A Natividade de São João Batista

“Preparai o caminho do Senhor” (Mt 3, 3)

Jesus disse: “Entre os nascidos de mulher, nenhum foi maior do que João Batista” (Mt 11,11). Todos os anos, no dia 24 de junho, a Igreja Católica homenageia o nascimento de João refletindo sobre seu papel único como precursor de Jesus. A solenidade celebrada nesta data enaltece João como um digno exemplo do que significa ser seguidor de Cristo.

“A solenidade da Natividade de João Batista é uma das celebrações mais antigas da Igreja” | Foto: CNBB

Uma solenidade é a festa mais significativa que a Igreja pode estabelecer. Enquanto outros santos são lembrados com dias de festa para lembrar suas mortes, São João Batista, como Nossa Senhora, é homenageado com uma solenidade para lembrar tanto seu nascimento quanto sua morte.

Por que João e Maria recebem tais honras? A Igreja comemora o nascimento de Nossa Senhora, em parte, como um reconhecimento de que Ela nasceu sem pecado. E por qual motivo também João recebe essa honra? 

No relato do Evangelho de Lucas, Maria, grávida, foi visitar a sua parente Isabel, que estava com seis meses de gravidez de João. Na saudação de Maria, Isabel ficou “cheia do Espírito Santo” (1, 41) e seu filho ainda não nascido “pulou de alegria” (v. 44) em seu ventre. Tanto Isabel quanto seu filho estavam respondendo à incrível realidade de estar na presença de Deus encarnado. Como resultado, tem sido comumente mantida, desde os tempos antigos, a crença de que naquele momento João foi santificado, isto é, ele foi purificado do pecado original, como se tivesse sido “batizado” no ventre de sua mãe.

Note que isso significaria que João foi liberto do pecado original no útero e, mais tarde, nasceu sem pecado, mas não que ele foi concebido sem pecado. A Imaculada Conceição é um privilégio único de Nossa Senhora entre os santos; Ela foi preservada do pecado original desde o primeiro momento de sua existência. Claro, a outra grande diferença entre João e Nossa Senhora é que Ela também foi preservada de todos os pecados reais ao longo de sua vida, enquanto João não foi.

Na data de seu nascimento, então, homenageamos São João Batista, que ficou cheio do Espírito Santo no ventre de sua mãe, foi escolhido por Deus para anunciar Seu Filho, viveu uma vida modelo de santidade e foi martirizado por sua fé.

Embora nunca ofusque o Pai ou o Filho, os mistérios do nascimento de João e seu papel proeminente na vida de Cristo recebem um significado especial na Igreja.

Normalmente, quando a festa ou solenidade de um santo cai em um domingo, ela é substituída pela liturgia dominical. Mas a solenidade em homenagem ao nascimento de São João Batista é uma das exceções. Se ocorrer no Domingo, as orações, leituras e Salmos associados à solenidade de João não são substituídos por uma liturgia dominical diferente.

João morreu como um mártir que testemunhou a verdade da intenção de Deus de que o casamento deveria ser um compromisso vitalício entre um homem e uma mulher. Esse martírio é celebrado pela Igreja com um memorial em 29 de agosto. No entanto, mesmo que João não tivesse sido um mártir, a Igreja, sem dúvida, ainda teria celebrado sua vida e ministério como o precursor de Jesus.

A solenidade da Natividade de João Batista é uma das celebrações mais antigas da Igreja introduzidas tanto nas liturgias orientais (gregas) quanto ocidentais (latinas) para homenagear um santo. Há relatos de que já era celebrada publicamente no século IV.

O dia 24 de junho acabou sendo escolhido como a data da solenidade porque a a Palavra nos diz que João foi concebido seis meses antes de Jesus (Lc 1, 36). Presumivelmente, então, João nasceu cerca de seis meses antes de Cristo, e o nascimento de Cristo era celebrado na véspera de Natal, 24 de dezembro.

Mas houve ainda outro fator importante para fixar a data de nascimento de São João Batista. Séculos antes de Cristo, algumas culturas pagãs celebravam anualmente o solstício de verão, que ocorre no final de junho. Eles reconheciam que, após o solstício, os dias começavam a ficar mais curtos. Por várias razões, eles tradicionalmente reconheciam a mudança das estações acendendo fogueiras que ficavam acesas durante a noite toda.

Esse acender de fogueiras era um ritual difundido entre diferentes grupos de não-cristãos que migraram para a Europa nos primeiros séculos da Igreja. A Igreja reconhecia a importância de aceitar, de alguma forma, essa tradição antiga e muito popular entre as pessoas convertidas, mas não queria que fosse associada a um ritual pagão.

Os eventos da vida de Cristo não ofereciam uma conexão óbvia com esse festival de verão, então, os primeiros líderes da Igreja se voltaram para a vida de João Batista. Assim como o nascimento de Cristo era celebrado no solstício de inverno, no final de dezembro, o nascimento de João Batista seria celebrado no solstício de verão. Foi e é um ajuste perfeito: a natividade de João Batista pressagia natividade de Jesus.

A solenidade do nascimento de João foi oficialmente estabelecida no Concílio da Igreja de Agde, em 506. A partir de então, os católicos celebraram o nascimento de João Batista em 24 de junho.

Para ter uma noção de quão bem essa celebração já foi considerada, pense nas circunstâncias em torno da Batalha de Fontenay, no que é hoje a França, no ano de 841: dois exércitos francos rivais, encontrando-se face a face em 23 de junho, não queriam arriscar lutar no dia da festa de São João. Então, eles concordaram em adiar a batalha até o dia seguinte!

Hoje, o antigo costume de acender fogueiras na véspera do dia de São João pode ser visto em lugares de todo o mundo, especialmente na Europa. Dessa forma, reconhecem João e seu anúncio de Jesus, que é “a luz do mundo” (Jo 8, 12). Que essas fogueiras tenham as suas raízes em um ritual pagão não tira em nada a honra que a maioria dos participantes, hoje, presta a São João Batista.

João foi o arauto de Cristo, “uma voz que clama no deserto: ‘preparai o caminho do Senhor’” (Mt 3, 3). Mas ele também era muito mais. O Batista forneceu um modelo de santidade heroica. Ele condenou publicamente a hipocrisia e a imoralidade, chamando a todos ao arrependimento. Ele desafiou a ganância e o materialismo de sua época, seguindo uma vida de pobreza, simplicidade e abnegação que inspirou não apenas os seus contemporâneos, mas também os pioneiros posteriores do monaquismo cristão.

Onde quer que João fosse, ele estava cercado por grandes multidões e seguidores, alguns pensavam até que ele era o Messias. No entanto, ele não se aproveitou dessas pessoas. Em vez disso, ele lhes disse claramente que não era quem pensavam que ele era, e que eles deveriam experimentar uma conversão de coração em preparação para o Messias (Jo 1, 19-27).

 

Fonte: Canção Nova

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