, a fim de confirmar que a fé em Jesus é fé em Deus, no Senhor Jesus Cristo, e se coliga com a função de Pedro e de seus Sucessores. O barco da Igreja e da sua história tem como leme Jesus, Filho de Deus: não há tormentas que façam sucumbir este barco.

Sinal de unidade

Pedro e seus Sucessores, escolhidos como “sinal e princípio visíveis da unidade”, são pontos de referência para prosseguirmos no nosso caminho, com confiança e segurança. Enfim, celebrar a festa da “Cátedra” de Pedro significa atribuir-lhe um forte significado espiritual e reconhecê-la como sinal privilegiado do amor de Deus, Pastor bom e eterno, que quer reunir toda a sua Igreja e a guiar rumo à salvação.

Fonte: Vatican News

A “primeira quaresma” da história

A Quaresma recorda tanto os quarenta anos do povo de Israel no deserto quanto os quarenta dias de jejum de Jesus, também no deserto. Mas há uma outra “quaresma”, do Antigo Testamento, da qual muitas vezes não nos lembramos…


A Quaresma faz referência aos quarenta anos do povo de Israel no deserto e aos quarenta dias de jejum de Jesus, também no deserto. Mas uma referência da qual muitas vezes não nos lembramos é que, pela mesma quantidade de dias, graças à pregação do profeta Jonas, o povo de Nínive jejuou e conseguiu poupar a cidade da destruição. Foi a “primeira quaresma” da história.

É tão forte a relação entre esse tempo litúrgico e a história de Nínive que, nas orações tradicionais que os sacerdotes faziam sobre as cinzas, no primeiro dia da Quaresma, a Igreja toda chegava a pedir a Deus a graça de imitar os ninivitas em sua penitência:

Orémus: Omnípotens sempitérne Deus, qui Ninivítis in cínere et cilício paeniténtibus, indulgéntiae tuae remédia praestitísti: concéde propítius; ut sic eos imitémur hábitu, quátenus véniae prosequámur obténtu. Per Christum Dóminum nostrum. — Oremos: Deus eterno e todo-poderoso, que destes aos ninivitas, por fazerem penitência na cinza e no cilício, os remédios de vossa indulgência: concedei-nos, propício, imitá-los de tal modo na mortificação, que alcancemos como eles o vosso perdão. Por Nosso Senhor Jesus Cristo.

Hoje, apesar de as orações sobre as cinzas terem sido bastante simplificadas no novo Missal, a referência a Jonas e Nínive continua presente no Lecionário, mais especificamente na quarta-feira da 1.ª Semana da Quaresma (o primeiro dia das Têmporas de Outono). A leitura é tirada de Jn 3, 1-10 e o Evangelho, de Lc 11, 29-32.

“Jonas pregando aos ninivitas”, de Gustave Doré.

Tomando porém o relato veterotestamentário na íntegra, desde a fuga de Jonas da presença de Deus, passando por seu cativeiro no ventre de uma baleia, até a sua revolta em ver poupada a cidade de Nínive, o que mais chama atenção é a vontade firme que Deus tem de salvar os ninivitas. Toda a história do livro de Jonas é, na verdade, a da salvação de Nínive. De nenhuma outra missão foi encarregado o profeta, senão desta: “Levanta-te, vai a Nínive, a grande cidade, e profere contra ela os teus oráculos, porque sua iniquidade chegou até a minha presença” (Jn 1, 2).

Aqui fica patente, desde o princípio, uma realidade da qual hoje muito pouco se fala: Deus é justo e castiga os homens por seus pecados. “Verdade ultrapassada”, alguns podem dizer. Ao que respondemos, simplesmente: se Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre, e se Ele declarou ser a própria Verdade, é simples arrogância nossa querer impor um “prazo de validade” às suas palavras. Se Deus de fato castigava no Antigo Testamento, por que deixaria de fazê-lo agora — especialmente agora em que, mais agraciados por Ele, aumenta em nós o dever de corresponder ao seu amor?

Não sem razão o Papa S. João Paulo II recordava, em sua Carta Apostólica Salvifici Doloris (n. 10), que:

Ao mal moral do pecado corresponde o castigo, que garante a ordem moral no mesmo sentido transcendente em que esta ordem foi estabelecida pela vontade do Criador e Supremo Legislador. Daqui se segue também uma das verdades fundamentais da fé religiosa, baseada igualmente na Revelação; ou seja, que Deus é juiz justo, que premeia o bem e castiga o mal: “Vós, Senhor, sois justo em tudo o que fizestes; todas as vossas obras são verdadeiras, retos os vossos caminhos, todos os vossos juízos se baseiam na verdade, e tomastes decisões conforme a verdade em tudo o que fizestes que nos sobreviesse e à cidade santa dos nossos pais, Jerusalém. Sim, em verdade e justiça nos infligistes todos estes castigos por causa de nossos pecados” (Dn 3, 27ss).

Deus, porém, não é um ser vingativo que quer simplesmente “fulminar” suas criaturas. É à luz do desejo de Deus por nossa salvação que devemos ler todos os relatos bíblicos sobre a “ira” e os “castigos” divinos. Como diz uma antífona que rezamos continuamente na Quaresma: Vivo ego, dicit Dóminus: nolo mortem peccatóris, sed ut magis convertátur, et vivat, “Vivo, diz o Senhor: não quero a morte do pecador, mas antes que se converta e viva”. É, pois, para que nos emendemos, para que mudemos de vida, que Deus nos busca. Muitas vezes com o chicote.

E Ele nos busca como buscou os ninivitas, persistindo com Jonas, apesar de sua teimosia e resistência, para que profetizasse em Nínive. Busca-nos também como buscou os judeus do tempo de Jesus. Estes, porém, diferentemente daqueles, fizeram ouvidos moucos à voz de Deus e não trilharam o caminho da penitência. Por isso diz Nosso Senhor no Evangelho:

Esta geração é uma geração má. Ela busca um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, a não ser o sinal de Jonas. Com efeito, assim como Jonas foi um sinal para os ninivitas, assim também será o Filho do Homem para esta geração. […] No dia do julgamento, os ninivitas se levantarão juntamente com esta geração e a condenarão. Porque eles se converteram quando ouviram a pregação de Jonas. E aqui está quem é maior do que Jonas (Lc 11, 29-30.32).

