A Imagem

Imagem da Catedral de Luz

A preciosa imagem barroca entronizada no altar-mor da Catedral de Guarabira como padroeira diocesana tem suas origens no estilo artístico predominante nas imagens sacras do século XVIII. Os aspectos presentes no cabelo, na face, no manto e no pingente do manto são compatíveis com o estilo característico de um santeiro brasileiro que produziu inúmeras obras durante o século XIX. José Joaquim da Veiga Valle nasceu em Pirenópolis, Goiás, no ano de 1806 e começou sua produção de imagens sacras em 1830. Conforme podemos perceber no comentário de Raquel Machado, o estilo veigavalliano é rico e se identifica com a imagem de Guarabira:

“Podemos apontar muitas características do estilo veigavalliano, tais como: as imagens serem de baixa estatura, o tronco curto, a cintura alta, os ombros estreitos. As expressões faciais são doces, há um semblante sereno e suavidade no olhar. A cabeça é inclinada para um dos lados, os rostos são ovais, sem detalhes de ossos e veias nas mulheres. Nas imagens masculinas, os ossos do rosto são mais visíveis. A carnação é brilhante e luminosa, creme claro ou amarelado e rosado nas faces. A testa é ampla, lisa e sob os cabelos. As sobrancelhas são finas e levemente arqueadas. Os olhos são de vidro, escuros, de formato oriental com aparência de olhos empapuçados. Há também olhos que não são de vidro. O nariz é reto e afilado, as narinas alongadas. A boca é pequena, bem desenhada, os lábios cheios e vermelhos. O queixo é proeminente e redondo. As orelhas ficam a mostra em 60%, em algumas imagens estão totalmente descobertas. Os cabelos são partidos ao meio, tratados em fios riscados, formando mechas encaracoladas e sinuosas, que caem até a altura dos ombros”

Embora Veiga Valle não assinasse suas peças, especialistas afirmam que dentre as características mais empregadas pelo artista, um detalhe único é o que se faz perceber na mão da imagem, em formato de espátula que conservando unidos os dedos indicador e anelar formam dois “v” revelando uma marca do escultor, que se faz presente em todas as suas imagens e assinala as iniciais de seu nome, Veiga Valle, como verificamos na imagem de Nossa Senhora da Luz.

Para explicar a chegada da imagem goiana às terras guarabirenses, Heliana Angotti Salgueiro defende que muitas imagens do santeiro foram produzidas para a Nordeste, sendo um acentuado número de encomendas destinadas aos estados de Pernambuco, Paraíba e Bahia. Provavelmente estas imagens eram compradas para ornar igrejas de construção ou ampliação recentes, que por ventura necessitavam de imagens mais dignas às proporções dos templos. “Outro fator relevante é o incentivo, registrado em cartas pastorais compostas por Dom Perdigão, em favor do embelezamento da liturgia e dos espaços celebrativos expresso em reformas protagonizada por ele junto ao seu clero e colaboradores da Diocese de Olinda, da qual pertencia a cidade de Guarabira”. Por isso, podemos acreditar que em meados do século XIX (1830-1870), devido às ampliações e melhorias estruturais realizadas na antiga matriz de Guarabira, a primitiva imagem de Nossa Senhora da Luz tenha se perdido no tempo, graças ao seu desgaste natural, dando espaço à imagem conhecida pelas gerações atuais que muito provavelmente é uma obra de Joaquim da Veiga Valle, conforme advoga a pesquisa do Pe. Reinaldo Miguel Calixto.

Detalhe em “V” na mão da imagem

 

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