Cristologia em Santa Teresinha: “Ela não fala de si, mas de Deus na vida dela”
A cristologia em Santa Teresinha é uma experiência que nasceu com o mistério da própria vocação da santa.
[,,,]Daniel Ramos, aprofundou a dimensão da cristologia na vida desta santa doutora da Igreja, que tem como chave de leitura da própria vida o Amor esponsal e materno.
Em “História de Uma Alma”, Teresinha começa a cantar o cântico que repetirá eternamente as misericórdias do Senhor. Ela não fala de si, mas de Deus na vida dela, de Deus que transforma alguém fraco em santo”, frisou Ramos, doutor em teologia e membro do Instituto Parresia, braço acadêmico da Comunidade.
“A cristologia em Santa Teresinha é uma experiência que nasceu com o mistério da própria vocação da santa. Deus a chamou não porque ela merecia, mas porque queria estar com ela. Da mesma forma acontece em nossa vida. “Deus é simples. As coisas complicadas acabam confundindo nossa cabeça. ‘Não complique porque Eu não complico, quero estar contigo”, apontou Ramos.
No decorrer da formação, Ramos chamou a atenção para os seguintes aspectos cristológicos na pequena via do amor:
Jesus entre os pecadores
“Jesus queria estar com os pecadores. A própria presença dele já mudava as pessoas. Para o mundo judaico da época, só o fato de entrar na casa de um impuro se tornava impuro. Jesus era conhecido como um beberrão e comilão. ‘Este homem come com os pecadores e os acolhe bem’, diziam. Isso era um escândalo”
Abertos à graça
“Às vezes nossa vida não muda, porque nos fechamos à graça. Deus nos chama para estar com Ele e, a partir disso, anunciá-Lo. Nos fechamos nas nossas dores. Mas o Senhor não quer nos salvar isoladamente, Ele quer que nos encontremos. Quando você sai de casa, você faz uma violência de coração e isso te predispõe à ação de Deus”.
Vida de graça
“Para ser santo é preciso se expor ao olhar de Deus, correr o risco da graça, A graça nos faz viver grandes aventuras. Com Deus não tem monotonia. A vida inteira de Santa Teresinha foi de amor a Jesus”
Remorso x arrependimento
“Existe uma diferença entre o remorso e o arrependimento. O remorso é centralizado sobre o seu próprio ego – ‘eu não cumpri minhas obrigações etc’ – e conduz ao desespero, como aconteceu com Judas, ou à perda na esperança de que se pode ser santo. Sob a capa de humildade, um grande orgulho: o remorso. Já com o arrependimento é diferente: ‘eu Te feri, Senhor. Eu magoei a minha esposa, os meus filhos, os meus irmãos’. Isso me faz decidir ser melhor para não fazer mais aquilo. Jesus olhou para Pedro, amando-o. Jesus permitiu que Pedro fosse joeirado pelo demônio. Mas a partir disso, Pedro confirmou os irmãos”.
Caridade como chave da vocação
“Ela antecipa a graça do Concílio Vaticano II: cada uma das funções na Igreja não são nada sem o amor. A caridade é a vida excelente que conduz a Deus. Santa Teresinha encontra o repouso: a caridade é a chave da minha vocação. Todas as vocações particulares só possuem sentido se estiverem ligadas à vocação universal: ser santo, amando a Deus e amando o próximo. Santo não é quem nunca cai, mas que sempre se levanta”.
Legalismos
“Nos perdemos em legalismos, nos centralizamos em nós mesmos, fechados em nossas bolhas, vestindo uma couraça que não é a da justiça. Passamos a vida inteira lutando pra não ser ferido, enquanto que Jesus expõe o próprio coração. Precisamos ser família. Ainda julgamos muito. Somos muito injustos quando condenamos os irmãos”
Ascese de amor
“A nossa ascese é de nos deixar amar. Ascese em vista de um encontro, mas não pra mostrar nada a ninguém. As vezes vamos nos relacionando com o Estatuto, mas não nos relacionamos com uma lei, mas com Jesus. É por isso que não mudamos. A gente muda quando se arrepende, dor de ferir aquele que meu coração ama”.
Esponsalidade
“As coisas mais maravilhosas neste mundo estão revestidas de simplicidade: aparência de hóstia, gosto de pão, mas é Jesus. A Eucaristia é um sacramento esponsal. No ato conjugal, o esposo entrega seu corpo à esposa. O esposo de nossa alma entrega o seu corpo para nós. Tocamos no corpo de Jesus e damos nosso corpo a Jesus. Esse é o maior momento de amor. Assim, diz Teresinha: ‘Senti-me amada. Eu vos amo, dou-me a vós!’”
Fonte: Comunidade Shalom