O relato da conversão dos ninivitas é, de fato, prodigioso. Apesar de toda a má vontade de Jonas, que não queria a salvação de Nínive e percorreu a cidade dizendo simplesmente: “Daqui a quarenta dias, Nínive será destruída” (Jn 3, 4), o próprio rei da cidade “levantou-se de seu trono, tirou o manto, cobriu-se de saco e sentou-se sobre a cinza” (v. 6); depois, publicou pela cidade um decreto proibindo “aos homens e aos animais, tanto do gado maior como do menor, comer o que quer que seja, assim como pastar ou beber” (v. 7). Ou seja, diante do aviso do castigo de Deus, a reação dos ninivitas foi de prontidão. Imediatamente se puseram a fazer penitência, implorando a Deus misericórdia pela cidade.

O que aconteceu, então, em consequência? “Diante de uma tal atitude, vendo como renunciavam aos seus maus caminhos, Deus arrependeu-se do mal que resolvera fazer-lhes, e não o executou” (v. 10). O arrependimento dos homens gera o “arrependimento” de Deus. Lembrando sempre, porém, que essa é uma linguagem metafórica; ou seja, a verdade é que Deus, desde toda a eternidade, já havia decidido salvar a cidade de Nínive, mas Ele queria fazer isso através da pregação de Jonas e da penitência dos ninivitas. Sendo onipotente, Ele poderia fazer tudo isso de outro modo, mas — parafraseando S. Agostinho — o Deus que nos criou sem a nossa ajuda não a dispensa para nos salvar.

Também hoje, Deus quer a nossa penitência. A Quaresma é um tempo litúrgico favorável para que nós, ouvindo a voz de Cristo, da sua Igreja, dos seus santos, dos seus sacerdotes, nos voltemos para nós mesmos, reconheçamos os nossos pecados e mudemos de mentalidade e de vida. Nem Jonas nem Jesus vieram para encontrar “elementos positivos” em nossos pecados, como hoje, infelizmente, muitos procuram fazer, às vezes dentro da própria Igreja. Não, a mensagem que vieram trazer — e que os santos têm repetido ao longo desses dois mil anos de história da Igreja — é apenas esta: “Se não vos converterdes, perecereis todos” (Lc 13, 5).

“Perecereis”, diz o Senhor. Mas entendamos bem: o que está em jogo não é a destruição de uma cidade, tampouco a morte física, o perecimento natural de nossos corpos. O que está em xeque é a nossa salvação eterna.

Uma última coisa, a respeito da palavra “cilício”, presente na oração que transcrevemos acima: o uso desse instrumento jamais foi reprovado pela Igreja. Ninguém vai ouvir, hoje, recomendações públicas do uso específico do cilício; e quem o usa, evidentemente, tampouco sairá por aí anunciando o fato aos quatro ventos. O que precisamos saber é que se trata de um instrumento legítimo de penitência, e não de “tortura” — como tem procurado fazer crer, em nossa época, uma forte propaganda anticatólica.

Para quem quiser entender em que, de fato, consiste esse objeto e qual a sua finalidade, recomendamos que assistam ao vídeo a seguir, de nosso programa “A Resposta Católica”.

Fonte: padrepauloricardo.org

QUARESMA E AMIZADE SOCIAL

A partir de Quarta-feira de Cinzas, a Igreja vai nos ajudar a fazermos um caminho   místico  na vivência do tempo litúrgico da  Quaresma. Trata-se de um tempo muito especial e propício para trabalharmos, com mais intensidade, contra todas as situações de pecado que tendem  entranhar em nossas vidas,  nos   desviando do  caminho desejado por Deus e concretizado de maneira especial na pessoa do seu filho Jesus. É um tempo de reflexão que deve nos levar ao entendimento de que não estamos sozinhos, neste mundo, mas  caminhamos juntos e, cada um  têm o seu valor. 

Neste tempo de Quaresma a Igreja nos convida a rever algumas práticas, dentre elas: a nossa vida de oração, a nossa capacidade de superação dos nossos desejos através da prática fervorosa do jejum, da penitência e da esmola  que podemos traduzir, com tranquilidade, para a virtude da caridade, que é o olhar para o irmão. 

Ao  receber as cinzas, nós sinalizamos que estamos abertos a compreender a fugacidade da vida,  que  só tem sentido no seu Criador. A Quaresma se torna para nós um caminho espiritual de preparação para a Páscoa, pois no final deste tempo renovador brilhará para nós a luz da vitória, na ressurreição de Jesus, o filho de Deus. 

Quaresma não é  uma atitude individualista, ou intimista, mas é uma atitude comunitária. Quem entendeu muito bem esta realidade foi dom Eugênio Sales que no ano de 1962, na Arquidiocese de Natal (RN), deu início à Campanha da Fraternidade,  no território em que ele pastoreava. Mas foi no ano de 1964 que Dom Hélder Câmara com a aprovação dos Bispos, a implantou em nível nacional. Iniciou-se um caminho gerando um ambiente quaresmal que pudesse alcançar o coração de todos os cristãos levando-os ao coração do Evangelho. 

Há uma tendência muito grande em todos nós de nos fecharmos. Esse fechamento tem sinais desde o princípio nos conflitos elucidados pelas Sagradas Escrituras, mas não é este o desejo de Deus, pois ele deseja uma humanidade aberta em que todos possam  se amar.  

Cada ser humano que está neste mundo tem o seu valor. Numa sociedade em que tudo se torna descartável,  é dolorido perceber que muitas pessoas são descartadas por qualquer motivo. Qual é o valor do ser humano para Deus e para nós? Para  Deus o ser humano tem o valor de filho, por isso é herdeiro e habitado pelo seu imenso amor, a ponto mesmo de ser salvo pelo derramamento do sangue do seu Filho Jesus. Para nós, perdidos nas pequenas experiências de nossas vidas, corremos o risco de nos fecharmos valorizando apenas a nós mesmos. 

Por isso, neste ano de 2024, a Igreja que já vem ha 60 anos, celebrando a Campanha da Fraternidade, traz o tema da Fraternidade e Amizade Social iluminado pelo lema “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Cf.  Mt 23,8). 

É um tema profundamente necessário e importante para ser trabalhado e vivenciado não só na Quaresma, mas ao longo do ano. Esta campanha mantém  uma abertura para o infinito, onde todos são chamados a viverem numa comunhão profunda entre si e com a Trindade Santa. 

Entremos,  com amor no tempo quaresmal procurando o vivenciar na prática do jejum, da esmola, da oração e da amizade social, pois quando se refere a amizade social se refere de maneira especial ao amor desejoso de abraçar a todos, comunicar, ir além das fronteiras, romper os isolamentos, viver a vocação para formar uma comunidade feita de irmãos, alargar o coração e o círculo das amizades fazendo com que o amor esteja presente em todas as relações sociais. 

