Por que o cristianismo deu origem ao melhor modelo de herói?

O verdadeiro herói cristão não é aquele que age apenas pelo gosto da aventura ou para responder a uma demanda social. É antes aquele que sente-se impelido a agir para cumprir uma vontade superior. E para oferecer ao homem aquilo de que ele realmente precisa.


Qual modelo de herói é mais adequado ao coração do homem? Qual modelo de herói corresponde melhor aos desejos do homem? Além disso, qual modelo de herói reflete com mais autenticidade a verdade sobre o homem? Para responder a essas perguntas, consideremos apenas dois modelos, o moderno e o medieval, entendendo por medieval aquele que se refere à sociedade cristã.

Comecemos pelo primeiro modelo. O herói moderno age apenas numa perspectiva “horizontal”, ou seja, colocando como único objetivo a realização de um mundo mais justo. Trata-se, portanto, de uma ação que parte de um pressuposto bem preciso, ou seja, que o homem precisa apenas realizar as suas aspirações materiais. Nesta perspectiva, não é de admirar que as ações dessas personagens sejam tudo menos edificantes. Estabelecer como único objetivo o aperfeiçoamento da vida terrena significa subordinar a grandeza individual, tornar cada homem útil a um projeto ideológico. É uma negligência voluntária do coração do homem e das suas questões mais profundas. Nessa perspectiva, a própria vida do “herói” torna-se pura alienação. De que adianta, de fato, sacrificar-se por um ideal, se esse mesmo ideal não pode servir ao homem e também a si mesmo? Qual é o sentido de se sacrificar, de fazer um apelo a si mesmo, se depois é preciso convencer-se de que se é apenas um animal um pouco mais evoluído, cuja vida se reduziria apenas ao “aqui e agora”?

“Percival em busca do Santo Graal”, por Ferdinand Leeke.
O modelo do herói cristão, representado na sua plenitude pelo cavaleiro medieval, é, ao contrário, completamente diferente. É um homem que luta para ajudar os mais fracos, para eliminar abusos e injustiças, mas sabe que a sua ação não pode se esgotar nisso. Ele sabe que a principal necessidade do homem não é alimentar-se (necessidade sem dúvida importante, mas não determinante), mas responder às perguntas fundamentais, encontrar o seu verdadeiro lugar na vida, na realidade e na história. 

Vejamos dois exemplos famosos do modelo de herói cristão. Trata-se de personagens imaginárias, mas verdadeiras. Imaginárias, porque não existiram realmente; verdadeiras, porque são realmente representativas do modelo de herói cristão.

O primeiro é Percival, da saga bretã. A ele é dada a tarefa de procurar o Santo Graal. Atenção: neste caso, o Graal não é o objeto mágico por excelência (como muitas vezes se pensa erroneamente), mas o objeto que remete ao verdadeiro sentido da vida, ou seja, o cálice que Jesus usou na primeira Missa da história e que conteve o seu Sangue. Portanto, um objeto que remete à razão da vida de cada um, razão que não pode estar senão no Sangue redentor do Verbo encarnado.

Bem, Percival é escolhido para essa tarefa por um motivo bem específico: porque é puro, porque não foi contaminado pelo pecado. Isso significa que a sua força não está nas capacidades musculares ou habilidades técnicas, mas no seu coração. Ele, portanto, se lança na verdadeira busca pela Vida. Obviamente, quando se depara com a miséria humana, inclina-se diante dela, procurando aliviar as feridas humanas, mas ao mesmo tempo não esquece que a verdadeira ajuda que pode dar aos irmãos é dar-lhes a verdadeira razão da vida, representada (justamente) pelo Santo Graal.

Frodo Baggins, na adaptação de “O Senhor dos Anéis” dirigida por Peter Jackson.

Outro exemplo que podemos dar — também imaginário, mas verdadeiro, no sentido que mencionamos anteriormente — é o de Frodo, protagonista do famoso romance O Senhor dos Anéis, do inglês J. R. R. Tolkien, um católico convicto. Frodo é chamado a uma tarefa enorme, mas decisiva: destruir o anel do poder, que simbolicamente representa a essência de todo o pecado, ou seja, a pretensão do homem de se tornar Deus. Frodo (por si só) não gostaria de realizar essa tarefa, ele que (como todos os hobbits) ama tão somente a vida doméstica e campestre do condado; mas ele sente que não pode recusá-la, por ser algo que só ele pode realizar.

Além disso, Frodo é um hobbit, ou seja, um “meio homem”, um homenzinho de baixa estatura, que obviamente não tem força por natureza; ao contrário, por natureza é muito fraco. Apesar disso, ele assume a missão, certo de que tudo se realizará confiando não em si mesmo, mas em algo mais. Aqui há — não por acaso — uma semelhança evidente com a figura de Davi, que decidiu recusar a armadura e enfrentar Golias sem nada, sabendo muito bem que a sua única arma seria a força do Senhor.

Portanto, o verdadeiro herói cristão não é aquele que age apenas pelo gosto da aventura ou para responder a uma demanda social, mas aquele que sente-se impelido a agir para cumprir uma vontade superior… e para oferecer ao homem aquilo de que ele realmente precisa.

Fonte: padrepauloricardo

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