A VOCAÇÃO DO PADRE
Neste ano vocacional, com os corações ardentes e os pés a caminho, refletimos sobre a vocação presbiteral – a vocação do padre. Toda vocação se expressa como “história de um inefável diálogo entre Deus e o homem, entre o amor de Deus que chama e a liberdade do homem que, no amor, responde a Deus. Esses dois aspectos indissociáveis da vocação, o dom gratuito de Deus e a liberdade responsável do homem, emergem de modo tão extraordinário quanto eficaz das brevíssimas palavras com as quais o evangelista Marcos apresenta a vocação dos Doze: Jesus “subiu depois ao monte, chamou a si aqueles que quis e eles foram ter com Ele” (Mc 3,13) (Pastoris Dabo Vobis, 36).
Chamado no meio do Povo Sacerdotal, o padre é escolhido pelo Cristo para cooperar na missão de cuidar do rebanho que ele tanto ama, a ponto de entregar a própria vida. Cada vocação é acompanhada por sinais, gestos e palavras que vão consolidando e confirmando o chamado e a eleição. Cabe, aqui, mencionar a família, a comunidade de origem, o tempo de seminário, os padres que servem de inspiração nesse caminho, os estudos, a ordenação, o presbitério, os diversos ofícios exercidos, enfim, tudo o que favorece a configuração ao Cristo sacerdote.
O presbítero é chamado a ser sentinela da esperança e anunciador de um mundo novo que é sinal do Reino de Deus. Ele não pode deixar que o desespero ou a falsa esperança ofusquem o brilho verdadeiro da luz do Cristo que chama, prepara e envia.
A missão do padre implica ter a sabedoria da idade e a confiança de uma criança. Firme rumo ao alto e seguro com os pés bem plantados sobre a terra, feito para a alegria do Evangelho é um perito que aprendeu a sofrer por amor. Um homem que fala de Deus para seu povo e fala de seu povo ao seu Deus.
O presbítero se configura diariamente a Cristo. Reza profundamente, para ter o coração de Bom Pastor. Ele também precisa abraçar a “cruz” de cada dia, pois a Boa- Nova do Evangelho sofre resistência diante daqueles que teimam em matar a força vivificante e libertadora da Palavra de Deus.
Na consagração eucarística, o padre compreende que precisa oferecer, entregar e derramar sua vida como fez Jesus ao proferir: “Eis meu corpo dado por vós; eis meu sangue derramado por vós.”
Por presidir o banquete memorial do sacrifício de Cristo, o presbítero é capaz de esperar o Reino que virá com a certeza de sentir sua antecipação em cada Eucaristia. Isso implica relativizar toda presunção mundana que tende a absolutizar o provisório e impele a denunciar, criticamente, toda miopia da realidade que pretenda colocar o penúltimo no lugar que somente ao último compete.
Finalmente, recordemos um escrito de Santa Teresa Benedita da Cruz, a grande filósofa e mártir Edith Stein, que assim exaltou a missão do padre: “Feliz a cabeça do sacerdote que leva o sinal do Senhor, é a cabeça sobre a qual o Senhor pôs sua mão abençoando-a. Feliz a mão do sacerdote quando, na força da Trindade, converte um filho da Terra em um cidadão do Céu. Feliz a mão do sacerdote quando uma criança, renovada no Espírito, com a Cruz sobre a sua fronte, é consagrada como soldado de Cristo. Três vezes feliz a mão que toca o corpo do Senhor, que solta as ataduras do pecador e o conduz à mesa do Salvador. Feliz o coração do sacerdote, ao que o coração do Salvador se associa, e escolhe a sabedoria divina como sua mais pura noiva.”
Fonte: CNBB