O ponto de partida para vivência deste tema dentro da Campanha da Fraternidade e da Quaresma é: O quanto vale um ser humano? Para Deus ele tem um valor infinito e, para nós? 

Na vivência deste tema vamos descobrir a beleza de sermos criados por Deus, o quanto ele nos ama e onde a criação está ferida e precisa ser curada. A Quaresma e a Campanha da Fraternidade nos levem a vivermos uma experiência profunda de amor, compromisso, justiça e paz. 

Fonte: CNBB

Hoje a Igreja celebra são Francisco e santa Jacinta Marto, videntes da Virgem de Fátima

pastorinhos
São Francisco e santa Jacinta Marto

“Rezem, rezem muito e façam sacrifícios pelos pecadores, pois muitas almas vão ao inferno porque não há quem se sacrifique e peça por elas”, foi o que pediu Nossa Senhora de Fátima a Francisco, Jacinta e Lúcia. E, hoje (20), a Igreja recorda a memória de dois desses pastorinhos, os santos Francisco e Jacinta Marto.

Francisco Marto nasceu em 1908 e Jacinta, dois anos depois. Desde pequenos aprenderam a tomar cuidado com as más companhias e, por isso, preferiam estar com sua prima Lúcia, que costumava lhes falar sobre Jesus. Os três cuidavam das ovelhas, brincavam e rezavam juntos.

De 13 de maio a 13 de outubro de 1917, a Virgem lhes apareceu em várias ocasiões na Cova de Iria (Portugal). Durante estes ocorridos, suportaram com valentia as calúnias, injúrias, más interpretações, perseguições e a prisão. Eles diziam: “Se nos matarem, não importa; vamos ao céu”.

Logo depois das aparições, Jacinta e Francisco seguiram sua vida normal. Lúcia foi para a escola, tal como pediu a Virgem, e era acompanhada por Jacinta e Francisco. No caminho, passavam pela Igreja e saudavam Jesus Eucarístico.

Francisco, sabendo que não viveria muito tempo, dizia a Lúcia: “Vão vocês ao colégio, eu ficarei aqui com o Jesus Escondido”. Ao sair do colégio, as meninas o encontravam o mais perto possível do Tabernáculo e em recolhimento.

O pequeno Francisco era o mais contemplativo e queria consolar Deus, tão ofendido pelos pecados da humanidade. Em uma ocasião, Lúcia lhe perguntou: “Francisco, o que prefere, consolar o Senhor ou converter os pecadores?”. Ele respondeu: “Eu prefiro consolar o Senhor”.

“Não viu que triste estava Nossa Senhora quando nos disse que os homens não devem ofender mais o Senhor, que já está tão ofendido? Eu gostaria de consolar o Senhor e, depois, converter os pecadores para que eles não ofendam mais ao Senhor”. E continuou: “Logo estarei no céu. E quando chegar, vou consolar muito Nosso Senhor e Nossa Senhora”.

Jacinta participava diariamente da missa e tinha grande desejo de receber a Comunhão em reparação dos pobres pecadores. Atraía-lhe muito estar com Jesus Sacramentado. “Gosto tanto de dizer a Jesus que O amo”, repetia.

Certo dia, pouco depois da quarta aparição, Jacinta encontrou uma corda e concordaram em reparti-la em três e colocá-la na cintura, sobre a carne, como sacrifício. Isto os fazia sofrer muito, contaria Lúcia depois. A Virgem lhes disse que Jesus estava muito contente com seus sacrifícios, mas que não queria que dormissem com a corda. Assim o fizeram.

Concedeu a Jacinta a visão de ver os sofrimentos do papa. “Eu o vi em uma casa muito grande, ajoelhado, com o rosto entre as mãos, e chorava. Fora, havia muita gente; alguns atiravam pedras, outros diziam imprecações e palavrões”, contou ela.

Por isso e outros feitos, as crianças tinham presente o papa e ofereciam três Ave Maria por ele depois de cada Rosário. Do mesmo modo, as famílias iam a eles para que intercedessem por seus problemas.

Em uma ocasião, uma mãe rogou a Jacinta que pedisse por seu filho que se foi como o filho pródigo. Dias depois, o jovem retornou para casa, pediu perdão e contou a sua família que depois de ter gastado tudo o que tinha, roubado e estado no cárcere, fugiu para bosques desconhecidos.

Quando se achou completamente perdido, ajoelhou-se chorando e rezou. Nisso, viu Jacinta que o pegou pela mão e o conduziu até um caminho. Assim, pôde retornar para casa. Logo interrogaram Jacinta se tinha se encontrado com o moço e ela disse que não, mas que tinha rogado muito à Virgem por ele.

Em 23 de dezembro de 1918, Francisco e Jacinta adoeceram de uma terrível epidemia de broncopneumonia. Francisco foi piorando aos poucos durante os meses posteriores. Pediu para receber a Primeira Comunhão e, para isso, confessou-se e guardou jejum. Recebeu-a com grande lucidez e piedade. Depois, pediu perdão a todos.

“Eu vou ao Paraíso; mas de lá pedirei muito a Jesus e à Virgem para que os leve também logo”, disse para Lúcia e Jacinta. No dia seguinte, em 4 de abril de 1919, partiu para a casa do Pai com um sorriso angelical.

Jacinta sofreu muito pela morte de seu irmão. Mais tarde, sua enfermidade se complicou. Foi levada ao hospital da Vila Nova, mas retornou para casa com uma chaga no peito. Logo confiaria a sua prima: “Sofro muito; mas ofereço tudo pela conversão dos pecadores e para desagravar o Coração Imaculado de Maria”.

Antes de ser levada ao hospital de Lisboa, disse para Lúcia: “Já falta pouco para ir ao céu… Diga a todos que Deus nos concede as graças por meio do Coração Imaculado de Maria. Que as peçam a Ela, que o Coração de Jesus quer que ao seu lado se venere o Imaculado Coração de Maria, que peçam a paz ao Imaculado Coração, que Deus a confiou a Ela”.

Operaram Jacinta, tiraram-lhe duas costelas do lado esquerdo e ficou uma grande chaga como de uma mão. As dores eram espantosas, mas ela invocava a Virgem e oferecia suas dores pela conversão dos pecadores.

