Como as indulgências ajudam as almas do Purgatório?
As indulgências pro defunctis são como “uma mesa enorme, coberta de pilhas de prata, ouro, rubis, pérolas e diamantes”, à disposição de todos os fiéis, para aplicarem às almas de seus entes queridos que partiram na amizade de Deus.
Falemos agora das indulgências aplicáveis aos defuntos. Aqui, a divina misericórdia revela-se em sua liberalidade. Sabemos já que a indulgência consiste na remissão, fora do sacramento da Penitência, da pena temporal devida ao pecado, por força do poder das chaves. Em virtude desse poder, recebido diretamente de Jesus Cristo, a Igreja é capaz de livrar os fiéis de todos os obstáculos à sua entrada na glória celeste. A Igreja exerce tal poder no sacramento da Penitência, no qual somos absolvidos dos nossos pecados; mas ela também o exerce fora desse sacramento, ao nos perdoar a dívida temporal que permanece mesmo depois da absolvição sacramental. E é pelas indulgências que a Igreja atua neste segundo caso.
A remissão da pena temporal por meio das indulgências está ao alcance dos fiéis apenas nesta vida. No entanto, a Igreja pode permitir aos fiéis, enquanto ainda vivem neste mundo, que transfiram a algum de seus entes queridos a remissão que, por este meio, poderiam angariar para si. É isto que faz uma indulgência aplicável às almas do Purgatório.
Aplicar uma indulgência aos defuntos é o mesmo que oferecê-la a Deus, em nome da Igreja, para que Ele se digne empregá-la em benefício das almas padecentes. Ora, as satisfações oferecidas à divina justiça em nome de Jesus Cristo são sempre aceitas, e Deus as pode aplicar a uma alma em particular, ou a certas almas que Ele mesmo deseja beneficiar, ou ainda a todas em geral.
As indulgências, além disso, podem ser ou plenárias ou parciais. É plenária a indulgência pela qual se redime toda a pena temporal devida diante de Deus. Suponhamos, por exemplo, que para satisfazermos tamanha dívida tivéssemos que fazer penitência durante cem anos ou sofrer por muito tempo no Purgatório. Em virtude de uma indulgência plenária adequadamente lucrada, toda essa pena é perdoada, de maneira que a alma já não ostenta, aos olhos de Deus, nem sequer uma sombra de pecado, que é justamente o que a impede de contemplar-lhe o rosto no céu.
A indulgência parcial, por outro lado, consiste na remissão de certo número de dias ou anos. Esses dias e anos, porém, não representam de forma alguma dias e anos de sofrimento no Purgatório. Eles devem ser entendidos, na verdade, como dias e anos de penitência canônica e pública, que consistem sobretudo em jejuns, como os que eram impostos outrora aos pecadores, conforme a antiga disciplina da Igreja. Nesse sentido, uma indulgência de “quarenta dias” ou de “sete anos” nada mais é do que a remissão que mereceríamos diante de Deus após quarenta dias ou sete anos de penitência canônica. Mas que proporção existe, afinal, entre esses dias de penitência e o período que duram as penas do Purgatório? Trata-se de um segredo que a Deus não aprouve revelar-nos.
Seja como for, as indulgências são um tesouro espiritual que a Igreja franqueia a todos os fiéis. Todos, com efeito, têm permissão para extrair daí quanto for necessário à plena satisfação de suas dívidas ou das de outros. De fato, foi com essa imagem ou comparação que Deus revelou um dia a Santa Mariana de Jesús de Paredes o que eram as indulgências [1]. Um dia, arrebatada em êxtase, ela viu no centro de um amplo espaço uma mesa enorme, coberta de pilhas de prata, ouro, rubis, pérolas e diamantes. Ao mesmo tempo, ela escutou uma voz que lhe dizia: “Essas riquezas são propriedade pública: que cada um se aproxime e tome o que quiser”. E Deus lhe deu a entender que aquela visão era um símbolo das indulgências.
Eis por que é grande a nossa culpa se, diante de tanta abundância de bens, permanecemos pobres, privando-nos a nós mesmos e recusando-nos a ajudar a outros. Não! As almas do Purgatório padecem extrema necessidade, elas nos suplicam com lágrimas no meio de seus tormentos. E se temos meios para satisfazer, com indulgências, as dívidas que contraíram, por que nos esforçamos tão pouco para pagá-las?
Abrir esse tesouro por acaso é custoso ou exige dolorosíssimos esforços, como jejuns e privações insuportáveis à natureza? Ora, “ainda que fosse assim”, diz com razão o eloquente Pe. Segneri, “deveríamos estar dispostos a suportá-lo. De fato, não vemos como os homens, por amor ao ouro perecível, a fim de preservar uma obra de arte, para salvar parte de sua fortuna ou propriedade, se expõem às chamas e ao fogo? Não devíamos nós, portanto, esforçar-nos igualmente para salvar do fogo expiatório aquelas almas resgatadas pelo Sangue de Jesus Cristo?”
A bondade divina não nos pede nada extremamente doloroso: o único que exige de nós são obras tão ordinárias e simples como um Terço, uma comunhão, uma visita ao SS. Sacramento, uma esmola ou uma aula de catequese sobre os rudimentos da fé aos órfãos. E no entanto descuidamos de lucrar bens tão preciosos, e por meios tão fáceis, que poderíamos facilmente aplicar, quem sabe, a um pobre parente falecido que geme hoje nas chamas do Purgatório!…