O testemunho de São João Batista

São João Batista

 

Por Dom Vital Corbellini – Bispo de Marabá – PA

A pessoa de São João Batista esteve muito presente nos evangelhos e na pregação da Igreja antiga. Ele ganhou considerações da parte de Jesus, por ser ele o precursor do Messias, preparando as pessoas para que Jesus fosse bem acolhido entre o povo. A liturgia lhe concedeu leituras que são proclamadas nas comunidades para serem aprofundadas, meditadas no tempo do advento, do natal e no tempo comum. No mundo atual é fundamental dar testemunho de Jesus, da Igreja, porque é preciso viver a Palavra de Jesus na família, na comunidade e na sociedade. Como João, testemunhamos o Senhor na realidade atual.

Testemunho da Luz

É fundamental a compreensão da palavra testemunho que vem do verbo latino: testificari, do substantivo testimonium cujo significado é testemunhar, atestar, pessoa que viu, assistiu o fato e declara a verdade das coisas[1]. João testemunhou Jesus. O Prólogo de São João (Jo 1,6-8) fala que houve um homem enviado por Deus, chamado João. Ele veio como testemunha, para dar testemunho da Luz, para que todas as pessoas cressem por meio dele. O fato era claro que ele não era a luz, mas ele testemunhou em favor da Luz. João Batista testemunhou Jesus Cristo, a luz verdadeira que ilumina todo o ser humano. Os padres da Igreja diziam que ele era uma lâmpada diante da Luz, o Senhor que dissipou todas as trevas do erro e da maldade. João testemunhou Jesus Cristo, luz verdadeira.

Cordeiro de Deus

São João Batista é também conhecido pela expressão usada na liturgia eucarística, antes da comunhão: Cordeiro de Deus. Quando ele viu Jesus que estava vindo ao seu encontro ele disse que Jesus era o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1,29). Sendo uma expressão de fé dita a Jesus por João, é a objetividade da pessoa do Senhor, o Cordeiro de Deus, único, imolado, sem mancha de pecado, na cruz para a salvação da humanidade. Muitos animais e cordeiros eram imolados por ocasião da Páscoa judaica. Mas com a vinda do Senhor e depois com o cristianismo não será mais necessária a imolação de animais, mas as atenções são dadas à imolação de Jesus como Cordeiro de Deus que na cruz ocorreu a maior manifestação do amor de Deus ao mundo. O evangelista São João coincidiu a morte de Jesus na cruz com a imolação de animais no Templo para dizer que daquele momento em diante o verdadeiro Cordeiro é Jesus, imolado para a redenção da humanidade.

Filho de Deus

João também testemunhou que Jesus era o Filho de Deus. Esta definição é sem dúvida uma das maiores manifestações que as pessoas diziam a Jesus, encontrando-se, as referências nos evangelhos. Jesus veio do Pai ao mundo, sendo gerado desde sempre por Ele. Ele é o Filho de Deus. O prólogo de São João colocou o dado que a visão de Deus não foi vista por ninguém, no entanto o Deus Unigênito que está no seio do Pai ele no-lo revelou (Jo 1, 18). Diante do pedido do discípulo Filipe que Jesus mostrasse o Pai, o Senhor respondeu que quem o viu, viu o Pai (Jo 14, 8-9). Jesus continuou a sua palavra em relação a Filipe que Jesus está no Pai e o Pai está nele (Jo 14,11). Marta também disse que Jesus era o Filho de Deus, diante do fato da morte de Lázaro, irmão seu e de Maria, pois, na ocasião, o Senhor disse que ele era a ressurreição, a vida e que ele ressurgiria Lázaro, morto já alguns dias (Jo 11, 25-27). Na morte de cruz, o centurião romano disse que Jesus era o Filho de Deus (Mc 15, 39). João Batista esteve na linha das grandes profissões de fé, de amor ditas a Jesus, como Filho de Deus na carne.

João disse a Jesus que ele deveria ser batizado pelo Cristo

São Gregório de Nazianzo, bispo de Constantinopla, século IV tendo como base o evangelho de Mateus, disse que João relutou quando Jesus se aproximou dele para ser batizado, pois ele desejava ser batizado pelo Senhor (Mt 3,14). Se João tentou resistir, Jesus insistiu. Jesus não tinha pecado, mas ele assumiu com o seu batismo o pecado da humanidade. Ele santificou as águas do Jordão, para assim iniciar a todos nos sacramentos mediante o Espírito e na água. São Gregório de Nazianzo disse também que João era uma lâmpada diante do Sol, a voz à Palavra, o amigo ao Esposo, o maior entre todos os nascidos de mulher ao Primogênito de toda a criatura, aquele que estremeceu de alegria no seio materno de Isabel ao que fora adorado no seio de Maria, sua Mãe, o Precursor diante do Salvador[2];

João Batista e Elias

Jesus pediu o silêncio aos discípulos Pedro, Tiago e João ao descerem da montanha, quando Jesus foi lá para a transfiguração solicitando a eles que não contassem a ninguém até que Ele tivesse ressuscitado dos mortos. No entanto os discípulos perguntaram a Jesus o fato de que primeiro deveria vir Elias, que eram as afirmações dos escribas, segundo eles. Mas Jesus afirmou aos seus discípulos que Elias restaurará tudo e tinha vindo, mas ele não recebeu o reconhecimento. As autoridades fizeram tudo com ele com o que desejavam dele. Jesus disse que também o Filho do Homem sofreria por causa deles. Os discípulos entenderam que Jesus lhes falava de João Batista (Mt 17,9-13). Elias veio primeiro, na pessoa do Precursor, João Batista e o Senhor passará pelo sofrimento, a cruz, para chegar à glória da ressurreição.

João e Jesus

Jesus disse às multidões que João Batista era uma pessoa simples, mais que um profeta, porque ele foi mandado por Deus para preparar o caminho do Senhor. Ele seria o maior entre os nascidos de mulher, no entanto o menor no Reino dos céus era maior do que ele (Mt 11, 7-11). Jesus é maior que João Batista, porque ele veio de Deus para redimir a toda a humanidade.

O testemunho de João Batista reforça sempre a necessidade de viver a Palavra de Jesus no mundo de hoje. O testemunho coloca a necessidade para a realização do bem na família, na comunidade e na sociedade. Nós somos chamados a amar a Deus, ao próximo como a si mesmo.

[1] Cfr. Testimòne, testimònio. In: Il vocabolario treccani, Il Conciso. Milano, Trento, 1998, pgs. 1778-1779.

[2] Cfr. Dos Sermões de São Gregório de Nazianzo, bispo. Oratio in Sancta Lumina, 14-16. 20. PG 36,350-351. 354. In: Liturgia das Horas, I. Aparecida SP, Editora Vozes, Paulinas, Paulus, Editora Ave-Maria, pg. 574.

Fonte: vaticannews.va

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