Em 20 de fevereiro de 1920, pediu os últimos sacramentos, confessou-se e rogou que a levassem o viático porque logo morreria. Pouco depois, partiu para a Casa do Pai com dez anos de idade.

Os corpos do Francisco e Jacinta foram transladados ao Santuário de Fátima. Quando abriram o sepulcro de Francisco, viram que o Rosário que colocaram sobre seu peito estava envolvido entre os dedos de suas mãos. Enquanto o corpo de Jacinta, 15 anos depois de sua morte, estava incorrupto.

Fonte: ACI Digital

INTERPELAÇÕES DA QUARESMA

A Quaresma, neste tempo que corre veloz, chega para qualificar a vida de todos, pela luz luzente da Palavra de Deus, pela riqueza de seus propósitos e do seu horizonte. O tempo quaresmal propõe uma disciplina – caminhar pelo “deserto”, dinâmica para encontrar Deus e, assim, dissipar as sombras de rostos envelhecidos pela frieza da vaidade, de olhares anuviados por fantasias. Rostos e olhares incapazes de enxergar a direção de mudanças essenciais para reconquistar o sentido da vida.  A travessia do “deserto”, interpelação da Quaresma, contribui para vencer superficialidades, curar o ser humano de indiferenças que matam, afastando-o de lógicas perversas. Acatar o convite desafiador de vivenciar o “deserto” é compreender que há um bem essencial a ser resgatado.  Bem que foi perdido pelos estreitamentos de quem é benevolente apenas com os que partilham pontos de vista e perspectivas ideológicas, pela força do pecado que contamina a condição humana.  

Caminhar “deserto adentro”, com a motivação de encontrar Deus, única fonte capaz de saciar o ser humano, inclui prestar atenção em mandamentos que se configuram como dinâmica educativa e qualificadora da vida. Um exercício essencial para conquistar e desenvolver adequada sensibilidade na recomposição interior de cada um. Na travessia deste tempo quaresmal, ecoa mais forte o trinômio jejum, oração e esmola, práticas simples e exequíveis, conforme as possibilidades de cada pessoa. São práticas capazes de devolver ao coração do ser humano uma percepção adequada da realidade, com propriedades para alavancar correções e configurar novas respostas para muitos problemas, inspirando a participação qualificada na construção do bem comum.  

O caminho pelo “deserto” confronta situações de escravidão, constituindo itinerário para efetivar a conquista da autêntica liberdade. Com simplicidade, as dinâmicas do jejum, da caridade e da oração empreendem um processo de recomposição necessário e urgente, para enfrentar os muitos adoecimentos provocados pelos vazios existenciais. Levam à qualificação do ser humano, capacitando-o para partilhar palavras capazes de renovar esperanças, para agir na reconfiguração do tecido sociopolítico. O “deserto” a percorrer é a interioridade de cada um, com “regiões” inóspitas que devem ser trabalhadas. Não se pode cuidar apenas de problemas externos, mas buscar também qualificação interna, inclusive para adequadamente contribuir na edificação de um novo tempo para a humanidade.   

A prática do jejum, da oração e da esmola não se limitam às restrições de alimento, ao dizer alguma jaculatória ou mesmo dispor de algo supérfluo em favor de quem não tem nada. A conquista proposta e possível com o jejum, a oração e a esmola é de uma estatura humana e espiritual capaz de garantir paz interior e fazer, do ser humano, um instrumento de Deus para transformar o mundo.  No horizonte deste indispensável propósito, sem concorrer com as vivências das práticas quaresmais, a Igreja Católica no Brasil promove a Campanha da Fraternidade. Vale lembrar, como memória agradecida, a importância desta promoção, já por sessenta anos, com a propriedade específica de lançar o olhar sobre a sociedade brasileira, para permitir que a luz da fé enseje um caminho que leve à sua transformação. A sociedade brasileira sofre por incompetências nos diferentes desempenhos cidadãos e pela fraqueza do testemunho de fé, perpetuando descompassos e adiando soluções para problemas urgentes.  

A Campanha da Fraternidade 2024, como estrela no horizonte das luminosidades da Quaresma, à luz da recomendação-advertência de Jesus, “Vós sois todos irmãos e irmãs”, desafia com o desenho da meta de se pautar as relações na amizade social, conforme as lúcidas e interpelantes argumentações do Papa Francisco, na sua Carta Encíclica Fratelli Tutti. Amizade Social se põe, então, como nobre propósito e meta para a vivência da fé e da cidadania qualificada. Um propósito sem fronteiras, para além de objetivos confessionais, pois se trata de demanda urgente da contemporaneidade. Essa urgência é evidenciada pela prejudicial indiferença que contamina relações, pela divisão e pelos confrontos com consequências graves e perdas irreversíveis, principalmente para os mais pobres.  

Os que creem e todos os que buscam exercer a cidadania de modo qualificado precisam lembrar do que diz o Papa Francisco: todos estão no mesmo barco, perecendo ou salvando-se juntos. Todos são chamados a investir, abnegadamente, na amizade social. Amizade é, pois, um sentimento precioso, dom de Deus, que torna exitoso projetos e processos, na contramão de inimizades que incendeiam guerras.  O propósito é cada um se tornar construtor da amizade social pelo insubstituível caminho do diálogo, que edifica horizontes novos de compreensão. 

 É hora oportuna de compreender mais e promover a amizade social, no inspirador horizonte da Carta Encíclica do Papa Francisco, investindo no amor que é base das relações sociais, ultrapassando fronteiras. Esse amor precisa ser vivido como compromisso – comunicar com a vida a mensagem de Deus, aprendendo e efetivando a lição do Mestre Jesus: “Vós sois todos irmãos e irmãs”. A verdade anunciada pelo Mestre ecoe forte nos corações, para que sejam efetivadas posturas coerentes com o princípio da amizade social, para alavancar tempos novos marcados pela fraternidade universal. 

Fonte: CNBB

Papa: Quaresma ajuda a entrar no deserto interior, em contato com a verdade

Os “animais selvagens” que temos no coração, ou seja, as paixões desordenadas de vários tipos, podem levar ao risco de sermos dilacerados interiormente; enquanto os anjos recordam as boas inspirações divinas que “acalmam o coração, infundem o sabor de Cristo, o sabor do Céu”.


Ir ao deserto para perceber a presença dos “animais selvagens”  e anjos em nosso coração, e com o silêncio e a oração captar os pensamentos e sentimentos inspirados por Deus.

