Sagrado Coração de Jesus, a devoção antídoto para o mundo ferido

A devoção ao coração chagado de Jesus se origina no século XI, quando cristãos piedosos meditavam sobre as cinco feridas de Jesus na cruz.

CORAÇÃO DO HOMEM NA OBRA FONTE INESGOTÁVEL

Deus, ao nos criar, colocou em nosso coração um certo desejo natural de autopreservação que nos permite, em suma, agir prudentemente para conservar a nossa vida diante de um perigo iminente, não arriscando-a levianamente, afinal, a vida é o primeiro dom que recebemos do Criador, e deve ser respeitada e conservada de modo justo e equilibrado.

Apenas tomando consciência do valor intrínseco que cada um de nós possuímos, por nossa dignidade de imagem e semelhança divinas, é que podemos viver o ensinamento máximo do Evangelho, que nos diz para amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.

Entretanto, este desejo de autopreservação muitas vezes encontra-se maculado pelo pecado e, por isso, apresenta-se em forma de um desequilíbrio doentio, que tende a transformar-se em pusilanimidade e fechamento ao outro. Assim, o próprio bem-estar e conforto tornam-se valores intocáveis, que não poderão ser perdidos nunca, seja qual for a necessidade que venha a surgir. Em resumo, a autopreservação desordenada transforma-se em egoísmo e perversão, palavra que, em sua raiz, per versus, quer dizer “voltado para si mesmo”.

Como antídoto para a cura deste mal que deseja corromper a nossa alma e afastá-la de sua plena realização, que é a santidade, não há outra via mais eficaz, a não ser mergulharmos em outro coração, este, com “c” maiúsculo: “O Sagrado Coração de Jesus, transpassado pelos nossos pecados e para nossa salvação, (…) considerado sinal e símbolo por excelência (…) daquele amor com que o divino Redentor ama sem cessar o eterno Pai e todos os homens” (CIC, §478).

A Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, é uma das três solenidades do Tempo Comum, festejada na segunda sexta-feira após Corpus Christi, cuja devoção foi fomentada através das revelações de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque, no século XVII, embora os primeiros escritos mencionando esta veneração ao lado aberto de Jesus tenham origem por volta dos séculos XI e XII, nos mosteiros beneditinos e cistercienses, por meio da devoção às Santas Chagas de Cristo, como nos apontou São Bernardo de Claraval: “O mistério do coração abre-se através das feridas do corpo; abre-se o grande mistério da piedade, abrem-se as entranhas de misericórdia do nosso Deus”. Esta devoção, por fim, propagou-se com mais rapidez a partir de meados do século XIX, quando o Papa Pio X estendeu esta festa para toda a liturgia da Igreja, mas sua primeira celebração litúrgica foi realizada na França, em 20 de outubro de 1672.

Dentre as inúmeras graças colhidas desta magnífica devoção, ao contemplarmos o Sagrado Coração de Jesus, fonte inesgotável de amor, temos a nossa vida transformada e podemos ser curados de nossos egoísmos e perversões. Como nos ensina o Papa emérito Bento XVI no livro Guardare al Crocifisso“A autopreservação, a manutenção de si é o papel do coração. O coração transpassado de Jesus realmente transformou tal definição. Este coração não é auto conservação, mas é autodoação. Este salva o mundo abrindo-se. Tal transformação operada pelo coração aberto é o conteúdo do mistério pascal. O coração salva, sim, mas salva entregando-se. Neste coração de Jesus é, assim, colocado diante de nós o centro do Cristianismo. Nele é dita toda a novidade realmente revolucionária que acontece no novo pacto. Este coração invoca o nosso coração, nos convida a sair da inútil tentativa da auto conservação e encontrar no amar juntos, no dom de nós mesmos a Ele, a plenitude do amor que é eternidade e que somente assim conserva o mundo”. 

Como vimos, o Sagrado Coração de Jesus nos ensina a nova dinâmica evangélica, trazida ao mundo por Jesus, que é a doação e a abertura ao outro como verdadeira fonte de preservação da vida: “Todo o que procurar salvar a sua vida irá perdê-la; mas todo o que a perder irá encontrá-la” (Lc 17,33). Tal enunciado supera o conceito natural de autopreservação para elevá-lo ao patamar celeste: o valor verdadeiro da vida é encontrado ao fazê-la um dom a Deus e aos outros.

A vida cristã é repleta de oportunidades para encarnar este ensinamento de autodoação, à semelhança da oferta total de Jesus Cristo, e a Solenidade que celebramos hoje é o dia propício para pedirmos esta renovada graça ao Senhor. Sejamos, portanto, imitadores deste Coração misericordioso e sempre aberto aos outros, e ajudemos a difundir esta belíssima devoção.

Jesus manso e humilde de coração, fazei do nosso coração semelhante ao vosso!   

Fonte: Comunidade Shalom

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