A hierarquia necessária na vida ordenada

Infelizmente, estamos passando por tempos bastante turbulentos. Tempos em que as coisas mais óbvias e naturais precisam ser explicadas e defendidas. Parece que o tão almejado senso crítico das pessoas não está realmente aguçado, ao contrário, funciona com efeito rebanho – para ser crítico basta se opor ao que é tradicional, construído ao longo dos séculos. Qualquer movimento diferente que venha com um discurso que se opõe a tradições e tenha um vocabulário aprazível conquista o coração das pessoas que sequer pensam o básico: o que se ganha, o que se perde, o que está por traz desse discurso que me é apresentado? Muitos simplesmente entram na onda.

Isso é senso crítico ou pura limitação do poder de análise? Eu convido a refletir sobre isso comigo.

Dias atras, eu me deparei com um artigo com o seguinte título: “Dia das Crianças: é hora de enxergar e tratar nossos filhos sem hierarquia. – Pedagoga defende ‘Educação Positiva’ para uma infância com menos traumas e mais autonomia.”. Eu li e reli esse título e não consegui me conformar: realmente é possível acreditarmos que é um bem não termos uma relação hierárquica entre pais e filhos? Mais do que isso: educar usando a sabedoria e conhecimento já adquiridos traumatiza e tira a autonomia da criança? Creio que quase ninguém use verdadeiramente seu poder de análise para considerar com seriedade essas ideias, pois senão não teríamos hoje essa imensa crise em que estamos metidos – pais perdidos, crianças desorientadas, famílias caóticas, suicídios em alta e jovens profissionais incompetentes – levando pais a entrevistas de trabalho, não dando conta dos desafios e exigências naturais da vida profissional enfim…. tudo o que estamos vendo com bastante tristeza.

A Hierarquia é o princípio sobre o qual se constrói qualquer possibilidade de ordem. Para podermos ordenar o tempo, os espaços e a vida, é absolutamente necessário identificarmos uma ordem de importância, uma hierarquia.

Em uma relação entre pais e filhos, se considerarmos saudável suprimir a hierarquia, significa dizer que ambos têm a mesma condição de opinião, de expressão e de decisão. E o que mais me surpreende é que se possa considerar isso, em primeiro lugar possível e, em segundo lugar, um bem para as crianças.

As crianças, ao nascerem, vivem um verdadeiro caos: não têm nenhuma condição de se manterem vivas sozinhas, precisam de um adulto competente para poderem sobreviver. Tal adulto vai, aos poucos, criando rotina e ordenando a vida da criança para que se torne viável e gradativamente vá conquistando habilidades, competências e por fim autonomia. Quando o adulto abdica dessa posição hierárquica, a criança somente perde: perde segurança, perde cuidados básicos, perde orientações necessárias para a vida, perde a tranquilidade de se sentir cuidada e conduzida até que aprenda os critérios necessários para começar os exercícios de autonomia – que serão guiados até a maioridade. Acreditar que formar o caráter do filho, ensinar critérios e valores morais que o conduzam pela vida é tirar autonomia ou traumatizar é um verdadeiro absurdo, é negar aos filhos um serviço ao qual eles têm direito.

O que mais encontro, no entanto, são pais que são levados por essa mentalidade às vezes, sem nem mesmo perceberem. Chegam até a achar absurdo que alguém pregue abertamente acabar com a hierarquia, no entanto, estão tão contaminados com essas ideias que, nas situações cotidianas, agem colocando as crianças em pé de igualdade com eles. Os desastres têm sido inúmeros.

Pais, abram os olhos: a missão de vocês exige mais conhecimento, mais capacidade e discernimento. Maior sabedoria e coragem para orientar e servir aos filhos. Isso os coloca necessariamente em uma posição hierárquica superior para o benefício das crianças. Não neguem a eles esse direito.

Fonte: O São Paulo

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