Em síntese, esse foi o convite do Papa aos milhares de fiéis reunidos na Praça São Pedro em um dia ensolarado e temperatura amena, para o Angelus neste I Domingo da Quaresma.

“Animais selvagens e anjos”, companhias de Jesus no deserto e também nossas

O Evangelho de Marcos – que inspirou a reflexão de Francisco – narra que Jesus «ficou no deserto durante quarenta dias, e aí foi tentado por Satanás», e também nós – observou o Papa – “somos convidados na Quaresma a “entrar no deserto”, isto é, no silêncio, no mundo interior, na escuta do coração, em contato com a verdade”

A leitura narra que “animais selvagens e anjos” eram a companhia de Jesus no deserto. Mas, em um sentido simbólico – explicou o Papa – “são também a nossa companhia: quando entramos no deserto interior, de fato, podemos encontrar ali animais selvagens e anjos.”

E explica então, o sentido desses “animais selvagens”:

Na vida espiritual podemos pensar neles como as paixões desordenadas que dividem o nosso coração, tentando possuir o coração. Elas nos sugestionam, parecem sedutoras, mas, se não estivermos atentos, levam ao risco de nos dilacerar.

Os “animais” alojados em nossa alma

E  Francisco diz  ainda que podemos dar nomes a esses “animais” da alma:

Os vários vícios, a ganância de riqueza, que aprisiona no cálculo e na insatisfação, a vaidade do prazer, que condena à inquietação e à solidão, e ainda também a avidez pela fama, que gera insegurança e uma necessidade contínua de confirmação e protagonismo.  É interessante: não se esquecer dessas coisas que podemos encontrar dentro de nós: ganância, vaidade e avidez. São como animais “selvagens” e como tais devem ser domesticados e combatidos: caso contrário, devorarão a nossa liberdade. E a Quaresma nos ajuda a entrar no deserto interior para corrigir essas coisas.

O “serviço” em oposição à “posse”

Mas junto com Jesus no deserto, além dos “animais selvagens”, estavam também os anjos, “mensageiros de Deus, que nos ajudam, nos fazem bem”. E segundo o Evangelho, sua característica “é o serviço”:

Exatamente o contrário da posse, típica das paixões. Serviço em oposição à posse. Os espíritos angélicos, em vez disso, recordam os pensamentos e bons sentimentos sugeridos pelo Espírito Santo. Enquanto as tentações nos dilaceram, as boas inspirações divinas unificam-nos e fazem-nos entrar em harmonia: acalmam o coração, infundem o sabor de Cristo, infundem “o sabor do Céu”. E para captar a inspiração de Deus e entender bem, é preciso entrar no silêncio e oração. E a Quaresma é tempo para fazer isso. Sigamos em frente.

Retirar-se ao deserto e ouvir Deus que fala no coração

Assim, ao darmos os primeiros passos no caminho quaresmal, o Papa propõe que façamo-nos duas perguntas:

Primeiro: quais são as paixões desordenadas, os “animais selvagens” que se agitam no meu coração? Segundo: para permitir que a voz de Deus fale ao meu coração e o guarde no bem, penso retirar-me um pouco para o “deserto”, ou procuro dedicar durante o dia algum espaço para repensar isso?

Ao concluir, o Papa pediu “que a Virgem Santa, que guardou a Palavra e não se deixou tocar pelas tentações do Maligno, nos ajude no tempo da Quaresma.”

Fonte: Vatican News

A Quaresma é caminho para a liberdade

Na sua Mensagem para a Quaresma, Francisco lembra “a forma sinodal da Igreja, que estamos a redescobrir e cultivar nestes anos” e a necessidade de “grandes opções contracorrente”. A jornalista Sónia Neves, coautora do livro “Não temos medo” e colaboradora da Rede Sinodal em Portugal propõe uma reflexão sobre o texto do Papa.


“Deus guia-nos para a liberdade”, mas antes acompanha-nos “através do deserto”. É neste sentido que aponta a Mensagem do Papa para a Quaresma que agora se iniciou.

Citando o texto bíblico do Êxodo, o Santo Padre sublinha “como Israel no deserto tinha ainda dentro de si o Egito”, ou seja, como o povo tinha ainda “dentro de si vínculos opressivos”. Algo que acontece “também hoje”, salienta o Papa.

“Damo-nos conta disto, quando nos falta a esperança e vagueamos na vida como em terra desolada, sem uma terra prometida para a qual tendermos juntos”, diz Francisco. “A Quaresma é o tempo de graça em que o deserto volta a ser – como anuncia o profeta Oseias – o lugar do primeiro amor”.

Na escuridão das desigualdades e dos conflitos

“Através do deserto, Deus guia-nos para a liberdade” é o título da Mensagem do Papa Francisco para esta Quaresma de 2024. E neste caminho para a liberdade “o primeiro passo” deve ser “querer ver a realidade”, afirma o Santo Padre recordando “o grito de tantos irmãos e irmãs oprimidos”.

“Na minha viagem a Lampedusa, à globalização da indiferença contrapus duas perguntas, que se tornam cada vez mais atuais: «Onde estás?» (Gn 3, 9) e «Onde está o teu irmão?» (Gn 4, 9)”, lembra o Papa.

No seu texto, Francisco declara existir hoje um “défice de esperança”. Como se existisse um impedimento de sonhar numa humanidade que persiste na “escuridão das desigualdades e dos conflitos”. Uma realidade que o Papa apresenta citando o testemunho de bispos e de agentes de paz e justiça.

“O testemunho de muitos irmãos bispos e dum grande número de agentes de paz e justiça convence-me cada vez mais de que aquilo que é preciso denunciar é um défice de esperança. Trata-se de um impedimento a sonhar, um grito mudo que chega ao céu e comove o coração de Deus. Assemelha-se àquela nostalgia da escravidão que paralisa Israel no deserto, impedindo-o de avançar. O êxodo pode ser interrompido: não se explicaria doutro modo porque é que tendo uma humanidade chegado ao limiar da fraternidade universal e a níveis de progresso científico, técnico, cultural e jurídico capazes de garantir a todos a dignidade, tateie ainda na escuridão das desigualdades e dos conflitos”, escreve o Papa.

Amadurecer a liberdade de uma nova esperança

Segundo Francisco, a Quaresma é tempo de conversão, de fazer deserto em nós, um “espaço onde a nossa liberdade pode amadurecer”, diz o Santo Padre. Um amadurecimento cimentado nas atitudes da oração, da esmola e do jejum.

