Henri Pranzini, o sentenciado que Santa Teresinha clamou por misericórdia

Quantos e quantos crimes não são, dia após dia, anunciados, gerando em nós um verdadeiro pavor? Quantas sentenças não são pronunciadas nas páginas da internet, na mídia e nas folhas do jornal? Entretanto, quão maiores são as oportunidades que a Providência quer nos dar de sermos testemunhas da salvação das almas.

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Em Paris, França, há exatos 134 anos, no mês de julho, deu-se início a um julgamento de evidências brutais. Em um tribunal lotado, uma história de cortesãs e criminosos foi exibida para todos ouvirem. O réu era Gaston Geissler, acusado de um triplo assassinato no terceiro andar da Avenida Montaigne. As vítimas foram a cortesã Claudine-Marie Regnault, 40 anos, conhecida como Régine de Montille, Anette Grémeret, 38, e Marie-Louise, 12.

O acusado, nascido em 1857, na Alexandria, filho de imigrantes, cujo pai trabalhava nos arquivos dos correios e a mãe era florista, era um homem de bons estudos, que trabalhava como intérprete em navios de cruzeiro como funcionário do Posto Egípicio. Nas viagens de trabalho, passou a frequentar cassinos e a conhecer muitas mulheres e, após a demissão devido a roubos, tornou-se aventureiro, ingressando no exército indiano e, posteriormente, prestando serviço aos russos, participando também da guerra no Afeganistão. Por ter conhecimento fluente em oito idiomas, em 1884, alistou-se no exército britânico, tornando-se o principal intérprete dos ingleses. Após certas aventuras, instalou-se na França, onde ocorreu seu julgamento.

Parecem relatos de um ótimo livro ou de uma excelente trama de filme dramático, não é verdade? Daqueles que ganham Oscar em Hollywood…

Entretanto, o personagem e a história que você acabou de ler são bem reais. Gaston Geissler era o pseudonimo italiano de Henri Pranzini, acusado por terrorismo, assassinato e proxenetismo, que o levaram à pena de morte no dia 31 de agosto de 1887, aos trinta anos de idade.

É bem verdade que o triplo assassinato bastante brutal, consequência maior de uma tentativa de assalto a um cofre no valor avaliado de 200.000f., chamou a atenção de toda a imprensa, tendo destaque na primeira página do famoso “The Times”. A investigação do crime passou a circular por toda a França, já que as únicas pistas deixadas foram um cinto e uma carta assinada pelo suposto “Geissler”, e a fama do assassino solto pelas ruas francesas passou a ser de imensa repercussão.

Mas, para além de todo o sensacionalismo e notícias da época, Henri Pranzini tornou-se conhecido e teve seu marco na história, não pela impressionante biografia e pelos crimes cometidos – esses o colocaram nas páginas de jornal da época e renderam alguns esboços e literaturas sobre o caso de assassinato -, mas sim pelo olhar e ato misericordioso de uma pequena jovem francesa, Marie-Françoise-Thérèse Martin, Santa Teresinha de Lisieux, que, ao ler as notícias no jornal, encontrou uma via de intercessão e oferta de vida, clamando a Deus misericórdia pela salvação de sua alma.

“(…) Ouvi falar de um grande criminoso que acabara de ser condenado à morte por crimes horríveis; tudo nos levou a acreditar que ele morreria por impenitência. Eu queria a todo custo impedir que caísse no inferno; para alcançá-lo, usei todos os meios imagináveis: sentindo que por mim mesmo não podia fazer nada, ofereci a Deus todo o infinitos méritos de Nosso Senhor, os tesouros da Santa Igreja, (…) gostaria que todas as criaturas se unissem comigo para implorar a graça dos culpados. (…) A fim de me dar coragem para continuar orando pelos pecadores, disse a Deus que tinha muita certeza de que Ele perdoaria o pobre Pranzini, (…), confiei tanto na infinita misericórdia de Jesus, mas pedi a Ele apenas “um sinal” de arrependimento por minha mera consolação”.

Eis a mudança na história do nosso aventureiro egípcio: de réu bárbaro, condenado sem qualquer oportunidade de clemência, já diante de seu algoz na guilhotina, a uma pessoa digna de compaixão e misericórdia, salva pela intercessão de uma filha de Deus.

Contam os relatos que, após passar pelos portões de La Roquette, diante de uma praça pública com um andaime à sua espera no centro, recusando todo tipo de ajuda e negando o crime, Pranzini começou a andar para a frente. Após ver as espadas desembainhadas, começou a cambalear, antes de virar-se em direção ao capelão, pedir o crucifixo e beijá-lo.

“No dia seguinte à sua execução, encontro em minhas mãos o jornal: “La Croix”. Abro ansiosamente e o que vejo? … Ah! minhas lágrimas traíram minha emoção, e fui obrigada a me esconder. Pranzini não confessou, ele subiu no cadafalso e se preparava para passar a cabeça no buraco sombrio, quando de repente, tomado por um De repente, ele se vira, pega um crucifixo apresentado a ele pelo padre e beija suas feridas sagradas três vezes! “A cruz”. Abro ansiosamente e o que vejo? … Ah! minhas lágrimas traíram minha emoção, e fui obrigada a me esconder. Então sua alma foi receber a sentença misericordiosa daquele que declara que no Céu haverá mais alegria para um pecador que faz penitência do que para 99 homens justos que não precisam de penitência! … “.

Quanta alegria não há, no Céu, pela conversão sincera de um pecador (Luc, 15,7)! Essa palavra é eterna e não passa. Essa Palavra é para nós esperança. Essa palavra, sim, merece festejo e fogos como uma grande celebração.

Quantos e quantos crimes não são, dia após dia, anunciados, gerando em nós um verdadeiro pavor!? Quantas sentenças não são pronunciadas nas páginas da internet, na mídia e nas folhas do jornal? Entretanto, quão maiores são as oportunidades que a Providência quer nos dar de sermos testemunhas da salvação das almas.

O fato de as más notícias chegarem a nós, muitas vezes de forma massiva, não deve passar despercebido, sendo visto apenas como um mal que acumula sobre nós estresse, medo, pânico e tensão. Na verdade, tendo sido alvos da misericórdia divina, as notícias devem nos colocar em um movimento de encontro a Deus e ao outro, nosso irmão, que sofre e padece, muitas vezes escravo de seus próprios pecados.

Sabemos em quem colocamos a nossa confiança: “Aquele que não conheceu o pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nós nos tornássemos justiça de Deus.” (2Cor 5, 19-21)

Peçamos, pela intercessão de Santa Teresinha a graça de, pelos méritos do sangue de Cristo, repararmos tantos pecados e de alcançarmos, pela oração sincera a Deus, a salvação das almas que mais necessitam de misericórdia.

 

Fonte: Comunidade Shalom

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