“Oração, esmola e jejum não são três exercícios independentes, mas um único movimento de abertura, de esvaziamento: lancemos fora os ídolos que nos tornam pesados, fora os apegos que nos aprisionam. Então o coração atrofiado e isolado despertará. Para isso há que diminuir a velocidade e parar. Assim a dimensão contemplativa da vida, que a Quaresma nos fará reencontrar, mobilizará novas energias. Na presença de Deus, tornamo-nos irmãs e irmãos, sentimos os outros com nova intensidade: em vez de ameaças e de inimigos encontramos companheiras e companheiros de viagem. Tal é o sonho de Deus, a terra prometida para a qual tendemos, quando saímos da escravidão”, escreve o Santo Padre.

O Papa cita um excerto do seu discurso aos estudantes universitários durante a Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023, apontando ao “lampejar duma nova esperança” se a “Quaresma for de conversão”. “Quero dizer-vos, como aos jovens que encontrei em Lisboa no verão passado: «Procurai e arriscai; sim, procurai e arriscai. Neste momento histórico, os desafios são enormes, os gemidos dolorosos: estamos a viver uma terceira guerra mundial feita aos pedaços. Mas abracemos o risco de pensar que não estamos numa agonia, mas num parto; não no fim, mas no início dum grande espetáculo. E é preciso coragem para pensar assim» (Discurso aos estudantes universitários, 03/VIII/2023).

Na sua Mensagem para a Quaresma, Francisco lembra “a forma sinodal da Igreja, que estamos a redescobrir e cultivar nestes anos” e a necessidade de “grandes opções contracorrente”.

A este propósito, a jornalista Sónia Neves, coautora do livro “Não temos medo” e colaboradora da Rede Sinodal em Portugal propõe uma reflexão sobre a Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma.

Vale a pena!

“A cada ano vale sempre a pena ler a Mensagem de Quaresma do Papa. A mim faz-me parar, nem que por breves minutos, e apontar estes 40 dias que chegam como oportunidade de reflexão, melhoria, mudança ou até o despertar de outras vontades naquele momento ou circunstância de vida.

Desta vez a vontade de ler a Mensagem do Papa Francisco foi reforçada pela parte gráfica que acompanha o documento, inicialmente até pensei ser brincadeira. Mas não! Os desenhos da autoria de Mupal, artista italiano conhecido pelas suas intervenções nas ruas de Roma, vão sendo apresentados ao longo deste tempo e, aqui, o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral teve essa ousadia de “trazer da rua” para a Igreja, o mesmo propósito de fazer caminho com a ajuda da arte.

Vale a pena também frisar o olhar ao mais pobre, presente na Mensagem, denunciando a pobreza que atinge milhões de pessoas e a destruição da natureza. “Através do deserto, Deus guia-nos para a liberdade” é o título da Mensagem que nos provoca e aponta que a humanidade vive ainda na “escuridão das desigualdades e dos conflitos”.

No documento apresentado o Papa propõe uma reflexão sobre os estilos de vida e como cada cristão se define, se compromete, espera ou sonha a sua comunidade, a Igreja, fazendo alusão ao processo sinodal que decorre.

“A forma sinodal da Igreja, que estamos a redescobrir e cultivar nestes anos, sugere que a Quaresma seja também tempo de decisões comunitárias, de pequenas e grandes opções contracorrente, capazes de modificar a vida quotidiana das pessoas e a vida de toda uma coletividade: os hábitos nas compras, o cuidado com a criação, a inclusão de quem não é visto ou é desprezado”, refere a Mensagem.

A Quaresma é também sinónimo de surpresa e, a mim, esta forma de a viver, neste ano em que nos envolvemos na oportunidade do caminho sinodal, é o tempo para o entusiasmo, para o diálogo, para a união e entreajuda nas comunidades, em Igreja. Como em família, na simplicidade, escutar todos, dar alento aos necessitados e apontar mudanças.

Que a Quaresma de 2024 valha a pena, que possa ser uma “pegada” diferente, uma marca de mudança de caminho, se o tiver de ser, de nos sentirmos mais Igreja na fé que nos une e no Evangelho que queremos dar a conhecer. Vale a pena!”

Laudetur Iesus Christus

Fonte: Vatican News

Seis práticas concretas para viver a Quaresma

Para viver a Quaresma com propósito, irmão Luis Eduardo Rodriguez Alger, que pertence aos Legionários de Cristo, compartilha seis práticas concretas para trabalhar a oração, a esmola e o jejum, pontos essenciais durante este tempo litúrgico.

Para trabalhar no ponto da oração, devemos “aprofundar a vida sacramental. Posso me confessar, posso participar da Missa mais dias, e não apenas aos domingos, e receber a comunhão”.

Além disso, recorda que “todos esses sacramentos nos encherão de graça e da força do Espírito Santo para perseverar e poder caminhar para a Páscoa do Senhor”.

O segundo propósito implica a realização de mais oração. “Posso fazer alguma oração extra, como ler a Bíblia. Se lêssemos a Bíblia três ou cinco minutos por dia, quão diferente seria a nossa vida”, assegura.

Com relação ao jejum, reflete sobre a associação imediata entre o jejum e os alimentos. “Quando pensamos em jejum, muitas vezes pensamos em quais coisas não vamos comer: não vou comer sobremesas, não vou tomar ‘Coca-Cola’… Mas não se trata de fazer uma dieta”.

De acordo com irmão Luis, durante esta Quaresma podemos jejuar de “palavras desnecessárias”, como “queixas, críticas ou palavrões”.

Para o quarto propósito, que está relacionado com o jejum, o irmão convida a jejuar de coisas que gostamos de “ver”, como séries ou filmes, e considerar “o que eu posso parar de ver” nesta Quaresma.

Destacou que a esmola anda de mãos dadas com o jejum. “Se estamos jejuando de palavras negativas, talvez possamos fazer esmolas de boas palavras: um comentário, uma ajuda, algo de bom que possamos dizer com palavras”, afirmou.

Para o sexto propósito, motivou a realizar atos de caridade para alguém que precisa de nós.

Propôs que “podemos ir ao encontro de alguma pessoa que realmente precise de nossa ajuda e fazer um ato de caridade com essa pessoa sem que ela note e que ninguém perceba”, e se referiu a esta prática como uma “caridade escondida”.

Fonte: ACI Digital

Qual o sentido da Quarta-feira de Cinzas?

A Quarta-feira de Cinzas foi instituída há muito tempo na Igreja, dia que marca o início da Quaresma, tempo de penitência e oração mais intensa. Para os antigos judeus, sentar-se sobre as cinzas já significava arrependimento dos pecados e volta para Deus. As cinzas bentas e colocadas sobre as nossas cabeças nos fazem lembrar que vamos morrer, que somos pó e ao pó da terra voltaremos (cf. Gn 3, 19), para que nosso corpo seja refeito por Deus de maneira gloriosa, para não mais perecer.

A intenção desse sacramental é nos levar ao arrependimento dos pecados, é fazer-nos lembrar que não podemos nos apegar a esta vida, achando que a felicidade plena possa ser construída aqui. É uma ilusão perigosa. A morada definitiva é o céu.

Não busque construir o Céu na Terra

A maioria das pessoas, mesmo os cristãos, passa a vida lutando para “construir o Céu na Terra”. É um grande engano! Jamais construiremos o Céu na Terra, jamais a felicidade será perfeita no lugar que o pecado transformou num vale de lágrimas. Devemos, sim, lutar para deixar a vida na Terra cada vez melhor, mas sem a ilusão de que ficaremos sempre aqui.

Santa Missa, celebrada pelo Pároco da Catedral, Pe. Kleber, da Quarta-feira de Cinzas – 2024.

Deus dispôs tudo de modo que nada fosse sem fim nesta vida. Qual seria o desígnio do Senhor nisso? A cada dia de nossa vida, temos de renovar uma série de procedimentos, como dormir, tomar banho, cuidar da nossa alimentação etc. Tudo é precário, nada é duradouro, tudo deve ser repetido todos os dias. A própria manutenção da vida depende do bater interminável do coração e do respirar contínuo dos pulmões. Todo o organismo repete, sem cessar, suas operações para a vida se manter. Tudo é transitório, nada é eterno. Toda criança se tornará um dia adulta e, depois, idosa. Toda flor que se abre logo estará murcha; todo dia que nasce logo se esvai; e assim tudo passa, tudo é transitório.

Com­pra-se uma camisa nova, e logo ela já está surrada; compra-se um carro novo, e logo ele estará bastante rodado e vencido por novos modelos, e assim por diante.

Estamos de passagem na Terra

A razão inexorável dessa precariedade das coisas também está nos planos de Deus. A marca da vida é a renovação. Tudo nasce, cresce, vive, amadurece e morre. A razão profunda dessa realidade tão transitória é a lição cotidiana que o Senhor nos quer dar de que esta vida é apenas uma passagem, um aperfeiçoamento, em busca de uma vida duradoura, eterna e perene.

Em cada flor que murcha e em cada homem que falece sinto Deus nos dizer: “Não se prendam a esta vida transitória. Preparem-se para aquela que é eterna, quando tudo será duradouro, e nada precisará ser renovado dia a dia.”

Isso nos mostra também que a vida está em nós, mas não é nossa. Quando vemos uma bela rosa murchar, é como se ela estivesse nos dizendo que a beleza está nela, mas não lhe pertence.

Ainda assim, mesmo com essa lição permanente que Deus nos dá, muitos de nós somos levados a viver como aquele homem rico da parábola narrada por Jesus. Ele abarrotou seus celeiros de víveres e disse à sua alma: “Descansa, come, bebe e regala-te” (Lc 12,19b); ao que o Senhor lhe disse: “Insensato! Nesta noite ainda exigirão de ti a tua alma” (Lc 12,20).

Doar para os outros e para Deus

A efemeridade das coisas é a maneira mais prática e cons­tante encontrada por Deus para nos dizer, a cada momento, que aquilo que não passa, que não se esvai, que não morre, é aquilo de bom que fazemos para nós mesmos, principalmente para os outros. Os talentos multiplicados no dia a dia, a perfei­ção da alma buscada na longa caminhada de uma vida de me­ditação, de oração e piedade, essas são as coisas que não passam, que o vento do tempo não leva e que, finalmente, vão nos abrir as portas da vida eterna e definitiva, quando “Deus será tudo em todos” (cf. 1 Cor 15,28).

Leia também:
.:Por que jejuar?
.:Um convite na Quarta-feira de Cinzas
.:Conheça os exercícios quaresmais de conversão
.:Qual é a origem e o sentido da Quaresma?

Se a vida na Terra fosse incorruptível, muitos de nós jamais pensarí­amos em Deus e no Céu. Acontece que o Todo-poderoso tem para nós algo mais excelente, aquela vida que levou São Paulo a exclamar:

“Coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou (Is 64,4), tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1 Cor 2,9).

Não nos conformemos com essa vida

A corruptibilidade das coisas da vida deve nos convencer de que Deus quer para nós uma vida muito melhor do que esta – uma vida junto d’Ele. E, para tal, o Senhor não quer que nos acostumemos com esta [vida], mas que busquemos a outra com alegria, onde não have­rá mais sol, porque o próprio Deus será a luz, nem haverá mais choro nem lágrimas.

Aqueles que não creem na eternidade jamais se confor­marão com a precariedade desta vida terrena, pois sempre so­nharão com a construção do Céu nesta Terra. Para os que creem, a efemeridade tem sentido: a vida “não será tirada, mas transformada”; o “corpo corruptível se revestirá da incorrupti­bilidade” (cf 1Cor 15,54) em Jesus Cristo.

Santa Teresinha não se cansava de exclamar: “Tenho sede do Céu, dessa mansão bem-aventurada, onde se amará Jesus sem restrições. Mas para lá chegar é preciso sofrer e chorar. Pois bem! Quero sofrer tudo o que aprouver a meu Bem Amado, quero deixar que Ele faça de sua bolinha o que Ele quiser.”

São Paulo lembrou aos filipenses: “Nós somos cidadãos do Céu! É de lá que também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Ele transformará nosso corpo miserável, para que seja conforme o seu corpo glorioso, em virtude do poder que tem de submeter a si toda a criatura” (Fl 3, 20-21).

A esperança do Céu e da Sua glória fazia o apóstolo dizer: “Os olhos não viram nem ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou (Is 64,4) o que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1 Cor 2,9).

Essa esperança lhe dava as forças necessárias para vencer as tribulações: “Tenho para mim que os sofrimentos da vida presente não têm proporção alguma com a glória futura que nos deve ser manifestada” (Rom 8,18).

Esse é o sentido das cinzas.

Fonte: Canção Nova

INSPIRADA PELA ENCÍCLICA FRATELLI TUTTI, CNBB LANÇA CAMPANHA DA FRATERNIDADE SOBRE A “AMIZADE SOCIAL”

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lança oficialmente a Campanha da Fraternidade 2024 com o tema “Fraternidade e Amizade Social” e o lema “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23,8), na quarta-feira de cinzas, dia 14 de fevereiro, na sede da entidade, em Brasília (DF). Uma missa será presidida pelo bispo auxiliar de Brasília (DF) e secretário-geral da CNBB, dom Ricardo Hoepers, na Capela Nossa Senhora Aparecida, às 9h, e em seguida, às 10h, acontece a cerimônia de abertura no Auditório Dom Helder Câmara. 

Em comunhão com a Carta Encíclica Fratelli Tutti, do Papa Francisco, inspirada pela vida de São Francisco de Assis, a Campanha da Fraternidade 2024 busca fazer um caminho quaresmal em três perspectivas: primeiro, incentivar as pessoas a verem as situações de inimizade que geram divisões, violência e destroem a dignidade dos filhos de Deus; segundo, impulsionar as pessoas a iluminar-se pelo Evangelho que as une como família e, terceiro, a agir conforme a proposta quaresmal, de uma conversão constante, promovendo o esforço para uma mudança pessoal e comunitária.

A cerimônia de lançamento contará com a participação de dom Ricardo Hoepers e do secretário-executivo de Campanhas da CNBB, padre Jean Poul Hansen, que falarão sobre a importante marca dos 60 anos da Campanha em âmbito nacional e também sobre a escolha e importância da temática de 2024. Na oportunidade, também será apresentado um vídeo com a mensagem do Papa Francisco para a Campanha desse ano.

60 anos da Campanha da Fraternidade  

A Campanha da Fraternidade é, desde as suas origens, há 60 anos, em nível nacional, uma ação evangelizadora da Igreja no Brasil. Desde o início, em 1962, na arquidiocese de Natal (RN) e, depois, a partir de 1964, em todo o Brasil, nunca faltou à CF a preocupação com o tema, para que, em ambiente quaresmal, se alcance o coração dos cristãos, fazendo-lhes retornar ao coração do Evangelho.  

Como acompanhar?

A iniciativa será transmitida, ao vivo, por emissoras de televisão de inspiração católica (Rede Vida, TVs Bom Jesus, Canção Nova Plus, Evangelizar, Imaculada, Pai Eterno, Século 21 e Nazaré) e redes sociais da CNBB (@cnbbnacional). 

Serviço:
O quê: Cerimônia de lançamento da Campanha da Fraternidade 2024
Quando: 14 de fevereiro, a partir das 9h
Onde: Auditório Dom Helder Câmara, na sede da CNBB, em Brasília (DF)
Contato: Assessoria de Comunicação da CNBB / imprensa@cnbb.org.br / (61) 2103-8300 / Assessor de Comunicação: padre Arnaldo Rodrigues 

 

Baixe os materiais da CF em: https://campanhas.cnbb.org.br/

Fonte: CNBB

Por que a família é tão perseguida em nossa época?

Como se explica o fato de a família ter se tornado a instituição mais perseguida em nossa época? A ideologia de gênero decidiu fazer da família um viveiro de ódios, convertendo as relações entre os sexos em relações conflituosas de rivalidade e domínio.

FAMILIA

Como se explica o fato de a família ter se tornado a instituição mais perseguida em nossa época? A ideologia de gênero decidiu fazer da família um viveiro de ódios, convertendo as relações entre os sexos — fundadas na complementaridade e no amor — em relações conflituosas de rivalidade e domínio.

Para facilitar esta tarefa, favoreceu a redefinição do conceito de família, que se estende a diferentes formas de união, por frágeis ou inconsistentes que sejam, fundadas em contratos (não mais em compromissos) rescindíveis, como convém a uma nova utopia que prega a conquista da felicidade por meio da exaltação do desejo pessoal.

Tampouco podemos esquecer algo que está relacionado a esse esforço de perseguição à família: a inversão das hierarquias humanas provocada pela priorização do trabalho como forma de “realização pessoal”.

Hoje se fala muito em conciliação entre vida laboral e familiar, mas para conciliar duas coisas de natureza distinta é necessário determinar primeiro uma hierarquia de preferências, estabelecendo o que é subalterno (por mais necessário que seja) e o que é primordial.

Uma vida que prioriza o trabalho em detrimento da família nada pode conciliar, porque quando se concede ao que é subalterno (por mais necessário que seja) a categoria de primordial, o que é primordial acaba se tornando subalterno. E não é possível construir nada de bom sobre essa subversão desnaturalizadora, como ocorre sempre que algo de natureza inferior é elevado a uma natureza superior.

Seria possível afirmar, sem medo de incorrer numa hipérbole, que os gastos e cuidados que um governo destina à preservação e à defesa da instituição familiar são inversamente proporcionais aos que engordam o montante difuso destinado aos “temas sociais”.

Uma proteção zelosa da família reduziria todas essas perdas do sistema educacional que tanto preocupam nossos políticos — ao menos da boca para fora — e que de modo tão cruel sofrem nossos professores. Se os rapazes chegam nas aulas com uma série de conflitos, isso se dá em boa medida porque cresceram em famílias desestruturadas, disfuncionais, enfraquecidas até a inanição, transformadas em campos de discórdia ou em locais desérticos.

E a proliferação de problemas psíquicos entre a população atual, não teria muito a ver com a anulação desse cálido abrigo que a família é para nós perante as intempéries da vida? Por que ninguém se atreve a formular com clareza o vínculo existente entre muitas das recentes patologias sociais e a sistemática demolição da família?

Os perseguidores dessa milenar e grandiosa criação [i] costumam chamá-la de repressiva, tirânica e castradora, confundindo a família com suas versões deformadas, o que equivale a confundir a água com venenos que a contaminam; e, amparando-se nessa subversão das categorias, conseguiram caracterizar aqueles que a defendem como amantes das cadeias.

É claro que amamos as cadeias! Amamos as cadeias vivas que preservam os laços de afeto, amamos as cadeias humanas que unem as gerações, amamos as cadeias de almas que garantem a transmissão de um legado espiritual.

E amamos essas cadeias — que é como amar a vida — porque entendemos que a ruptura delas nos transforma em massa de manobra da engenharia social, em átomos perdidos que não são mais guiados pelos compromissos, mas pela exaltação dos interesses e dos desejos pessoais, e cuja consciência do isolamento e do abandono termina nos transformando em escravos alienados nas mãos do Leviatã.

 

Fonte: Padre Paulo Ricardo